Chapeuzinhos Coloridos — José R Torero e Marcus A Pimenta


José Roberto Torero e Marcus Pimenta, em Chapeuzinhos Coloridos, recontam de maneira diferente um dos contos de fadas mais conhecido — Chapeuzinho Vermelho que é transformado em uma história contemporânea.

Representada por seis meninas de diferentes cores de capuz; seis vovós mais espertas e decididas a driblar a morte e seu destino; seis lobos (ainda) maus, mas determinados a quebrar a tradição literária e mudar seu perfil de vilão para herói e, por fim, os seis caçadores que enfrentando seus próprios medos, aparecem no momento crucial mais atentos e determinados a salvar netinhas e vovós do final trágico, objetivando um “dindim” extra e um final feliz  para ele também.

As histórias abordam temas atuais como obesidade, fama, gulodice,  dinheiro... De fato, pode-se dizer que o desfecho das histórias reflete temas polêmicos da sociedade atual, como o que acontece na história de Chapeuzinho Azul (menor de idade) onde ela e sua avó após terem comido o lobo assado no forno são presas e acusadas de matarem animais em extinção, entretanto,  após a mãe da menina pagar a fiança, tudo fica bem, exceto para a vítima — o lobo.

O fato é que embora a personagem Chapeuzinho Vermelho tenha se destacado como protagonista no decorrer de décadas, é inegável a expectativa do leitor que após ler, reler e reavaliar o personagem vilão (o lobo que tem sua parcela de contribuição no sucesso da obra), lança um olhar diferente à procura de novas leituras que trabalhem com o mundo da imaginação, mas que desconstruam as imagens estereotipadas do vilão e do herói dos contos de tradição literária.

Segundo os próprios autores, Chapeuzinhos Coloridos tem a intenção de recriar a história da Chapeuzinho Vermelho usando o mesmo esqueleto básico, cuja heroína é representada por uma menina chamada Chapeuzinho.... São seis histórias e cada uma inicia com uma garotinha que sempre usa a mesma capa colorida com capuz que ganhou da avó que, por sua vez, mora sozinha no meio da floresta; a pedido da mãe leva doces para a vovó; no caminho encontra o lobo mau que lhe indica um atalho para desviá-la do caminho recomendado pela mãe que também lhe aconselhara a não falar com estranhos;  um caçador que, tradicionalmente, aparece para resgatar neta e vovó da barriga do lobo adormecido. 

Em Chapeuzinhos Coloridos, as semelhanças desaparecem à medida que a história vai se desenrolando, tomando um rumo diferente do original, onde cada chapeuzinho apresenta uma lição de vida totalmente diferente da história original.

Assim, no primeiro conto A Chapeuzinho Azul e a vovó enganam o Lobo e ele é vítima de um plano infalível com um destino trágico —  tornando-se o prato predileto tanto da avó quanto da neta. No entanto, o caçador que por ali passava, não imaginava que viria o lobo (uma espécie rara em extinção) em pedaços, sendo saboreado por aquelas duas. Levou-as para a delegacia e, claro, no dia seguinte a mãe de chapeuzinho paga fiança e assim elas são soltas e, com exceção do lobo, todos ficaram felizes para sempre.
Moral da história:
Não se devem matar os animais, ainda mais se eles estiverem em extinção.

Por sua vez, a Chapeuzinho Laranja representa  uma menina gordinha, de grandes bochechas e gulosa que, a pedido da mãe, leva uma torta de abóbora com cobertura de chantilly e “uma cereja” em cima para sua avó.  No final da história, Chapeuzinho, a avó, e o caçador acabam sendo engolidos pelo  lobo. Como  o caçador era salgado, o lobo decidi engolir a torta e ao perceber que a cerejinha ainda estava ali e piscava para ele, engoliu-a rapidamente, mas explodiu!  E assim, todos acabam em pedaços para sempre.
Moral da história:
Nunca se deve comer a ultima cerejinha.

