“Como terapeuta, sei muito sobre dor, sobre as maneiras como
a dor está ligada à perda. Mas também sei algo menos entendido normalmente: que
a mudança e a perda andam juntas. Não podemos ter mudança sem perda, motivo
pelo qual é tão frequente as pessoas dizerem que querem mudar, mas mesmo assim
continuarem exatamente iguais." (p. 16-17).
O livro
traz as memórias de Gottlieb, tanto como terapeuta quanto como paciente, compartilhando
as inquietações de quatro personagens, os quais são seus pacientes com
vivências bastante distintas, ao mesmo tempo em que ela conta a sua própria
relação com Wendell, seu terapeuta, e o desenrolar de seu tratamento durante um
processo traumático.
O leitor irá se surpreender ao ser capaz de se identificar com os relatos trazidos por Lori e ao se ver torcendo e se emocionando por cada um deles, mostrando o quanto a terapia pode ser necessária e transformadora para todos.
Trata-se de
um romance que levará o leitor a perceber como a vida é frágil, curta e que
cada um de nós deve aprender a superar seus próprios demônios e anseios e, é
claro, se assim o desejar, recorrer a uma boa terapia.
O romance está entre os dez livros de não ficção
mais vendidos no Brasil em 2022 e é best seller do "New York Times",
com mais de um milhão de cópias vendidas.
Logo de cara, o leitor vai perceber que a
protagonista tem o mesmo nome da autora, o que não é mera coincidência, já que a
narrativa é um retrato dos anos de pacientes (utilizado nomes fictícios) do
consultório de Lori e de sua própria experiência como paciente, fazendo jus ao subtítulo do livro: Uma terapeuta, o
terapeuta dela e a vida de todos nós.
Mas, você confiaria sua vida a essa terapeuta? Será que importa mais a vida pessoal do terapeuta ou o que deve ser levado em conta é seu profissionalismo?
O fato é que, logo na 1ª. página do livro, o leitor encontrará uma nota da autora explicando: “...As relações que descrevo aqui,
entre terapeutas e pacientes, exigem uma confiança sagrada para que possa
ocorrer qualquer mudança. Além de obter autorizações por escrito, esforcei-me,
enormemente, para omitir identidades e quaisquer detalhes reconhecíveis e, em
alguns casos, fatos e circunstâncias da vida de alguns pacientes foram
atribuídos a apenas um deles....O que equivale a dizer: se você se vir nestas
páginas, é tanto coincidente quanto intencional”.
Vale dizer que, essa questão também foi abordada em
uma entrevista para o Jornal Estado de Minas em 2020, ano de lançamento do
livro. “Todas as pessoas que aparecem no livro não estavam mais em
tratamento... Também tive a preocupação de alterar qualquer detalhe que as
identificasse, para proteger a confidencialidade de suas histórias pessoais”.
Gottlieb é uma quarentona, com um filho concebido
por inseminação artificial, que trancou a faculdade de medicina e desistiu de
outras duas profissões antes de se formar em psicologia. Após ser deixada pelo namorado,
porque definitivamente ele não queria se relacionar com alguém que tinha filhos, Lori
encontra-se solteira aos 40 anos com um filho pequeno e as loucuras de sua
profissão.
Como se não bastasse, uma doença autoimune e a
iminente morte de seu pai faz Lori procurar por um terapeuta pessoal para
compartilhar suas próprias dores, inseguranças e raivas que, diga-se de
passagem, mesmo para
ela – uma profissional experiente — não é uma decisão fácil.
O livro é narrado em primeira pessoa, a partir de sua própria experiência como paciente, combinando as histórias e a evolução de cada um dos quatro principais personagens, através dos quais a autora relaciona traumas comuns de todos nós com essas quatro vidas e compartilha a importância da terapia na vida das pessoas.
