Para Onde Ela Foi? — Gayle Forman

 "Mas eu faria de novo. Faria aquela promessa milhares de vezes e a perderia milhares de vezes para tê-la ouvido tocar a noite passada ou vê-la esta manhã à luz do sol. Ou mesmo sem isso. Só para saber que ela estava em algum lugar aí fora. Viva."

Para onde ela foi é a continuação de Se Eu Ficar, sobre o relacionamento de Adam Wilde e Mia Hall após o fatídico acidente de Mia, há três anos.  Com a mesma força dramática do 1º livro, Para Onde Ela Foi aborda a tristeza da perda, a superação, a solidão, a depressão, a mágoa, o perdão, o medo de nunca mais amar ou de ser amado e o quão doloroso é viver.

A história ocorre em um único dia cheio de surpresas, que deixou de ser apenas mais um dia na vida de Adam. Ao virar as páginas, o leitor será conduzido a refletir o quanto as “tomadas de decisões” podem ser dolorosas e decisivas e o quanto as consequências interferem na trajetória de vida de qualquer pessoa.

"Quem quer que diga que o passado não está morto voltou ao tempo. É o futuro que já está morto, já acabado. Essa coisa toda foi um engano. Não vai me deixar rebobinar. Ou desfazer os erros que cometi. Ou as promessas que fiz. Ou tê-la de volta. Ou ter a mim mesmo de volta."

Assim como o primeiro livro, é impossível prever o desenrolar da história, já que em Se eu ficar o leitor não tem ideia se Mia vai realmente ficar ou decidir ir embora, e Para onde ela foi, não se tem ideia do que pode  acontecer com o casal protagonista. Uma história intensa que prenderá a atenção e despertará a curiosidade do leitor até a última linha.

Da mesma forma que o primeiro livro da saga, Para onde ela foi é narrado em primeira pessoa, só que dessa vez pelo Adam. Descreve o presente em um pequeno espaço de tempo (pouco mais de um dia), e relata algumas das memórias mais importantes do personagem, intercalando os capítulos entre presente e passado.

Conforme a história vai se desenrolando, pode-se entender o que aconteceu durante os três anos, e os efeitos que isso deixou em Adam e nas pessoas ao seu redor.  A autora utiliza-se de citações musicais como artifício linguístico, expondo trechos das músicas escritas por Adam, canções que descrevem como ele se sentiu ao longo desses últimos três anos.

Como o romance é contado pelo ponto de vista do Adam, então as palavras e pensamentos ficam um pouco mais agressivos do que no 1º livro. O fato é que Adam tinha prometido a Mia que se ela ficasse — se ela não morresse — ele faria qualquer coisa que ela precisasse, inclusive sair da sua vida, mas, na verdade, Adam não soube lidar com essa perda.

A história se passa em Nova Iorque, com uma narrativa sensível e autêntica, na qual Adam descreve o quão despedaçado está, desde o acidente devastador que mudou completamente a vida de sua então namorada Mia.

No começo, o leitor fica sabendo que Adam foi deixado por Mia e que ele tem problemas com a banda, que passou por um período conhecido por todos como o “buraco-negro da banda Shooting Star”, que foi o período de um ano em que a banda ficou sumida para depois reaparecer com “Collateral Damage”, disco que garantiu a volta da banda já nas paradas de sucesso.

Passaram-se três anos desde que Mia saiu da vida de Adam para sempre. Contudo se Mia perdeu mais do que podia suportar, Adam também sofreu as consequências dessa tragédia e da decisão cruel de Mia, afogando-se em um poço de amargura, ressentimento, frustração e solidão, que para aliviar sua dor atira-se na composição de melodias para sua banda Shooting Star.  

Você atravessa a água, me deixou para trás

Isso me matou o suficiente, mas você queria mais

Você explodiu a ponte, como uma terrorista

Acenou do outro lado, como uma turista

Comecei a seguir, mas percebi tarde demais

(Bridge/Collateral Damage/Faixa 4)

Para onde ela foi relata a vida pós-retorno do coma, superação do luto e a tomada de decisões.  O romance começa com Adam, que com a dor da perda e o sucesso repentino na Banda Shooting Star, torna-se um verdadeiro Astro do Rock rock alvo dos tabloides de Los Angeles, o qual virou uma celebridade: Excêntrico, ansioso, dependente de remédios e cigarros, cheio de manias e rituais supersticiosos e namorado de uma atriz incrivelmente linda e famosa, leva uma vida cheia de luxos, shows e viagens. Adam se afasta de quase todos ao seu redor, o que só piora seu temperamento “famoso” na mídia como “Wilde Man”.

Assim, o que antes era somente uma brincadeira com seu sobrenome, acaba se tornando algo como sua marca registrada após destruir quartos de hotéis e ter ataques de fúria com jornalistas.

O grande auge da banda Shooting Star foi com a faixa Collateral Damage, cujas músicas foram escritas por Adam no período em que estava sofrendo pelo rompimento com Mia. É notório que esse sofrimento não é apenas por seu coração estar partido, mas também por que sente falta dos pais de Mia,  que aparecem em alguns flashbacks do passado, principalmente nas cenas com Mia.

Do outro lado do país, Mia é uma estrela em ascensão da Juilliard, a conceituada escola de música, em Nova Iorque, já que Mia abandonou completamente a sua vida no Oregon, após o acidente. É através da música e sua garra que ela consegue iniciar os ensaios e buscar a perfeição, contudo, quanto mais perto ela fica da perfeição musical, mais ela se distancia de Adam, que em um primeiro momento, não percebe.

