“Nunca mais serás capaz de sentimentos humanos normais. Tudo dentro de ti estará morto. Nunca mais serás capaz de amor, ou amizade, ou alegria de viver, ou riso, ou curiosidade, ou coragem, ou integridade. Tu serás oco. Nós iremos esmagar-te até ficares vazio, e depois iremos encher-te com nós próprios.”
Considerado um dos romances mais influentes do século XX, o cenário distópico revelado em 1984, através do olhar de Orwell, representa o reflexo do que ocorria no mundo antes e depois do período em que foi escrito (1930—1940), trazendo uma profunda reflexão e crítica de uma sociedade tecnocrata que passa a controlar o indivíduo buscando uma padronização de comportamento. Leis, Exércitos, polícia, burocracia, mercado, propaganda, TV, regras e padrões sociais, etc, passam a fazer com que o homem se sinta acuado em seu próprio território e levado à alienação, temática que Orwell transporta para o universo de 1984.
Inicialmente, 1984 seria intitulado O Último
Homem da Europa, no entanto, Orwell acabou optando por 1984, a inversão dos
dois últimos dígitos do ano em que a obra foi escrita (1948), marcando assim o
caráter ficcional distópico e prospectivo da obra.
Publicado
em 8 de junho de 1949 (cinco dias depois nos EUA), o livro narra uma sociedade
comandada por um governo totalitário, que persegue o individualismo e condena,
inclusive, a liberdade de pensamento. Poucos meses antes da morte do autor, o livro foi
traduzido para mais de 70 línguas e teve milhões de cópias vendidas pelo mundo,
tendo sido adaptado para minisséries, filmes, quadrinhos, mangás e até para a
música e, em 1999, a produtora holandesa de TV Endemol Shine Group ao batizar
seu reality show de Big Brother, trouxe 1984 de volta aos holofotes.
Vale dizer que na época da publicação do
livro, era difícil acreditar que a tecnologia da teletela, fosse capaz de
existir no futuro de um mundo real. Porém, passados 70 anos, vivemos cercados
por câmeras mantidas tanto pelo governo (segurança e controle) quanto por
instituições privadas (comércio). Assim, a ideia do monitoramento da sociedade é
usada com a justificativa da segurança da sociedade.
O mundo imaginário de Orwell tem 3 estados: Oceania (britânica Ilhas, América e Austrália), Eurásia (Europa e Rússia) e Lestásia: (o que resta do mundo após a 2ª Guerra Mundial). O cenário imaginado pelo autor é a Oceania, cujo desenvolvimento científico e tecnológico é canalizado para guerrear.
Esse mundo de contradições é
exemplificado no nome dado pelo Grande Irmão aos seus quatro Ministérios e a
verdadeira função exercida por eles. O Ministério
da Verdade que tratava das mentiras e das falsas memórias. Controlava toda a
produção intelectual, de notícias a livros, de músicas a jornais; que negava o
passado (mentir); o Ministério do Amor praticava a tortura — a psicológica,
praticava-se o desamor; o Ministério da Pujança(fartura) (Minifarto) lidava com
a escassez de alimentos; e o Ministério da Paz (Minipaz), cuidava dos assuntos
de guerra.
O poder do Estado é sustentado pela
doutrina filosófica do IngSoc (Sigla do Socialismo
Inglês), Partido totalitário do Governo da Oceania cujos lemas são: Guerra é
paz; Liberdade é escravidão e Ignorância é força. O Partido se mantém no poder
através de métodos totalitários, que tem como objetivo nada mais do que o poder
do onipresente Big Brother, que controla todos os aspectos da vida de seus
cidadãos.
Com a finalidade de justificar a sua
própria existência e permanência no poder por décadas, o Partido propaga
constantemente que as demais forças militares o tempo todo planejavam invadi-la,
justificando assim a necessidade de
proteger a sociedade da opressão das grandes potências.
Organizado por classes com funções e
privilégios diferentes, tem no topo o Grande Irmão que tem o poder de controlar
todos os aspectos da vida de seus cidadãos. O Partido era composto pela: A
classe mais alta, o Partido Interno que é representada pelos membros do núcleo
do Partido e é a que exerce uma maior autonomia; a classe média, o Partido
Externo, que representa os cidadãos que trabalham para o governo; a classe
baixa, os Proletas, os cidadãos que suportam altíssimas cargas de trabalho. Os
Proles, por não representarem perigo, devido à falta de organização e
consciência de poder, estavam livres da vigilância constante e assim podiam se
reunir com maior facilidade.
