1984 — George Orwell

“Nunca mais serás capaz de sentimentos humanos normais. Tudo dentro de ti estará morto. Nunca mais serás capaz de amor, ou amizade, ou alegria de viver, ou riso, ou curiosidade, ou coragem, ou integridade. Tu serás oco. Nós iremos esmagar-te até ficares vazio, e depois iremos encher-te com nós próprios.”

O romance 1984 criado pelo escritor britânico George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, transformou-se em um clássico da literatura universal, cuja leitura vem sendo (re)descoberta pelo mundo afora. Com um olhar crítico e além de seu tempo, George Orwell se tornou uma fonte para compreender o presente através de sua distopia literária, que encontra ecos nestes tempos sombrios em que estamos vivendo.

Considerado um dos romances mais influentes do século XX, o cenário distópico revelado em 1984, através do olhar de Orwell, representa o reflexo do que ocorria no mundo antes e depois do período em que foi escrito (1930—1940), trazendo uma profunda reflexão e crítica de uma sociedade tecnocrata que passa a controlar o indivíduo buscando uma padronização de comportamento. Leis, Exércitos, polícia, burocracia, mercado, propaganda, TV, regras e padrões sociais, etc, passam a fazer com que o homem se sinta acuado em seu próprio território e levado à alienação, temática que Orwell transporta para o universo de 1984.

Inicialmente, 1984 seria intitulado O Último Homem da Europa, no entanto, Orwell acabou optando por 1984, a inversão dos dois últimos dígitos do ano em que a obra foi escrita (1948), marcando assim o caráter ficcional distópico e prospectivo da obra.

Publicado em 8 de junho de 1949 (cinco dias depois nos EUA), o livro narra uma sociedade comandada por um governo totalitário, que persegue o individualismo e condena, inclusive, a liberdade de pensamento. Poucos meses antes da morte do autor, o livro foi traduzido para mais de 70 línguas e teve milhões de cópias vendidas pelo mundo, tendo sido adaptado para minisséries, filmes, quadrinhos, mangás e até para a música e, em 1999, a produtora holandesa de TV Endemol Shine Group ao batizar seu reality show de Big Brother, trouxe 1984 de volta aos holofotes.

Vale dizer que na época da publicação do livro, era difícil acreditar que a tecnologia da teletela, fosse capaz de existir no futuro de um mundo real. Porém, passados 70 anos, vivemos cercados por câmeras mantidas tanto pelo governo (segurança e controle) quanto por instituições privadas (comércio). Assim, a ideia do monitoramento da sociedade é usada com a justificativa da segurança da sociedade. 

O mundo imaginário de Orwell tem 3 estados: Oceania (britânica Ilhas, América e Austrália), Eurásia (Europa e Rússia) e Lestásia: (o que resta do mundo após a 2ª Guerra Mundial). O cenário imaginado pelo autor é a Oceania, cujo desenvolvimento científico e tecnológico é canalizado para guerrear.  

Esse mundo de contradições é exemplificado no nome dado pelo Grande Irmão aos seus quatro Ministérios e a verdadeira função exercida por eles.  O Ministério da Verdade que tratava das mentiras e das falsas memórias. Controlava toda a produção intelectual, de notícias a livros, de músicas a jornais; que negava o passado (mentir); o Ministério do Amor praticava a tortura — a psicológica, praticava-se o desamor; o Ministério da Pujança(fartura) (Minifarto) lidava com a escassez de alimentos; e o Ministério da Paz (Minipaz), cuidava dos assuntos de guerra.

O poder do Estado é sustentado pela doutrina filosófica do IngSoc (Sigla do Socialismo Inglês), Partido totalitário do Governo da Oceania cujos lemas são: Guerra é paz; Liberdade é escravidão e Ignorância é força. O Partido se mantém no poder através de métodos totalitários, que tem como objetivo nada mais do que o poder do onipresente Big Brother, que controla todos os aspectos da vida de seus cidadãos.

Com a finalidade de justificar a sua própria existência e permanência no poder por décadas, o Partido propaga constantemente que as demais forças militares o tempo todo planejavam invadi-la, justificando assim a  necessidade de proteger a sociedade da opressão das grandes potências.

