Coiso — David Walliams

"Às vezes pais muito gentis têm filhos que são verdadeiros monstros.” Assim começa a nova obra Coiso do roteirista e comediante inglês David Walliams, repleta da sensibilidade e do humor ácido que o tornaram um fenômeno da literatura infantojuvenil, com mais de 40 milhões de exemplares vendidos no mundo.

Nas obras premiadas a Titia é Terrível, a Vovó é Vigarista, a Dentista é sinistra e, em seu livro mais recente, Coiso, a coisa não é diferente — essa é a história de uma criança que tinha tudo, mas queria ainda mais.

Na narrativa recém-lançada pela Intrínseca, a história atribulada da família Dócil ganha vida com as belas e espirituosas ilustrações de Tony Ross, tradução para o português de Flora Pinheiro, além de um projeto gráfico criativo com intervenções visuais e brincadeiras com as fontes do texto, que deixam a leitura mais leve e divertida.

A família Dócil é, como o nome já diz, composta por pessoas muito doces e felizes. O Senhor e a Senhora Dócil são pessoas que esbanjam gentileza, um casal de bibliotecários que vivem uma vida simples, mas não tão tranquila, isso por culta de sua filha, Dora Dócil. O fato é que o sr. e a sra. Dócil fazem de tudo por sua filha, Dora, mas a menina acaba se tornando qualquer coisa — menos dócil. 



A menina está sempre querendo mais e mais e mais. Inclusive, é essa a palavra chave dessa história. David Walliams consegue trabalhar a essência de uma criatura insuportável, birrenta, mimada, rude, grosseira, sem modos ou sentimentos que ganha tudo o que pede, mas nada parece satisfazê-la.

Essa é Dora Dócil, que exige ter tudo o que pede o quanto antes ou, caso contrário, faz com que todos ao redor sofram as consequências. Não sabe o significado da palavra não. Assim, Dora passa a pedir coisas cada vez mais estranhas, como uma sunga de minhoca ou um jarro com o arroto de Albert Einstein. 

”Conforme a filha crescia, crescia e crescia cada vez mais, o Sr. e a Sra. Dócil lhe davam biscoito de chocolate atrás de biscoito de chocolate atrás de biscoito de chocolate. Mais e mais e mais. Mesmo que Dora se divertisse cuspindo as migalhas na cara deles.” (pág. 17)

Apesar de os pais de Dora serem bibliotecários, a menina não desenvolve gosto pela leitura. Livros, segundo a definição da criança, são um “T-É-É-É-É-É-D-I-O!”. Gritar com os pais e fazer exigências absurdas, sempre pedindo mais, mais, mais, parece diverti-la mais, apesar da menina ter tudo o que quer e na hora que deseja, nada aplaca sua sede por mais, ela sempre arruma mais coisas e, sem saber mais o que pedir, pediu um Coiso (Fing, no original). Isso mesmo… um Coiso! Isso em meio ao café da manhã repleto de chocolate, que também é consumido no almoço e na janta — ninguém tem coragem de dizer não a ela. 

”A aparência do Coiso é a de uma esfera peluda. […] Os coisos tem um único olho grande e dois buracos, um de cada lado. Um deles é a boca, e o outro (por falta de uma expressão mais polida) é o traseiro. Mas ninguém tem certeza de qual é qual, nem mesmo o próprio coiso, que já foi flagrado tentando se alimentar usando o buraco errado.” (pág. 68)

Após uma breve discussão sobre a natureza do pedido, toda a louça usada na refeição se espatifar no chão e, embora o Senhor e a Senhora Dócil não fazerem ideia do que era, prometem fazer essa pequena vontade para sua pequena Dora.

Para descobrir o que é um Coiso, porém, um local obsoleto precisa ser visitado: os porões de uma biblioteca, onde títulos sombrios como Tigres tristes comendo trigo, Dicionário de palavras inexistentes e Monstropédia podem ser encontrados.

É na Monstropédia que os judiados genitores encontram o significado de Coiso: “a mais rara e perigosa de todas as bestas raras, e que ele é encontrado apenas nas profundezas mais profundas da selva mais selvosa”. A missão do Senhor Dócil é trazê-lo para sua florzinha que se diverte com o desespero do homem. 