Em Oceania, a verdade é permanentemente modificada
e reeditada. Fato e ficção se misturam, impossível diferenciá-los — Mentes e
corpos controlados em tempo integral. O fato é que o Grande Irmão controla e vê
tudo e todos. Esse controle é feito por meio das teletelas bidirecionais que
funcionam tanto como televisores quanto câmeras. Hoje, pode ser comparado às
redes sociais, com as quais voluntariamente compartilhamos nossas informações,
mas também coletam e processam nossos dados sem que estejamos totalmente
cientes.
Segundo Winston, O Big Brother, nunca
foi visto, e sugere que ele pode não existir. O'Brien, por sua vez, diz que o
Big Brother "nunca vai morrer", o que também contribui para esta
teoria, sugerindo que o Big Brother pode ser apenas uma representação simbólica
do partido como um todo.
Com “Liberdade é escravidão” como um dos
seus lemas, esse governo está disposto a tudo para manipular as mentes da população,
usando as ideias mais absurdas, como o exemplo citado no livro 2+2=5. Ninguém questiona as leis
universais da matemática, que tornam esse cálculo impossível, mas se o Governo
disse, está dito. Isso só é possível graças a um fenômeno chamado “duplipensar,
um tipo de lavagem cerebral implantada nos cidadãos, isto é, ele apresenta dois
conceitos contraditórios e distorce a capacidade de interpretar cada um para
perceber que não fazem sentido.
No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra.
Segundo ele, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma
causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o
acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra
serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir
que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos.
Narrado em terceira pessoa, o personagem
central Winston Smith, é apresentado ao leitor logo no primeiro parágrafo, como
membro do Partido externo e funcionário do Ministério da Verdade, cuja função é
reescrever e alterar os registros dos antigos jornais e artigos de opinião, de
acordo com o interesse do Partido, jogando os originais no incinerador (Buraco
da Memória), eliminando, dessa forma, o passado, tornando sempre verdadeiras as
ações do Partido.
Winston se encontra dividido entre o Grande
Irmão e Emmanuel Goldstein, considerado inimigo do IngSoc e criado pelo próprio
IngSoc, cujo objetivo era incitar o ódio da população contra esse inimigo
fortalecendo, ainda mais, o IngSoc.
Winston vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ele questiona a opressão, física e mental que o Partido exerce nos cidadãos. Nas moedas, nos selos, nas capas dos livros, em bandeiras, em cartazes e nas embalagens dos maços de cigarro — em toda parte, em letras minúsculas e precisas, estavam inscritos os mesmos slogans.
Sempre aqueles olhos observando as pessoas e a voz a envolvê-las.
Dormindo ou acordada, trabalhando ou comendo, dentro ou fora de casa, no banho
ou na cama —não havia saída. Com exceção dos poucos centímetros que cada um
possuía dentro do crânio, ninguém tinha nada de seu.
A Polícia das Ideias é a polícia
política e atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas
estavam entre as proibições, num cenário de submissão onde não há mais leis,
mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido. Quem pensasse diferente, era
acusado de cometer um crime — crimideia (ou crimepensar, na tradução de
novilíngua — idioma do futuro) e fatalmente seria capturado pela Polícia do
Pensamento e depois vaporizado (desapareceria).
Da mesma forma que o culto, a obediência
e a fidelidade ao Grande irmão e às suas ideias deviam ser totais e
irrestritas, de igual modo qualquer pensamento de afeto ou de simpatia
relacionado às pessoas objeto da alienação seriam considerados crime de
pensamento.
Na verdade, no Estado já não existem leis, impera uma única ordem categórica e absoluta: todos devem obedecer. A escrita e as notícias são publicadas baseando-se no controle da população. O que não pode ser reescrito é destruído, essa é a maneira que o Estado encontra para se manter no poder.