Organizado por classes com funções e privilégios diferentes, tem no topo o Grande Irmão que tem o poder de controlar todos os aspectos da vida de seus cidadãos. O Partido era composto pela: A classe mais alta, o Partido Interno que é representada pelos membros do núcleo do Partido e é a que exerce uma maior autonomia; a classe média, o Partido Externo, que representa os cidadãos que trabalham para o governo; a classe baixa, os Proletas, os cidadãos que suportam altíssimas cargas de trabalho. Os Proles, por não representarem perigo, devido à falta de organização e consciência de poder, estavam livres da vigilância constante e assim podiam se reunir com maior facilidade.

Em Oceania, a verdade é permanentemente modificada e reeditada. Fato e ficção se misturam, impossível diferenciá-los — Mentes e corpos controlados em tempo integral. O fato é que o Grande Irmão controla e vê tudo e todos. Esse controle é feito por meio das teletelas bidirecionais que funcionam tanto como televisores quanto câmeras. Hoje, pode ser comparado às redes sociais, com as quais voluntariamente compartilhamos nossas informações, mas também coletam e processam nossos dados sem que estejamos totalmente cientes.

Segundo Winston, O Big Brother, nunca foi visto, e sugere que ele pode não existir. O'Brien, por sua vez, diz que o Big Brother "nunca vai morrer", o que também contribui para esta teoria, sugerindo que o Big Brother pode ser apenas uma representação simbólica do partido como um todo.

Com “Liberdade é escravidão” como um dos seus lemas, esse governo está disposto a tudo para manipular as mentes da população, usando as ideias mais absurdas, como o exemplo citado no livro  2+2=5. Ninguém questiona as leis universais da matemática, que tornam esse cálculo impossível, mas se o Governo disse, está dito. Isso só é possível graças a um fenômeno chamado “duplipensar, um tipo de lavagem cerebral implantada nos cidadãos, isto é, ele apresenta dois conceitos contraditórios e distorce a capacidade de interpretar cada um para perceber que não fazem sentido.

No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos.

Narrado em terceira pessoa, o personagem central Winston Smith, é apresentado ao leitor logo no primeiro parágrafo, como membro do Partido externo e funcionário do Ministério da Verdade, cuja função é reescrever e alterar os registros dos antigos jornais e artigos de opinião, de acordo com o interesse do Partido, jogando os originais no incinerador (Buraco da Memória), eliminando, dessa forma, o passado, tornando sempre verdadeiras as ações do Partido.

Winston se encontra dividido entre o Grande Irmão e Emmanuel Goldstein, considerado inimigo do IngSoc e criado pelo próprio IngSoc, cujo objetivo era incitar o ódio da população contra esse inimigo fortalecendo, ainda mais, o IngSoc.

Winston vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ele questiona a opressão, física e mental que o Partido exerce nos cidadãos. Nas moedas, nos selos, nas capas dos livros, em bandeiras, em cartazes e nas embalagens dos maços de cigarro — em toda parte, em letras minúsculas e precisas, estavam inscritos os mesmos slogans. 

Sempre aqueles olhos observando as pessoas e a voz a envolvê-las. Dormindo ou acordada, trabalhando ou comendo, dentro ou fora de casa, no banho ou na cama —não havia saída. Com exceção dos poucos centímetros que cada um possuía dentro do crânio, ninguém tinha nada de seu.

A Polícia das Ideias é a polícia política e atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas estavam entre as proibições, num cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido. Quem pensasse diferente, era acusado de cometer um crime — crimideia (ou crimepensar, na tradução de novilíngua — idioma do futuro) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e depois vaporizado (desapareceria).

Da mesma forma que o culto, a obediência e a fidelidade ao Grande irmão e às suas ideias deviam ser totais e irrestritas, de igual modo qualquer pensamento de afeto ou de simpatia relacionado às pessoas objeto da alienação seriam considerados crime de pensamento.

Na verdade, no Estado já não existem leis, impera uma única ordem categórica e absoluta: todos devem obedecer. A escrita e as notícias são publicadas baseando-se no controle da população. O que não pode ser reescrito é destruído, essa é a maneira que o Estado encontra para se manter no poder.

