Este é o Lobo — Alexandre Rampazo


Entre os medos da infância, talvez o do Lobo Mau dos contos infantis seja o mais universal e é justamente esse temido e matreiro personagem que o escritor e ilustrador Alexandre Rampazo transforma em protagonista de seu livro, Este é o Lobo, cuja história trata da solidão que o lobo sente em decorrência do medo que os outros sentem dele, por ser um dos vilões mais temíveis das histórias do mundo imaginário infantil.

Assim, esse lobo com esse jeitão de lobo, cara de lobo, nariz de lobo, olhar de lobo e pelo de lobo não é aquele lobo mau e assustador que devora a vovozinha, quis matar Chapeuzinho Vermelho, amedrontou os três porquinhos e tampouco aquele lobo moderno da versão Chapeuzinho Amarelo que coloca o lobo no seu lugar e ele vira um lobo bobo, um lobo bolo. Agora, ele é um lobo solitário que apesar de toda sua fama de mau sente-se pequeno diante da solidão. 

A capa do livro Este é o Lobo apresenta um Lobo grande que ocupa a página toda, peludo,  com ar de malvado, olhar amarelo e penetrante. O autor, de maneira lúdica, brinca com as imagens coloridas, folhas em branco, frases simples e curtas, intercalando seu lobo com outros personagens que habitam o mundo imaginário, como Chapeuzinho Vermelho, a vovó, Os Três Porquinhos,  a Princesa, o Príncipe, o Caçador, que induzem o leitor a mergulhar nas diversas formas dos contos infantis.    

Em Este é o Lobo Rampazo desconstrói a imagem desse vilão dos contos de fadas que ninguém quer por perto e, a cada virada de página, a história de medo se transforma numa história de solidão, numa súplica de amizade e traz uma importante reflexão, a cerca da tolerância e empatia, através de ilustrações lúdicas e divertidas feitas pelo próprio autor que começou a desenhar ainda criança e hoje ilustra livros de outros autores e suas próprias criações.

O “inspirador” da história, conta o autor, foi um desenho que seu afilhado, Mateus, fez de um lobo que comia um menino e aí Rampazo resolveu dar um novo significado ao conto“Comecei a pensar: e se o lobo não comesse o menino e tivesse pedindo um pouco de atenção”, lembra. “Falo do lobo, mas também dos nossos medos, dos estigmas que colocamos sobre os outros”.

As histórias de Este é o lobo são contadas a partir do ponto de vista de um menino, que nada mais do que é um “outro eu” de Rampazo ou, quem sabe,  “um outro eu” dos próprios leitores que terão que redescobrir e atribuir um novo significado  às histórias do lobo.

A cada página, o autor utiliza-se de suas ilustrações e traz o lobo,  a Chapeuzinho, a vovozinha, o caçador, os três porquinhos, a princesa e o príncipe,  que assim como aparecem, também desaparecem, mas o lobo permanece, parado e com seu olhar... O fato é que à medida que os personagens vão desaparecendo, a imagem do lobo vai diminuindo, página por página, até ele ficar sozinho e tão distante que passa a ser referido como “Aquele é o Lobo”, restando apenas o lobo e o vazio das páginas em branco.

Ao surgir o menino de pijama o lobo parece cada vez mais distante... Mas tudo muda quando o menino faz a grande pergunta: Ei, seu Lobo… quer brincar? E é a resposta do Lobo que vai fazer toda a diferença na forma como o leitor que, até então, apenas enxergava o famoso vilão dos contos infantis, conduzindo-o a refletir sobre os estereótipos que criamos dos outros baseados apenas nas aparências ou no que nos foi contado.

Por outro lado, o leitor ao perceber a alegria desse lobo solitário que apesar de ontem, ter sido poderoso, agora se sente diminuído, pequenino e que para se reconstruir precisou que alguém o “percebesse”  e o convidasse a brincar, pode conduzir esse mesmo leitor a se questionar sobre valores, hábitos, amizade, sentimentos e imaginação que podem revelar muito mais dele do que do próprio lobo.


Este é o Lobo
Texto, ilustrações e projeto gráfico: Alexandre Rampazo
Editora: DCL
Indicação: Prêmio Jabuti de Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil
Preço: A partir de R$ 21,70

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