Branca de Neve e os sete Anões é um conto
de fadas clássico que faz parte do folclore popular alemão e foi
eternizada pelos Irmãos Grimm (Jacob Wilhelm e Wilhelm Karl) numa coletânea
chamada “Contos de Fadas para Crianças e Adultos” várias fábulas, publicada entre 1812 e 1822.
Apesar de ter muitas outras versões, onde os anões são substituídos por
ladrões, enquanto o diálogo com o espelho é feito com o sol ou a lua, a
versão de Branca de Neve e os Sete Anões dos Irmãos Grimm, tornou-se a mais
difundida pelo mundo e base para a animação da Disney, em 1937, a qual mudou a história da
animação e do cinema como um todo. Aliás, neste ano, 2017, o desenho completa
80 anos de existência.
Como todos os contos com raízes na época medieval, sua versão original
era mais cruel e violenta, já
que serviam como entretenimento para as classes mais baixas e também tinham o
intuito de educar as crianças a lidar com a morte, o crescimento e até mesmo o
desejo.
Eram também considerados como um contraponto às narrativas religiosas que geralmente eram monótonas e tinham um final decepcionante, trazendo para as pessoas simples a ideia de que no final o bem sempre é capaz de vencer o mal.
Eram também considerados como um contraponto às narrativas religiosas que geralmente eram monótonas e tinham um final decepcionante, trazendo para as pessoas simples a ideia de que no final o bem sempre é capaz de vencer o mal.
Os Irmãos Grimm são os primeiros a mostrar a preocupação quanto às crianças, tanto que a violência e o mal passam quase despercebidos em seus contos, por que além de serem impregnados de magia, acabam totalmente vencidos em um “final feliz”, que “neutraliza” o mal.
No conto original, a história foca o conflito entre Branca de Neve e a
madrasta que é advertida por seu espelho mágico que a enteada, à medida que
cresce, está ficando mais bela do que ela, faz com que a madrasta decida
se livrar da princesa. Assim, Branca de Neve precisa se refugiar na casa dos
sete anões e depois no caixão de cristal, para então ser resgatada pelo
príncipe encantado e levada para seu castelo. Mas antes do “foram felizes para
sempre”, a princesa decide punir a madrasta com uma crueldade digna de uma
vilã.
Assim, a história abaixo de Branca
de Neve e os Sete Anões, possivelmente, é uma das versões que a maioria de
nós está familiarizada e que nos foi repassada por nossos pais, tios, avós ou,
quem sabe, pela primeira professora. Quem não se lembra das frases: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” ou
“E foram felizes para sempre”.
BRANCA DE NEVE E OS
SETE ANÕES
Era uma vez um rei que vivia num reino distante, com a
sua filha pequena, que se chamava Branca de Neve. O rei, como se sentia só,
voltou a casar, achando que também seria bom para a sua filha ter uma nova mãe.
A nova rainha era uma mulher muito bela, mas também muito má e não gostava da
Branca de Neve que, quanto mais crescia, mais bela se tornava. A rainha malvada
tinha um espelho mágico, ao qual perguntava, todos os dias:
— Espelho meu, espelho meu, haverá mulher mais bela do que eu?
E o espelho respondia:
— Não minha rainha, és tu a mulher mais bela!
Mas uma manhã, a rainha voltou a perguntar o mesmo ao espelho, e este respondeu:
— Tu és muito bonita minha rainha, mas a Branca de Neve é agora a mais bela!
Enraivecida, a rainha ordenou a um dos seus servos que levasse Branca de Neve até à floresta e a matasse, trazendo-lhe de volta o seu coração, como prova. Mas o servo teve pena da Branca de Neve e disse-lhe para fugir em direção à floresta e nunca mais voltar ao reino.
Já na floresta, Branca de Neve conheceu alguns animais, os
quais se tornaram seus amigos. Também encontrou uma pequenina casa e bateu à
porta. Como ninguém respondeu e a porta não estava fechada à chave, entrou.
A casa era dos sete anões que viviam na floresta e, durante o
dia, trabalhavam numa mina. Ao anoitecer, os sete anões regressaram à sua
casinha, quando deram com Branca de Neve que logo contou a sua triste história.