Assim, John, Ele é uma pessoa
amarga, que relata ter dificuldades para dormir, ter problemas com a esposa e,
no geral, só fala gritando; Charlotte, que tem problemas com álcool e com
relacionamentos; Julie, uma professora de 33 anos que luta contra um câncer
terminal; Rita, traz outro ponto ao livro: envelhecer. Rita vai fazer 70 anos e
pretende tirar a própria vida. Envelheceu sozinha e não vê mais sentido em
seguir em frente.
É “quase impossível” não se identificar, em algum momento, no desenrolar da relação terapeuta x paciente, já que o livro conversa o tempo todo com o leitor e o coloca como parte daquela sessão de terapia. A abordagem de cada paciente/personagem na trama, mostra as aflições, o acolhimento, o crescimento deles, diante dos temas delicados presentes como vida, morte, relacionamento, perdas, velhice e vícios, e apesar de cada um carregar suas dores até os dias atuais, aos poucos, conseguem tornar sua vida cada vez melhor, ou ao menos, viver o restante delas da melhor forma.
Talvez Você Deva Conversar com Alguém é um romance que nos convida a refletir
sobre nossas trajetórias — angústia, felicidade, emoção, apatia, concordância,
discordância, medo e coragem com as quais convivemos em nosso dia a dia e
muitas vezes carregamos até o fim. É
um livro para chorar, rir, repensar e tomar medidas novas na sua própria vida. Não
estranhe se você se surpreender decorando suas páginas com “post it ” e, quem sabe, até “encharcar” algumas páginas com
suas lágrimas.
Pode-se dizer que é um livro não só recomendado aos
que já fazem terapia, uma vez que os ajudará a entender melhor seu terapeuta e
aproveitar melhor o momento, como também, é indicado aos que nunca tiveram uma
sessão de terapia, pois cada página fará
com que passem a se enxergar de uma maneira completamente nova e fortalecida,
levando-os a refletir sobre os seus sentimentos e que, afinal de contas, sempre
há formas melhores para viver a vida, já que segundo a autora sempre podemos
mudar, não os fatos, mas a forma como lidamos com eles.
Na verdade, enquanto as experiências entre paciente
e terapeuta são tratadas no livro, o leitor acaba se teletransportando para
suas próprias memórias e agonias e vai percebendo como tudo é ou pode ser
simples. Para os leitores que fazem terapia, será fácil se identificar em algum
ou vários trechos e, para quem não faz, certamente, sentir-se-á impulsionado em
fazer, nem que seja por simples curiosidade.
Vale dizer que a narrativa consegue humanizar a
figura do terapeuta que, geralmente, é visto como um ser superior, iluminado e
dotado de toda a sabedoria, quando na verdade eles são apenas seres humanos
como todos nós.
É um livro que permanece vivo em nossos pensamentos
mesmo dias após o término da leitura. A recomendação é Ler e Reler,
mesmo que você não tenha interesse por essa área, já que o livro é uma
oportunidade para tentar entender “um pouco” sobre terapia e, quem sabe, desmistificar
alguns estereótipos. Então, Talvez “todos nós” devíamos conversar com alguém,
ou não?
Sobre a autora
Além
de sua prática clínica como terapeuta, Lori Gottlieb escreve a coluna semanal
de conselhos “Caro terapeuta”, da revista The Atlantic, e contribui
regularmente com o New York Times e muitas outras publicações. Já escreveu
centenas de artigos relacionados a psicologia e cultura, muitos dos quais se
tornaram sensações na internet. É uma especialista requisitada com frequência
por mídias como The Today Show, Good Morning America, The CBS Early Show, CNN e
NPR. Saiba mais em LoriGottlieb.com ou seguindo-a no Twitter: @LoriGottlieb1.
Talvez você deva conversar com alguém
Título Original: Maybe You Should Talk to Someone
Autora: Lori Gottlieb
Tradução: Elisa Nazarian
Editora: Vestígio - Grupo Autêntica
Edição 1: Ano 2020
Preço: Capa Comum: A partir de R$ 42,10
Kindle:
A partir de R$ 39,99
Tags: Terapeuta, Lori Gottlieb, psicólogo, alma, medo, insegurança, coragem, luto, velhice, paternidade, angústia, felicidade, dor e câncer.