As pessoas simplesmente desapareciam, sempre durante a noite. Seus nomes eram removidos dos arquivos, todas as menções a qualquer coisa que tivessem feito eram apagadas, suas existências anteriores eram negadas e em seguida esquecidas — canceladas, aniquiladas e vaporizadas.  

A língua inglesa aos poucos é eliminada e o Partido cria uma nova língua Novafala que condensa as palavras e os seus respectivos sentidos, com o intuito de restringir o pensamento.  Segundo Orwell a Novafala foi concebida não para ampliar, e sim restringir os limites do pensamento, e a redução a um mínimo do estoque de palavras disponíveis era uma maneira indireta de atingir esse propósito. Deste modo, o controle do pensamento não só limitava o pensamento individual como também coletivo, devido ao empobrecimento das interlocuções ocasionado pelo reduzido número de palavras.

Syme, filologista que se dedicava a finalizar a décima-primeira edição do Dicionário de Novilíngua, em uma conversa com Winston acerca dos princípios do idioma oficial da Oceania, disse:

“Estamos dando à língua a sua forma final – a forma que terá quando ninguém mais falar outra coisa. Quando tivermos terminado, gente como você terá que aprendê-la de novo. Tenho a impressão de que imaginas que o nosso trabalho consiste principalmente em inventar novas palavras. Nada disso! Estamos é destruindo palavras – às dezenas, às centenas, todos os dias. Estamos reduzindo a língua à expressão mais simples. A Décima Primeira Edição não conterá uma única palavra que possa se tornar obsoleta antes de 2050.” 

No desenrolar do romance, Winston fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e se sente frustrado com a opressão e o rígido controle do Partido e sonha com uma rebelião contra o Grande Irmão. Contudo, embora deteste o sistema, evita desafiá-lo para escapar da tirania do Grande Irmão.

Winston não tinha camaradas (amigos), aliás ninguém tinha. E, por outro lado, Winston não se sentia seguro em comentar suas angústias, mas ao mesmo tempo ele precisava externar seus sentimentos, por essa razão mantinha um bloco e um lápis (diário), comprados clandestinamente num Antiquário, cujo proprietário o sr. Carrington, em uma das suas visitas lhe mostrou um quarto com arrumação e mobílias antigas — sem teletelas.

Winston usa o canto “cego” do apartamento para escrever seu diário e não ser focalizado pela teletela de seu apartamento, mesmo sabendo que representava perigo para ele, devido à constante vigília da Polícia do Pensamento e que se fosse encontrado poderia ser considerado crime, podendo acabar em morte. Curiosamente, a primeira frase que Winston escreveu foi: Abaixo o Big Brother!

Muitas vezes Winston se pergunta para quem estaria escrevendo o diário — Para o futuro, para o passado ou para uma época talvez imaginária? Fatalmente o diário, quando encontrado,  seria reduzido a cinzas e ele próprio viraria vapor.

É no trabalho que o solitário Winston conhece as duas personagens fundamentais para sua trajetória: Julia, 26 anos — a garota de cabelo escuro, assim chamada por Winston — era militante do Partido e trabalhava no Departamento de Ficção e, também, uma pessoa revoltada contra o sistema. O’Brien era integrante do Partido, mas Winston acreditava que ele era um conspirador e, assim, confessa-lhe suas inquietações e “crimes” sem saber que este o vigiava há anos.

Através de um bilhete, Julia consegue se declarar para Winston e, mesmo sabendo de todos os riscos que estavam correndo, os dois, à medida que se conhecem, apaixonam-se e juram um amor incondicional um pelo outro, embora saibam que um dia poderiam ser pegos.

Apaixonados, os dois começam a desenvolver uma lealdade contra o Partido e o Grande Irmão. O casal pede transferência dos respectivos postos de trabalho e conseguem trabalhar juntos. A alegria, no entanto, acaba, quando surge O’Brien, que com a desculpa de despistar as teletelas, convida Winston a ir ao seu apartamento, ver a nova edição do dicionário Novilíngua. O convite de O`Brien era incomum, mas fez Winston se animar com a possibilidade de que ele realmente fazia parte da organização de famosa resistência pela qual Winston sempre fora obcecado, mesmo antes de conhecer Júlia.