Já a Chapeuzinho Verde (Verde-dólar) é ambiciosa e faz tudo por dinheiro, tanto que para ganhar alguns trocados, venderia sem problemas a torta de limão que levava para sua vovó. O lobo convence a menina a pegar o caminho mais longo que tem uma fonte com moedas, as quais ela pode pegar. Assim, o lobo após devorar as duas tira uma soneca e é morto pelo caçador que pensa em  ficar rico com sua pele. Ao descobrir que a neta e a vovó ainda estão vivas, aproveita e negocia um preço pelo seu serviço (na história original sua obrigação é salvar as duas): as joias da avó e as moedas da menina.  
Moral da história:
O dinheiro não traz felicidade e atrai um monte de malandros.

Na quarta história, a Chapeuzinho Branco é triste, porque ficou órfã de pai. Aqui o lobo não precisa fazer rodeios para cumprir seu papel — comer vovó e neta. Entretanto, em uma reviravolta do enredo, após lobo e chapeuzinho, num momento de recaída, chorarem juntos,  a felicidade volta a reinar, quando sua mãe e o caçador retomam um grande e antigo amor e se casam. O Lobo pede à família de Chapeuzinho Branco que o adote como um Lobo de estimação, pois está cansado de ser um Lobo solitário.
Moral da história:
Ninguém gosta de ficar sozinho.

A Chapeuzinho Lilás quer ser famosa, não leva doces para sua avó, mas sim revistas de fofoca, e seu programa predileto é ver novela. Neste conto o lobo tem uma crise de consciência e deixa de lado tudo o que até agora lhe foi atribuído comer a vovozinha e a chapeuzinho. Ele pensou: “Que coisa horrível eu vou fazer: comer essa pobre velhinha! Não, não farei isso! Está na hora de mudar as coisas!
Moral da história:
Se falam mal de alguém, deve ser verdade.

A última história do livro a Chapeuzinho Preto leva jabuticabas para sua vovozinha e  no meio do caminho encontra o Lobo que sugere que ela vá pelo caminho mais longo, já que ele é cheio de flores chamadas sempre-vivas e com isso ele chega primeiro à casa da velhinha que já o esperava ansiosamente para ser devorada.

A menina ao chegar à casa da vó faz as perguntas clássicas a si mesma diante do espelho e é ela mesma quem dá as novas respostas. Ao ser questionado, o lobo se identifica como Lobo dos lobos, mas conhecido como tempo. Os dois comem jabuticabas juntos e vão tirar uma sonequinha. O caçador não consegue matar o Lobo e este sugere que sejam amigos enquanto o dia do caçador ser devorado não chega. E dizendo isso, o lobo pegou as duas jabuticabas que sobraram, deu uma para o caçador, outra para Chapeuzinho, e saiu pela janela dizendo: Até breve! E assim todos ficaram felizes.
Moral da história:
Devemos comer as jabuticabas bem devagar e aproveitar cada uma.

O leitor além de se divertir com as novas histórias de Chapeuzinhos Coloridos, também vai cantarolar as novas musiquinhas que são totalmente diferentes da clássica  “Pela estrada afora eu vou tão sozinha, levar esses doces para a vovozinha”, mostrando  assim a  nova  maneira de cada chapeuzinho ir pela estrada afora...




Poder-se-ia dizer que as novas características atribuídas aos personagens podem fazer toda a diferença , pois à medida que o leitor mergulha na história, sente-se seduzido, envolvido e motivado a comparar suas vivências reais e as sugeridas pelas personagens, funcionando como um estímulo para que o leitor use sua imaginação  e invente sua própria história. E, por que não? Afinal, como os próprios autores dizem no livro, estas chapeuzinhos representam apenas o começo, já que muitas outras podem ser imaginadas e criadas a partir daí.

Vale lembrar, ainda, que Chapeuzinhos Coloridos além de ser uma leitura que pode ser compartilhada pelos pequeninos, pelos jovens e pelos adultos, é um ótimo material a ser explorado em sala de aula, estimulando os pequeninos a reinterpretarem o conto a seu modo e usarem sua criatividade para criar suas próprias histórias.

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Ficha Técnica
Título : Chapeuzinhos Coloridos
Autores: José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta
Capa e Ilustrações: Marilia Pirillo