Inicialmente, quando Mia se mudou para Juilliard, eles conversavam por e-mail, mas com o passar do tempo, ela simplesmente deletou Adam de sua vida sem nada dizer.

No fundo, aquela pergunta está sempre ali, deixando a vida de Adam cada vez mais confusa e dolorida. Qual o motivo que levou Mia a deixá-lo? Por que ela não lhe deu uma explicação?

Até que em seu último dia em Nova York, um dia antes de iniciar a turnê do novo disco da banda Shooting Star, em Londres,  Adam reencontra Mia ao se deparar com um poster no Carnegie Hall, em Nova York,  com os dizeres “Concertos para jovens apresenta Mia Hall”.   

Sem pensar, Adam compra um ingresso para assistir o concerto. Seu plano era assistir sua apresentação em silêncio, matar a saudade e depois voltar para o Hotel. Porém, por ser agora uma figura pública, ele não consegue se esconder e logo é chamado por um funcionário do teatro, que lhe diz que Mia o aguarda no camarim.

“Eu pago e entro no teatro frio e pouco iluminado. Deslizo para meu assento e fecho os olhos, lembrando-me da última vez que fui a um concerto para violoncelo em algum lugar tão chique. Cinco anos atrás, no nosso primeiro encontro. Assim como aconteceu naquela noite sinto uma grande excitação, mesmo sabendo que, diferentemente daquele dia, hoje eu não vou beijá-la. Ou tocá-la. Ou mesmo vê-la de perto. Esta noite eu vou ouvir. E isso será o suficiente.”

E lá está Mia a alguns passos de distância. Esse reencontro é esperado desde o primeiro capítulo pelos leitores. Mia cancela todos os compromissos e decide apresentar a cidade para Adam. Assim, eles desfrutam de uma longa caminhada pela cidade de Nova Iorque em uma jornada de autodescobrimento e muitas revelações, antes que os dois embarquem para outros países.

"Meu primeiro impulso não é agarrá-la nem beijá-la. Eu só quero tocar sua bochecha, ainda corada pela apresentação desta noite. Eu quero atravessar o espaço que nos separa, medido em passos não em milhas, não em continentes, não em anos , e acariciar seu rosto com um dedo calejado. Mas eu não posso tocá-la. Esse é um privilégio que me foi tirado.”

Adam tem um avião para pegar no dia seguinte, irá começar sua turnê em Londres, e Mia irá começar a sua carreira de violoncelista no Japão. Os dois tem apenas aquela noite antes de seguirem seus caminhos.

Mas será que essa longa caminhada pela cidade de Nova Iorque será o suficiente para esclarecer tantas dúvidas, como a que Adam deseja saber mais do que tudo: O que ele fez de errado para que Mia cortasse todos os laços entre eles?

Conseguirão obter as respostas que não foram ditas e tentar entender como será o futuro de ambos?

Pode esse amor ser o suficiente para lidar e curar as mágoas que afetaram a vida deles e assim arriscarem a carreira conquistada durante o tempo em que ficaram separados?

 

Em uma narrativa envolvente, emocionante e surpreendente, o leitor então tomará conhecimento do que aconteceu com Mia, como foi quando ela acordou, seu processo de recuperação e a ruptura repentina com Adam. É o momento do reencontro, do acerto de contas e, quem sabe, perceber que quando há amor verdadeiro, o tempo e a distância podem não fazer a diferença.

“Fiz a coisa certa. Sei disso agora. Sempre soube, mas parece tão difícil enxergar atrás da minha raiva. E tudo bem se ela tiver raiva. Tudo bem, até, se ela me odeia. E foi egoísta o que eu pedi que ela fizesse, mesmo que terminasse sendo a coisa menos egoísta que eu já fiz. A coisa menos egoísta que eu tenho de continuar fazendo. Mas eu faria de novo. Faria aquela promessa milhares de vezes e a perderia milhares de vezes para tê-la ouvido tocar a noite passada ou vê-la esta manhã à luz do sol. Ou mesmo sem isso. Só para saber que ela estava em algum lugar aí fora. Viva.”

Pode-se dizer que Gayle Forman conduziu muito bem a história a qual flui muito melhor do que a anterior. Ela captura as emoções que os personagens estão sentindo e lidando, conduzindo o leitor a sentir tudo o que está acontecendo na história. É como se o leitor  estivesse vivenciando a dor de Adam — sua frustração, isolamento, descrença e sua falta de perspectiva para o futuro, o que em algumas vezes fazia com que ele se sentisse morto, mesmo estando vivo. É uma viagem inesquecível que ficará com o leitor por muito tempo após a história terminar.   

Para onde ela foi é uma bela reflexão sobre as surpresas que a vida pode apresentar a quem quer que seja, as quais podem afetar a trajetória de vida, dependendo, é claro, das decisões de cada um.

A possibilidade do leitor enxergar diferentes nuances é talvez o plus em Para Onde Ela Foi. Ei, será que teremos a continuação — o terceiro volume?!? Ou será que tudo o que tinha que ser dito já foi dito — “c´est fini”. 

 

Para onde ela foi?

Autor: Gayle Forman

Tradução: Santiago Nazarian

Ano: 2014

editora: Novo Conceito

Preço: A partir de R$ 39,90


Tags: Se eu ficar, Mia, Adam, músicos, Juilliard School, Nova Iorque, banda Shooting Star, Carnegie Hall.


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