Winston leva Júlia ao encontro e para surpresa do casal, O`Brien desliga a teletela de seu luxuoso apartamento. Winston confessa seu desejo de conspirar contra o Partido, pois acreditava na existência da Fraternidade (uma organização misteriosa) e para tal suas esperanças estavam depositadas em O`Brien.

Os planos eram regados a vinho, iguaria inacessível aos integrantes do Partido Externo, e um brinde destinado ao líder da Fraternidade, Emmanuel Goldstein, o principal inimigo do povo da Oceania, segundo o Partido IngSoc.

No romance, Emmanuel Goldstein, autor do livro The Theory and Practice of Oligarchical Collectivism (referenciado pelas pessoas como O Livro) é retratado pelo Partido como um membro do Partido Interno que continuamente conspirou para depor o Big Brother e derrubar o governo.

Não está claro se Goldstein e a tal organização misteriosa realmente existem. Quando O'Brien é questionado pelo protagonista do romance, ele afirma que O Livro de Goldstein foi escrito pela liderança do Partido, incluindo ele mesmo, mas esta declaração deixa as questões de Goldstein e da existência da Fraternidade sem resposta e pode ser uma mentira de O'Brien para enganar Winston.

É possível que uma oposição política (Goldstein), ao Big Brother, era psicologicamente necessária para justificar toda a sorte de mazelas sociais e também distrair, unir e concentrar a raiva do povo da Oceania, tanto que todos os dias as pessoas paravam suas atividades, durante dois minutos (2 minutos de ódio), para se reunirem em frente a uma teletela na qual imagens de Goldstein são projetadas enquanto todos gritam e deixam fluir a  raiva.

Após uma série de perguntas serem feitas e o próprio O’Brien providenciar uma cópia do livro de Goldstein, Winston “devora” o livro enquanto Júlia não demonstra interesse, cochilando ao seu lado, até que ouvem um barulho atrás de uma pintura da sala e descobrem uma tela de televisão escondida — eles estavam sendo espionados o tempo todo. Winston e Julia são desmascarados e presos no quarto que alugavam do Sr. Charrington, que na verdade era um membro da Polícia das Ideias.

Winston nunca teve a oportunidade de terminar de ler O Livro e aprender os "Porquês?" da Oceania e da ordem mundial em 1984 antes da Polícia do Pensamento prendê-lo, mas ele acreditava que a esperança de mudança estava nos Proles.  

Após ser capturado, Winston é encaminhado para o Ministério do Amor, que é uma espécie de prisão sem janelas, onde fica sentado por dias seguidos, e sozinho. É na hora que O’Brien chega, que a verdade começa a aparecer, já que, inicialmente, Winston pensava que O’Brien também fora pego, mas ao escutar a frase mais enigmática do livro: “Eles me pegaram há muito tempo”, percebe que ele é o torturador. Mesmo torturado, internamente sentia-se livre, admitia odiar o Grande Irmão e amar Júlia.

Por fim, O’Brien leva Winston para a sala 101, a mais temida, que é um local de tortura do Ministério do Amor, onde determinados elementos são expostos ao seu maior pesadelo, medo ou fobia. No caso de Winston, a pior punição seria o contato com ratos, seu maior medo, da relação com mortes e vivências da infância.

Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocaram uma máscara em seu rosto com uma abertura para uma gaiola cheia de ratos famintos separada apenas por uma portinhola.

“Eles saltarão sobre seu rosto e começarão a devorá-lo. Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua.”

Winston não resiste e implora para que coloquem Júlia em seu lugar. Agora, ele é considerado “curado‟: amava apenas o Grande Irmão e assim conquistara a “liberdade‟ por não resistir mais às determinações do Partido.

O mesmo acontece com Júlia, embora ela acredite até o último minuto que pode, de algum modo, desbancar o regime. Ela entende a diferença entre confissão e traição. “Eles podem fazê-lo dizer qualquer coisa, mas não podem fazê-lo acreditar nisso. Não podem entrar em você.”  Mas ela percebe que é exatamente isso o que eles fazem — eles entram em você e põem em dúvida a questão da alma, uma dúvida cruel e terminal, sobre o que acreditamos ser o seu âmago inviolável.