O problema é que um Coiso é um animal redondo, peludo que se parece com uma bola de pelos que muda de tamanho e tem como instinto comer ou destruir o que encontra pela frente. Mas, para realizar o desejo de Dora, os pais vão tentar mais uma vez atender o capricho da filha, enfrentando os perigos das "profundezas mais profundas da selva mais selvosa", onde habita a criatura.

Para chegar à selva mais selvosa, o sr. Dócil liga seu modo aventureiro e arruma uma mala com, entre outros apetrechos práticos, alguns de seus livros favoritos: O guia das sandálias, Edifícios entediantes da Grã-Bretanha e Cento e um poemas sobre folhas.

A travessia até o local ermo exige, para citar apenas alguns dos meios de transporte utilizados, uma asa-delta, uma ema, um jumento e uma canoa. Aos interessados em visitar esse recôndito, o autor deixa um mapa detalhado que leva até onde habitam os Coisos. 

O pai ao voltar para casa, após achar um exemplar da espécime rara, e depois de ter visto coisas como o mungo, a plude e o bungo-bungo cantarolante achatado, descobre que a mãe já tinha arranjado um coiso em um pet-shop e, mesmo assim, a filha continuava insatisfeita, querendo mais, mais, mais.

Assim o encontro de Dora com seu novo bicho de estimação não sai como o esperado, e agora os pais têm de lidar com dois monstrinhos em casa, mas para os bondosos Sr. e Sra. Dócil, vale tudo para agradar a filha querida e evitar suas crises de gritos.

Em Coiso, Walliams comprova mais uma vez seu talento para a comédia, provocando boas risadas no leitor, não só para crianças, como também para adultos. A ilustração na capa já nos dá uma boa ideia do que esperar do livro, muita confusão, situações malucas, risadas e uma estranha etiqueta prometendo um biscoito de baunilha mordido grátis.

O título e todos os detalhes em azul reagem à luz com um brilho muito bonito, assim como os personagens e doces espalhados pela ilustração.

As ilustrações são ótimas e combinam com a escrita — soltas e descontraídas —, Tony Ross consegue transformar em imagens os mais estranhos personagens saídos da mente de Walliams.

Trata-se de uma leitura rápida, divertida e recheada de humor. Crianças e adultos que gostam de piadas com "pum" e esse tipo de coisa encontrarão várias neste livro, ressaltando ainda as notas de rodapé e as observações que o autor faz interagir com o leitor,  conduzindo-o a rir muito.

O autor traz uma lição divertida sobre a vida em família e o verdadeiro lugar dos monstros. Vale dizer que, durante a leitura, talvez seja difícil não se irritar com Dora, mas na última página o leitor entenderá o motivo. Crianças na faixa dos 7 aos 11 anos podem se divertir bastante com a leitura, sem contar com os grandinhos que não dispensam uma leitura leve e alegre. Então, bora ler o livro!

  

Quem é David Walliams?

Walliams é um ator, roteirista e autor premiado. Considerado um fenômeno da literatura infantojuvenil na Inglaterra, recebeu em 2012, 2013 e 2014 o National Book Awards britânico de Melhor Livro Infantil, com as obras "Ratobúrguer", "Dentista Sinistra" e "Titia Terrível". Suas histórias, ao mesmo tempo engraçadas e comoventes, já foram traduzidas para mais de quarenta idiomas.

Walliams ganhou fama na Inglaterra com a série de comédia Little Britain (2003-2007), da qual era protagonista e cocriador, que abordava a rotina dos britânicos com paródias absurdas. Desde 2012, é jurado do programa de calouros "Britain’s Got Talent" ao lado de Simon Cowell. Em 2008, ele começou a escrever livros infantis e, desde então, já recebeu três vezes o National Book Awards britânico de Melhor Livro Infantil. Além disso, as adaptações para TV das obras "Ratobúrguer" e "Vovó Vigarista" foram indicadas ao BAFTA, mais importante prêmio da televisão britânica. 

Nome: Coiso

Autor: David Walliams

Ilustração: Tony Ross

Tradução: Flora Pinheiro

Gênero: Infantil

Editora: Intrínseca  (1ª ed.-Rio de Janeiro)

Lançamento: 25/05/2021

Preço: Livro: R$ 49,90     E-Book: R$ 34,90


Tags: Coiso, Pai, família, filhos, humor, café, chocolate, criatura. 


Outras obras do autor: Vovó Vigarista — David Walliams.