A Bela e a Adormecida - Neil Gaiman

Primeiro lugar na cobiçada lista dos mais vendidos do The New York Times, o livro A Bela e a Adormecida, lançado pela Editora Rocco em 2015, não é um conto de fadas com desfecho tradicional, muito pelo contrário, traz uma das melhores reviravoltas de roteiro em histórias desse gênero. O leitor vai se deparar com um castelo; anões; uma princesa adormecida;  uma bruxa... Mas, e o famoso príncipe herói montado em um cavalo branco que precisa salvar a mocinha? Bem... nesta história, não haverá um herói, mas sim uma rainha — uma mulher forte, dona de sua própria vontade e destino — que no final quebra todos os estereótipos dos contos clássicos.     

Neil Gaiman une-se a um dos mais premiados ilustradores britânicos para criar uma obra surpreendente: A Bela e a Adormecida, uma releitura atual de dois clássicos “Branca de Neve” e “A Bela Adormecida” através de um olhar mais moderno e atualizado de Gaiman, com uma proposta de enredo revolucionária para o gênero e um projeto gráfico sofisticado, em uma edição luxuosa e ricamente ilustrado por Chris Riddell.

Embora se trate de uma releitura dos clássicos "Branca de Neve e os Sete anões” e “Cinderela”, sem que o autor cite de fato sua origem, deixando o leitor criar suas próprias teorias, Gaiman, nesta história, nos apresenta a uma jovem rainha que, na véspera de seu casamento, é informada de que uma estranha maldição de uma bruxa vem assolando o reino fronteiriço, fazendo com que todos os seus habitantes caiam em sono profundo, além da princesa que precisa ser resgatada e ao que tudo indica não é exatamente quem parece ser.

“Existem escolhas, pensou ela quando já estava sentada ali por um tempo. Existem sempre escolhas. Ela fez uma.”

A rainha ao se deparar com o problema decide enfrentá-lo de frente. Ao invés de ficar sentada esperando o que acontece nos contos de fada — Um príncipe montado em um cavalo branco toma a frente e após salvar a princesa casam e são felizes para sempre — simplesmente pega sua armadura e espada e deixa para trás seu belo e elegante vestido de casamento, seu príncipe prometido, e na companhia de três anões, inicia uma viagem com o objetivo de romper o feitiço e libertar o povo adormecido.

“Ela mandou buscar o noivo, pediu-lhe que não fizesse cena; disse que ainda se casariam, mesmo ele sendo apenas um príncipe, e ela, uma rainha, e fez cócegas no belo queixo dele, e beijou-o até que ele abrisse um sorriso.

Ela mandou buscar a cota de malha. Ela mandou buscar a espada. Ela mandou buscar mantimentos e o cavalo, e em seguida cavalgou palácio afora, em direção ao leste.”

Vale ressaltar que o príncipe é mencionado apenas nesse parágrafo. Por outro lado, é importante lembrar que a rainha, por ter dormido por um ano em seu caixão de cristal, era a única pessoa não afetada pela maldição do sono e, os anões, enquanto seres mágicos, também passaram praticamente ilesos pelo feitiço.

No desenrolar da história o leitor é apresentado a personagens que são tidas como vilãs, mas que na verdade foram vítimas de uma sociedade injusta. A história também versa sobre julgar pelas aparências e passa um sermão sutil sem ao menos dizer uma palavra.

Tais fatores, dentro dos princípios da literatura infantil e infantojuvenil contemporâneas são importantíssimos, uma vez que aproximam a criança do mundo real em que vive e a tiram dos finais felizes estereotipados. O fato é que após percorrer uma incrível distância, ter de dormir ao relento e enfrentar perigos diversos, a rainha finalmente encontra a princesa adormecida e a beija, a fim de que acorde consigo os habitantes do castelo e de suas redondezas.

Um ponto importante da trama tem relação direta com esse beijo que quebra a maldição do sono, sem que haja um relacionamento entre as duas mulheres, visto que não há interesse romântico ou de cunho sexual por parte de nenhuma delas no momento do beijo, ou posteriormente a ele.

O leitor surpreender-se-á com a conotação dada à cena quando terminar de ler o livro, entretanto, não há como negar o quanto é polemizada uma cena destas em um livro de contos de fadas, tanto que esta cena provocou “uma repercussão negativa”, em alguns leitores, pelo simples fato de acontecer entre duas mulheres.

Outro momento muito marcante se dá quando, ao ouvir os carpinteiros do reino martelando a madeira que serviria para os bancos de seu casamento, ela sente que cada martelada soava como a batida de seu próprio coração.

No final da história o autor deixa transparecer que, além de ser forte, guerreira e destemida, a rainha tem poder de escolha, apesar do que lhe estava sendo imposto. Um conto de fadas "sem" príncipe.  Uma história diferente, que conduz o leitor a refletir que nem tudo é o que parece e que sempre existem escolhas. Um conto sobre coragem, independência e escolhas.

 

Sobre o autor:

Neil Richard Gaiman (Portchester, 10/11/1960) é um autor britânico de ficção, romances, histórias em quadrinhos, novelas gráficas, teatro de áudio e filmes. Vive em Minneapolis, Estados Unidos e é casado com Amanda Palmer, da banda Dresden Dolls.

Durante toda a sua infância, Gaiman adorava passar o tempo em bibliotecas devorando livros famosos como As Crônicas de Nárnia, O Senhor dos Anéis e até mesmo Alice no País das Maravilhas.

Gaiman começou a sua carreira de escritor como jornalista. Seu primeiro livro foi uma biografia da banda Duran Duran. Já o segundo foi a biografia de Douglas Adams, criador da série O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Quando jovem, Neil Gaiman conheceu e virou amigo do roteirista Alan Moore— ainda não era famoso. Nos anos seguintes, o escritor começou a escrever HQs em conjunto com outros escritores ou ilustradores, inclusive o seu primeiro HQ com contrato com a DC Comics, Orquídea Negra (ilustrador Dave McKean).

Após o contrato, além de escrever roteiros para quadrinhos, o autor também se aventurou em livros de diversos gêneros, como romance, histórias infantis e histórias para adultos. No Brasil foram publicadas 48 obras.

Como resultado de seu ótimo trabalho, Neil Gaiman recebeu diversos prêmios, entre eles:

• 14 prêmios pessoais, como melhor escritor ou defensor da liberdade, de 1992 até 2010;

• 4 prêmios de quadrinhos, de 1994 até 1997;

• 92 prêmios ou méritos por seus livros e outras obras.

Hoje, com 62 anos, Gaiman é casado com Amanda Palmer e mora nos Estados Unidos. Também é pai de 4 filhos, 3 de seu antigo casamento com Mary McGrath e um nascido em 2015.

 

Título:   A bela e a Adormecida

Autor:    Neil Gaiman

Ilustrador: Chris Riddell

Tradutor: Renata Pettengill

Editora: Editora Rocco

1ª edição: 9 novembro 2015

Preço: Capa dura: a partir de R$ 29,85 / Kindle: a partir de 19,50 

Tags: A Bela Adormecida, Branca de Neve, Anões, conto de fadasBruxa, príncipe, beijo, reino, maldição, floresta.

Leia também:

• Branca de Neve, os 7 anões, a Madrasta má, o Espelho Mágicoe o Príncipe.