Quando finalmente saem do Ministério do Amor, Winston e Julia curados de sua paixão mútua e da rebeldia, já se encontram em estado de “duplipensar”, nas antessalas da aniquilação e se reintegram no Coletivo, voltando a ser peças obedientes do Partido capazes de amar o grande irmão.

“Mas estava tudo bem, estava tudo certo, a batalha chegara ao fim. Ele conquistara a vitória sobre si mesmo. Winston amava o Grande Irmão.”

Poder-se-ia dizer que, apesar de ter sido banido e questionado em alguns países, o livro 1984 de George Orwell é, ao lado de Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, entre outros, uma das mais famosas representações literárias de uma sociedade distópica, sendo considerado por muitos como o pai de todas as distopias.

Orwell nunca foi tão atual quando previu com clareza o mundo das gerações futuras, causado pelo sucessivo número de guerras, não só o conflito armado e violento, mas também o estado de guerra, por meio do qual pode-se justificar qualquer medida tomada pelas autoridades, onde os avanços científicos e tecnológicos servem a uma ideologia de governos autoritários que voltam a assombrar tanto o Ocidente quanto o Oriente.

1984, é, acima de tudo, um alerta sobre o poder que corrompe, sobre sociedades que misturam autoritarismo e tecnologia, remetendo-nos a uma profunda reflexão e crítica ao fato de cidadãos comuns serem reduzidos a peças para servirem o estado, através do controle total, onde as teletelas e os microfones utilizados como aparatos de espionagem e monitoramento na obra ficcional, hoje se assemelham aos atuais aparelhos de celular, que podem controlar, vigiar o cotidiano de seus usuários.

O mundo descrito por Orwell é o de uma guerra perpétua, acompanhada pela vigilância governamental e a manipulação pública — universo concebido com o objetivo de mostrar os perigos do totalitarismo que, se não combatido, pode triunfar em qualquer lugar, mostrando-nos como poderá ser o futuro da humanidade, caso ela não perceba a tempo que a liberdade natural do homem não deve ser apenas defendida como um direito, mas como poder de poder decidir, em continuar humano e livre enquanto viver.

“Não haverá curiosidade, nem fruição do processo da vida. Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre… não se esqueça, Winston… sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre, a todo momento, haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo vencido. Se quer uma imagem do futuro, pense numa bota pisando um rosto humano – para sempre”. — Visão de futuro do partido, segundo O’Brien.

Sobre o autor:
George Orwell (1903-1950), cujo nome verdadeiro era Eric Arthur Blair, nasceu em Montihari (uma pequena cidade em Bengala). Orwell trabalhou na Polícia Imperial da Índia, mas acabou abandonando o cargo porque já sabia que queria tornar-se escritor. Lançou em Paris e Londres, seu primeiro livro Na Pior em Paris e Londres, em 1933.

Orwell escolhera este nome em homenagem ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na Inglaterra Smith. Assim,  Winston Smith representa o cidadão comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido.

Mudou-se para Paris onde teve uma vida boêmia. Foi para a Espanha lutar contra o franquismo em 1936. Criou o também celebrado romance A revolução dos Bichos, em 1945.

Na vida pessoal, casou-se com Eileen e adotou o pequeno Richard Horatio Blair. Em março de 1945, o escritor ficou viúvo após o falecimento da esposa em decorrência de problemas com a anestesia aplicada em uma cirurgia.

David Astor, um amigo dos tempos da edição, emprestou-lhe uma casa situada na ilha escocesa de Jura, perto de Islay, afastada do resto da sociedade. A casa não possuía sequer eletricidade e o rádio era a única forma de comunicação com o mundo exterior. Foi nesse contexto, e também severamente acometido por uma tuberculose, que o escritor compôs seu último livro, 1984.

Após entregar o manuscrito, foi internado em uma clínica em Cotswolds para tratar a tuberculose. O próprio autor confessou ao melhor amigo: “Eu deveria ter feito isso há dois meses, mas eu queria terminar aquele livro sangrento”. Naquela altura os acometidos pela tuberculose contavam com pouquíssimas possibilidades de cura. Orwell não resistiu a doença e faleceu aos 46 anos.

Nome do livro: 1984
Nome do autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Tradução: Heloisa Jahn e Alexandre Hubner
Preço: A partir de R$ 31,00 (capa comum)
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