As pessoas simplesmente desapareciam,
sempre durante a noite. Seus nomes eram removidos dos arquivos, todas as
menções a qualquer coisa que tivessem feito eram apagadas, suas existências
anteriores eram negadas e em seguida esquecidas — canceladas, aniquiladas e
vaporizadas.
A língua inglesa aos poucos é eliminada
e o Partido cria uma nova língua Novafala que condensa as palavras e os seus
respectivos sentidos, com o intuito de restringir o pensamento. Segundo Orwell “a Novafala foi concebida não para
ampliar, e sim restringir os limites do pensamento, e a redução a um mínimo do
estoque de palavras disponíveis era uma maneira indireta de atingir esse
propósito”. Deste modo, o controle do pensamento não só limitava o pensamento
individual como também coletivo, devido ao empobrecimento das interlocuções
ocasionado pelo reduzido número de palavras.
Syme, filologista que se dedicava a
finalizar a décima-primeira edição do Dicionário de Novilíngua, em uma conversa
com Winston acerca dos princípios do idioma oficial da Oceania, disse:
“Estamos dando à língua a sua forma final – a forma que
terá quando ninguém mais falar outra coisa. Quando tivermos terminado, gente
como você terá que aprendê-la de novo. Tenho a impressão de que imaginas que o
nosso trabalho consiste principalmente em inventar novas palavras. Nada disso!
Estamos é destruindo palavras – às dezenas, às centenas, todos os dias. Estamos
reduzindo a língua à expressão mais simples. A Décima Primeira Edição não
conterá uma única palavra que possa se tornar obsoleta antes de 2050.”
No desenrolar do romance, Winston fica
cada vez mais desiludido com sua existência miserável e se sente frustrado com
a opressão e o rígido controle do Partido e sonha com uma rebelião contra o Grande
Irmão. Contudo, embora deteste o sistema, evita desafiá-lo para escapar da
tirania do Grande Irmão.
Winston não tinha camaradas (amigos),
aliás ninguém tinha. E, por outro lado, Winston não se sentia seguro em comentar
suas angústias, mas ao mesmo tempo ele precisava externar seus sentimentos, por
essa razão mantinha um bloco e um lápis (diário), comprados clandestinamente
num Antiquário, cujo proprietário o sr. Carrington, em uma das suas visitas lhe
mostrou um quarto com arrumação e mobílias antigas — sem teletelas.
Winston usa o canto “cego” do
apartamento para escrever seu diário e não ser focalizado pela teletela de seu
apartamento, mesmo sabendo que representava perigo para ele, devido à constante
vigília da Polícia do Pensamento e que se fosse encontrado poderia ser
considerado crime, podendo acabar em morte. Curiosamente, a primeira frase que
Winston escreveu foi: Abaixo o Big Brother!
Muitas vezes Winston se pergunta para
quem estaria escrevendo o diário — Para o futuro, para o passado ou para uma
época talvez imaginária? Fatalmente o diário, quando encontrado, seria reduzido a cinzas e ele próprio viraria
vapor.
É no trabalho que o solitário Winston
conhece as duas personagens fundamentais para sua trajetória: Julia, 26 anos —
a garota de cabelo escuro, assim chamada por Winston — era militante do Partido
e trabalhava no Departamento de Ficção e, também, uma pessoa revoltada contra o
sistema. O’Brien era integrante do Partido, mas Winston acreditava que ele era um
conspirador e, assim, confessa-lhe suas inquietações e “crimes” sem saber que
este o vigiava há anos.
Através de um bilhete, Julia consegue se
declarar para Winston e, mesmo sabendo de todos os riscos que estavam correndo,
os dois, à medida que se conhecem, apaixonam-se e juram um amor incondicional
um pelo outro, embora saibam que um dia poderiam ser pegos.
Apaixonados, os dois começam a
desenvolver uma lealdade contra o Partido e o Grande Irmão. O casal pede
transferência dos respectivos postos de trabalho e conseguem trabalhar juntos. A
alegria, no entanto, acaba, quando surge O’Brien, que com a desculpa de
despistar as teletelas, convida Winston a ir ao seu apartamento, ver a nova
edição do dicionário Novilíngua. O convite de O`Brien era incomum, mas fez
Winston se animar com a possibilidade de que ele realmente fazia parte da organização
de famosa resistência pela qual Winston sempre fora obcecado, mesmo antes de
conhecer Júlia.