Os anões convidaram Branca de Neve a viver com eles e ela aceitou,
prometendo-lhes que tomaria conta da casa deles.
Mas a rainha má, através do seu espelho mágico, descobriu que Branca de Neve estava viva e que vivia na floresta com os anões. Então, furiosa, disfarçada de velha, apareceu e gentilmente ofereceu uma maçã envenenada para Branca de Neve, que ao mordê-la caiu como morta.
Avisados pelos animais do bosque, os sete anões regressaram
apressadamente e encontraram Branca de Neve caída no chão. Acreditando que
estava morta colocaram-na num caixão de vidro, rodeada de flores.
Então, apareceu, no meio do bosque, um príncipe no seu cavalo branco que ao ver Branca de Neve se apaixonou imediatamente por ela e, num impulso, beijou-a. Branca de Neve acordou: Afinal estava viva!
Os anões saltaram de alegria e Branca de Neve ficou maravilhada com o príncipe!
E assim o príncipe levou Branca de Neve para o seu castelo, onde casaram e
viveram muito felizes para sempre.
Na verdade, o homem sempre gostou de contar e ouvir histórias e, talvez,
isto represente um dos atrativos que mantém o público, principalmente o infantil,
interessado nos contos de fadas por tantos séculos. Por outro lado,
normalmente, os contos de fadas ao iniciarem com seu clássico “Era uma vez um
reino distante...” torna a história atraente
pelo fato de quem fala pode ser qualquer pessoa, em qualquer lugar e, não
podemos esquecer que, determinadas características dos personagens despertam a
identificação da criança com estes, projetando-a na trama da narrativa, daí o
fascínio, em parte, que o conto de fadas exerce sobre o leitor mirim.
Para os estudiosos, na fase do desenvolvimento da criança, ler ou ouvir
contos de fadas, entre outras atividades, é uma oportunidade que ajuda a
desenvolver o raciocínio critico, a lidar com a realidade, a resgatar valores e
a desenvolver a formação moral e ética, tanto que é comum, mais do que se
imagina, algumas crianças não se
identificarem com determinados contos devido a passividade, a ingenuidade ou
desvio de caráter, mesmo que passageiro, da personagem principal.
Branca
de Neve e os Sete Anões na versão narrada pelos Irmãos Grimm, por ter raízes na
época medieval, sem dúvida alguma, é mais cruel que a versão que vimos acima
ou, até mesmo, pela versão suavizada pela Disney.
Assim,
no conto dos Grimm, uma jovem rainha grávida senta-se a costurar junto a
uma janela “negra como o ébano”, e de
vez em quando olha pela janela para ver a neve cair lá fora. Distraída, ela espeta
seu dedo com a agulha e três gotas de sangue caem no chão. Ao ver o sangue
vermelho, a rainha deseja que, quando sua filha
nascer, ela seja “alva como a neve, com lábios rubros como o sangue e com os
cabelos negros como o ébano da janela”. Bem, seu desejo é atendido já que a
filha nasce com as características que a rainha desejava, mas a rainha acaba morrendo no
parto.
Algum tempo depois, o rei volta a se casar com uma mulher muito bonita,
mas vaidosa e arrogante cuja preocupação
é ser a mulher mais bela da corte, tanto que ela tem um espelho mágico que “só fala a verdade”, ao qual, todo o dia, pergunta:
“Espelho, espelho meu haverá mulher mais bonita do que eu” e, é claro, ela
sempre fica feliz com a resposta.
Entretanto, Branca de Neve à medida que cresce, fica mais bela do que a
rainha, e quando o espelho diz à rainha que Branca de Neve é a mais bela entre
todas, a madrasta decide se livrar da princesa. Furiosa a rainha manda um
caçador levar a princesa para a floresta, matá-la e trazer de volta seu coração
como prova. O caçador não consegue cumprir
sua ordem, mas deixa a princesa na floresta. Ele mata um cervo e leva o coração
para a rainha que o assa e come.
Enquanto isso, Branca de Neve, após muito caminhar, encontra a cabana
dos sete anões que depois de ouvirem sua história, fazem um pacto:
Branca de Neve limpa e cuida da casa e, em troca, ela pode ficar na casa a
salvo da ira da rainha. Mas, preocupados com sua segurança, pedem para ela não
permitir que ninguém entre em casa enquanto estiverem trabalhando, cavando
metais preciosos nas montanhas próximas.
Tudo ia bem até que a madrasta descobre através de seu espelho mágico que
Branca de Neve ainda está viva e mais bela do que ela. Então, a madrasta decide que ela mesma assassinará
a princesa.
Na primeira tentativa, disfarça-se de mascate, vai até a casa dos anões e
vende um laço de fita à princesa, assim que Branca de Neve amarra o laço na
cintura, ele a aperta com tanta força que ela desmaia. Felizmente, os anões
chegam a tempo de salvá-la.
Na segunda, a rainha veste-se como uma velha senhora vendendo escovas de
cabelo, e consegue vender uma para Branca de Neve. Como a escova está
envenenada Branca de Neve passa mal e desmaia ao usá-la. Novamente, ela é salva
pelos anões.
Mas, na terceira vez, a vilã já enlouquecida de fúria, aparece vestida de camponesa e tenta vender uma maçã à protagonista,
que apesar de estar desconfiada cai na armadilha da rainha. A astuta madrasta
envenena apenas metade de uma maçã e come a outra metade na frente da princesa,
que inocentemente come a outra metade que é o pedaço envenenado. A maçã não
mata Branca de Neve, mas fica presa em sua garganta e ela entra em coma.
Ao voltarem para casa os anões deparam com Branca de Neve desacordada e acreditam
que está morta. Por achá-la tão linda, os anões não têm coragem de enterrá-la e assim decidem
colocá-la num caixão de vidro. Algum tempo depois, um príncipe passeando por
lá, avista a princesa dentro do caixão de vidro e, encantado com sua beleza,
pede permissão aos anões para levá-la para seu castelo.
No
caminho até o castelo, um solavanco da carruagem faz com que o pedaço de maçã
que estava entalado na garganta da princesa saia e ela acorda. Assim,
Branca de Neve e seu príncipe convidam a rainha madrasta para a festa de seu casamento
e, lá, obrigam-na a usar um par de botas de ferro quente e dançar com elas até
morrer por exaustão, o que nos remete aos lendários métodos de
tortura medievais. E, finalmente, o príncipe e a princesa casam e vivem felizes
para sempre.
Poder-se-ia dizer que Branca de Neve foi abandonada, perseguida, subtraída
de seus direitos e sentenciada à morte por
ser mais bela do que a madrasta. A figura do pai omisso, comum na maior parte dos contos de
fadas, fez com que nossa heroína tivesse
uma figura paterna quase inexistente e, como a mãe estava morta, faltou-lhe uma
imagem de mãe cuidadosa e de um pai que a orientasse e protegesse, ou pelo menos tentasse controlar a fúria da
madrasta perversa contra a vida da princesa.
Mas, por outro
lado, vale dizer que Branca de Neve não era tão ingênua a ponto de não “entender
e atender” as ordens dos 7 anões: Jamais abrir a porta para estranhos e ter
cuidado com o que lhe era oferecido, o que teoricamente seguiu, mas abriu a janela para a madrasta disfarçada
de camponesa, e ainda come a metade da maçã que lhe é oferecida (será por que nada
lhe foi dito sobre abrir janela e comer?), o que nos leva a dizer que o
pedaço de maçã envenenada presa na garganta de Branca de Neve talvez represente
o “tempo necessário” para que o príncipe tenha espaço para entrar em sua vida e
ajudá-la a se libertar definitivamente das maldades da madrasta.
Como ocorre em outros contos de fadas, Branca de Neve é uma trama que reforça bastante o estereótipo de “E viveram felizes para sempre”, assim nossa heroína depois de
muitos sacrifícios, recebe uma espécie de prêmio ou uma recompensa por ser do
bem —
um pedido de casamento do príncipe encantado que a levará para seu
castelo. Mas, antes do final feliz, a madrasta é punida com uma crueldade digna
de uma vilã: É convidada para a festa de
casamento e é obrigada a usar sapatos em brasas
e dançar até a morte. E por fim, Branca de Neve e o príncipe “And they lived happily ever after”.
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