Winston leva Júlia ao encontro e para
surpresa do casal, O`Brien desliga a teletela de seu luxuoso apartamento. Winston
confessa seu desejo de conspirar contra o Partido, pois acreditava na existência
da Fraternidade (uma organização misteriosa) e para tal suas esperanças estavam
depositadas em O`Brien.
Os planos eram regados a vinho, iguaria inacessível aos integrantes do Partido Externo, e um brinde destinado ao líder da Fraternidade, Emmanuel Goldstein, o principal inimigo do povo da Oceania, segundo o Partido IngSoc.
No romance, Emmanuel Goldstein, autor do
livro The Theory and Practice of Oligarchical Collectivism (referenciado pelas
pessoas como O Livro) é retratado pelo Partido como um membro do Partido
Interno que continuamente conspirou para depor o Big Brother e derrubar o
governo.
Não está claro se Goldstein e a tal
organização misteriosa realmente existem. Quando O'Brien é questionado pelo
protagonista do romance, ele afirma que O Livro de Goldstein foi escrito pela
liderança do Partido, incluindo ele mesmo, mas esta declaração deixa as
questões de Goldstein e da existência da Fraternidade sem resposta e pode ser
uma mentira de O'Brien para enganar Winston.
É possível que uma oposição política (Goldstein),
ao Big Brother, era psicologicamente
necessária para justificar toda a sorte de mazelas sociais e também distrair,
unir e concentrar a raiva do povo da Oceania, tanto que todos os dias as
pessoas paravam suas atividades, durante dois minutos (2 minutos de ódio), para
se reunirem em frente a uma teletela na qual imagens de Goldstein são
projetadas enquanto todos gritam e deixam fluir a raiva.
Após uma série de perguntas serem feitas
e o próprio O’Brien providenciar uma cópia do livro de
Goldstein, Winston “devora” o livro enquanto Júlia não demonstra interesse, cochilando
ao seu lado, até que ouvem um barulho atrás de uma pintura da sala e descobrem
uma tela de televisão escondida — eles estavam sendo espionados o tempo todo. Winston
e Julia são desmascarados e presos no quarto que alugavam do Sr. Charrington, que
na verdade era um membro da Polícia das Ideias.
Winston nunca teve a oportunidade de
terminar de ler O Livro e aprender os "Porquês?" da Oceania e da
ordem mundial em 1984 antes da Polícia do Pensamento prendê-lo, mas ele
acreditava que a esperança de mudança estava nos Proles.
Após ser capturado, Winston é
encaminhado para o Ministério do Amor, que é uma espécie de prisão sem janelas,
onde fica sentado por dias seguidos, e sozinho. É na hora que O’Brien chega,
que a verdade começa a aparecer, já que, inicialmente, Winston pensava que
O’Brien também fora pego, mas ao escutar a frase mais enigmática do livro: “Eles
me pegaram há muito tempo”, percebe que ele é o torturador. Mesmo torturado,
internamente sentia-se livre, admitia odiar o Grande Irmão e amar Júlia.
Por fim, O’Brien leva Winston para a
sala 101, a mais temida, que é um local de tortura do Ministério do Amor, onde
determinados elementos são expostos ao seu maior pesadelo, medo ou fobia. No
caso de Winston, a pior punição seria o contato com ratos, seu maior medo, da
relação com mortes e vivências da infância.
Como Winston tem pavor de roedores, os
torturadores colocaram uma máscara em seu rosto com uma abertura para uma
gaiola cheia de ratos famintos separada apenas por uma portinhola.
“Eles saltarão sobre seu rosto e
começarão a devorá-lo. Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem
caminho pelas bochechas e devoram a língua.”
Winston não resiste e implora para que
coloquem Júlia em seu lugar. Agora, ele é considerado “curado‟: amava apenas o
Grande Irmão e assim conquistara a “liberdade‟ por não resistir mais às
determinações do Partido.
O mesmo acontece com Júlia, embora ela acredite
até o último minuto que pode, de algum modo, desbancar o regime. Ela entende a
diferença entre confissão e traição. “Eles podem fazê-lo dizer qualquer coisa,
mas não podem fazê-lo acreditar nisso. Não podem entrar em você.” Mas ela percebe que é exatamente isso o que
eles fazem — eles entram em você e põem em dúvida a questão da alma, uma dúvida
cruel e terminal, sobre o que acreditamos ser o seu âmago inviolável.
Quando finalmente saem do Ministério do
Amor, Winston e Julia curados de sua paixão mútua e da rebeldia, já se encontram
em estado de “duplipensar”, nas antessalas da aniquilação e se reintegram no
Coletivo, voltando a ser peças obedientes do Partido — capazes de amar o grande
irmão.
“Mas estava tudo bem, estava tudo certo,
a batalha chegara ao fim. Ele conquistara a vitória sobre si mesmo. Winston
amava o Grande Irmão.”
Poder-se-ia dizer que, apesar de ter
sido banido e questionado em alguns países, o livro 1984 de George Orwell é, ao
lado de Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, entre outros, uma das mais
famosas representações literárias de uma sociedade distópica, sendo considerado por
muitos como o pai de todas as distopias.
Orwell nunca foi tão atual quando previu
com clareza o mundo das gerações futuras, causado pelo sucessivo número de
guerras, não só o conflito armado e violento, mas também o estado de guerra,
por meio do qual pode-se justificar qualquer medida tomada pelas autoridades,
onde os avanços científicos e tecnológicos servem a uma ideologia de governos
autoritários que voltam a assombrar tanto o Ocidente quanto o Oriente.
1984, é, acima de tudo, um alerta sobre
o poder que corrompe, sobre sociedades que misturam autoritarismo e tecnologia,
remetendo-nos a uma profunda reflexão e crítica ao fato de cidadãos comuns
serem reduzidos a peças para servirem o estado, através do controle total, onde
as teletelas e os microfones utilizados como aparatos de espionagem e
monitoramento na obra ficcional, hoje se assemelham aos atuais aparelhos de
celular, que podem controlar, vigiar o cotidiano de seus usuários.
O mundo descrito por Orwell é o de uma
guerra perpétua, acompanhada pela vigilância governamental e a manipulação
pública — universo concebido com o objetivo de mostrar os perigos do
totalitarismo que, se não combatido, pode triunfar em qualquer lugar,
mostrando-nos como poderá ser o futuro da humanidade, caso ela não perceba a
tempo que a liberdade natural do homem não deve ser apenas defendida como um direito,
mas como poder de poder decidir, em continuar humano e livre enquanto viver.
“Não haverá curiosidade, nem fruição do
processo da vida. Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre…
não se esqueça, Winston… sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente
crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre, a todo momento,
haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo vencido. Se quer uma
imagem do futuro, pense numa bota pisando um rosto humano – para sempre”. — Visão
de futuro do partido, segundo O’Brien.
Sobre o autor:
Orwell escolhera este nome em homenagem
ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na
Inglaterra Smith. Assim, Winston Smith
representa o cidadão comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do
Partido.
Mudou-se para Paris onde teve uma vida
boêmia. Foi para a Espanha lutar contra o franquismo em 1936. Criou o também
celebrado romance A revolução dos Bichos, em 1945.
Na vida pessoal, casou-se com Eileen e adotou
o pequeno Richard Horatio Blair. Em março de 1945, o escritor ficou viúvo após
o falecimento da esposa em decorrência de problemas com a anestesia aplicada em
uma cirurgia.
David Astor, um amigo dos tempos da
edição, emprestou-lhe uma casa situada na ilha escocesa de Jura, perto de Islay,
afastada do resto da sociedade. A casa não possuía sequer eletricidade e o
rádio era a única forma de comunicação com o mundo exterior. Foi nesse
contexto, e também severamente acometido por uma tuberculose, que o escritor
compôs seu último livro, 1984.
Após entregar o manuscrito, foi internado em uma clínica em Cotswolds para tratar a tuberculose. O próprio autor confessou ao melhor amigo: “Eu deveria ter feito isso há dois meses, mas eu queria terminar aquele livro sangrento”. Naquela altura os acometidos pela tuberculose contavam com pouquíssimas possibilidades de cura. Orwell não resistiu a doença e faleceu aos 46 anos.
Nome do livro: 1984
Nome do autor: George Orwell
Blog Livros Pra Ler e Reler
Tags: