Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque de Holanda , conta a história de uma menina com medo do medo — uma menina amarela de medo — que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade, chegando ao ponto de não brincar, não se divertir, não comer, nem mesmo dormir.
Enfrentando o desconhecido “O Lobo”, ela supera medos, inseguranças e descobre a alegria de viver. Com sensibilidade, Chico Buarque constrói um texto no qual aparece com transparência o valor mágico que o autor atribui à palavra e não só trata com maestria nossos medos, como também, ensina as crianças a superar suas fobias.
...Chapeuzinho Amarelo,
de tanto pensar no lobo,
de tanto sonhar com lobo,
de tanto esperar o lobo,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de lobo,
olhão de lobo,
jeitão de lobo
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz
de comer duas avós,
um caçador,
rei, princesa,
sete panelas de arroz
e um chapéu
de sobremesa ....
de tanto pensar no lobo,
de tanto sonhar com lobo,
de tanto esperar o lobo,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de lobo,
olhão de lobo,
jeitão de lobo
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz
de comer duas avós,
um caçador,
rei, princesa,
sete panelas de arroz
e um chapéu
de sobremesa ....
Considerado um clássico da literatura infantil brasileira, Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque de Holanda, foi editado pela primeira vez em 1979 e, foi relançado em 1997 pela Editora Josá Olympio com ilustrações do chargista e caricaturista Ziraldo. A obra foi condencorada com o selo Altamente Recomendável para Crianças da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), em 1979, e ganhou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 1998.
A expressão “Era a Chapeuzinho Amarelo” assinala o começo do novo conto e faz alusão direta à fórmula “Era uma vez”. Existe, no entanto, uma diferença: a abertura do texto não está direcionada para um acontecimento que talvez tenha acontecido “uma certa vez”, mas descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade.
O leitor ao ler o título “Chapeuzinho Amarelo”, imediatamente dirá: “Eu já li esse livro!”... “mas o chapeuzinho era vermelho!”, “será que também tem lobo nessa história e vai comer a chapeuzinho?”, porém ao virar a página perecebe que é diferente do conto original, já que a menina do Chapeuzinho Amarelo, apresenta uma heroína que com características culturais de um novo tempo enfrenta os conflitos presentes na criança moderna que, muitas vezes, se deixa dominar pelo medo e esse medo de tudo a impede de viver enquanto criança, isolando-a do mundo, dos prazeres da infância e da alegria de viver.
Nessa nova versão de Chapeuzinho, texto e imagens afirmam que Chapeuzinho Amarelo tinha muito medo de encontrar um lobo fantasioso, que tal como o velho lobo, este novo lobo também era capaz de não só comer a vovózinha, mas também um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e um chapéu de sobremesa e, este medo é muito bem ilustrado por Ziraldo que utiliza uma figura-fundo onde a sombra projetada pelas pernas de Chapeuzinho sugere formar a boca do lobo pronto para devorá-la e, essa “boca”, representa o medo que a menina possuía de um lobo não-existente que só aparece como uma sombra recortada na claridade.
Sem receber ajuda de nenhuma “entidade mágica”, Chapeuzinho tem que enfrentar “ O medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO...Um LOBO que não existia” e este confronto torna-se decisivo para o desenlace da história, pois neste momento ocorre o conflito entre o personagem e a possível solução do mesmo e, é esta mudança de atitude que rompe a opressão, o controle e faz com que se liberte do conformismo e da passividade da antiga menina — Chapeuzinho Vermelho.
Neste confronto, a ilustração que acompanha a menina e o lobo mostra os dois frente a frente com as mãos abaixadas, como se estivessem prontos para uma luta — a defesa de seu espaço — e a menina percebe que o lobo já não lhe causa nenhum medo e, na ilustração seguinte, apresenta uma Chapeuzinho já sem medo do lobo, com o corpo projetado para a frente e encarando o lobo e, a partir deste encontro, Chapeuzinho que se fechava para o mundo, presa à sua imaginação, começa a enxergar o lobo como um animal qualquer, provavelmente incapaz de devorar pessoas, portanto, já não o vê mais como um animal traiçoeiro e cruel capaz de engoli-la sem mastigar.
O Lobo, por sua vez, ao compreender que a menina não tinha mais medo e, portanto, não reage conforme suas expectativas, sente-se desmoralizado e isto é ressaltado na ilustração quando o lobo perde sua identidade pavorosa e ganha a imagem de um verdadeiro palhaço.
Na tentativa de recuperar seu papel de vilão dominador, grita seu nome várias vezes e ao ouvir seus gritos Chapeuzinho Amarelo não demonstra medo, como nas versões consagradas do conto e, mais uma vez, o narrador afirma que a menina conhece as antigas histórias em que o lobo aparece como sendo mau, insaciável, destruidor. Para afirmar isso, usa a palavra "enjoada", o qual subentende-se que a menina está saturada desse animal faminto que aparece em tantas histórias que ouviu ou leu e, como tal, despreza suas garras e presas às quais considera inofensivas e, portanto, a Chapeuzinho Amarelo, neste momento, revela uma nova imagem: corajosa, forte, dominadora e ousada.
A superação do medo é também percebida através da decomposição em sílabas da palavra "lobo" e da inversão destas sílabas e, o próprio lobo, através do grito e da repetição do seu nome “....lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo...” , na tentativa de recuperar sua imagem amedrontadora, colabora para sua transformação da palavra “lobo” em "bolo"!
Nesse momento “O LOBO” vira “um lobo”, ou melhor dizendo “um lobo bolo” todo decorado pela imaginação da Chapeuzinho, que podia degustá-lo, mas preferiu não comer aquele “bolo de lobo”, porque sempre preferiu o de chocolate...
Um outro fator interessante e importante na história é a transformação da figura do lobo através da própria palavra "LOBO", que, inicialmente, aparece em letras maiúsculas até quando a menina o confronta e, a partir do momento que ela perde o medo, a grafia passa a ser minúscula: "lobo", portanto, menos perigoso do que “LOBO”.
A partir desse momento, o autor não mais se refere à menina como Chapeuzinho Amarelo, uma vez que a palavra "Amarelo" significa o medo que ela sente do lobo e quando esse medo desaparece, ela escapa, com talento e coragem, da prisão nominal de Chapeuzinho Amarelo — Agora ela é a "Chapeuzinho" ou "a menina", que passa a ser simplesmente menina e, como tal, passa a se divertir com outras crianças e, aparece então, brincando de amarelinha com as bochechas vermelhas — sinal evidente de que o medo passou — já não é mais amarela — e na última página, o chapéu aparece como se fosse jogado para o ar...
A essa altura descobrimos uma menina que pela sua coragem, capacidade e sagacidade aprendeu como transformar o velho em novo, portanto, apta para fazer suas próprias escolhas. Utilizando-se de trocadilhos e deslocamentos, entre palavra-som-imagem, a menina, recria outros companheiros dos quais qualquer “menina” poderia ter medo: dragão, coruja, tubarão, bicho-papão e outros monstros e, ao mesmo tempo, apresenta “comportamentos” muitas vezes não esperados para meninas: como entrar no mato, trepar em árvores e roubar frutas..
A expressão “Era a Chapeuzinho Amarelo” assinala o começo do novo conto e faz alusão direta à fórmula “Era uma vez”. Existe, no entanto, uma diferença: a abertura do texto não está direcionada para um acontecimento que talvez tenha acontecido “uma certa vez”, mas descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade.
O leitor ao ler o título “Chapeuzinho Amarelo”, imediatamente dirá: “Eu já li esse livro!”... “mas o chapeuzinho era vermelho!”, “será que também tem lobo nessa história e vai comer a chapeuzinho?”, porém ao virar a página perecebe que é diferente do conto original, já que a menina do Chapeuzinho Amarelo, apresenta uma heroína que com características culturais de um novo tempo enfrenta os conflitos presentes na criança moderna que, muitas vezes, se deixa dominar pelo medo e esse medo de tudo a impede de viver enquanto criança, isolando-a do mundo, dos prazeres da infância e da alegria de viver.
Nessa nova versão de Chapeuzinho, texto e imagens afirmam que Chapeuzinho Amarelo tinha muito medo de encontrar um lobo fantasioso, que tal como o velho lobo, este novo lobo também era capaz de não só comer a vovózinha, mas também um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e um chapéu de sobremesa e, este medo é muito bem ilustrado por Ziraldo que utiliza uma figura-fundo onde a sombra projetada pelas pernas de Chapeuzinho sugere formar a boca do lobo pronto para devorá-la e, essa “boca”, representa o medo que a menina possuía de um lobo não-existente que só aparece como uma sombra recortada na claridade.
Sem receber ajuda de nenhuma “entidade mágica”, Chapeuzinho tem que enfrentar “ O medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO...Um LOBO que não existia” e este confronto torna-se decisivo para o desenlace da história, pois neste momento ocorre o conflito entre o personagem e a possível solução do mesmo e, é esta mudança de atitude que rompe a opressão, o controle e faz com que se liberte do conformismo e da passividade da antiga menina — Chapeuzinho Vermelho.
Neste confronto, a ilustração que acompanha a menina e o lobo mostra os dois frente a frente com as mãos abaixadas, como se estivessem prontos para uma luta — a defesa de seu espaço — e a menina percebe que o lobo já não lhe causa nenhum medo e, na ilustração seguinte, apresenta uma Chapeuzinho já sem medo do lobo, com o corpo projetado para a frente e encarando o lobo e, a partir deste encontro, Chapeuzinho que se fechava para o mundo, presa à sua imaginação, começa a enxergar o lobo como um animal qualquer, provavelmente incapaz de devorar pessoas, portanto, já não o vê mais como um animal traiçoeiro e cruel capaz de engoli-la sem mastigar.
O Lobo, por sua vez, ao compreender que a menina não tinha mais medo e, portanto, não reage conforme suas expectativas, sente-se desmoralizado e isto é ressaltado na ilustração quando o lobo perde sua identidade pavorosa e ganha a imagem de um verdadeiro palhaço.
Na tentativa de recuperar seu papel de vilão dominador, grita seu nome várias vezes e ao ouvir seus gritos Chapeuzinho Amarelo não demonstra medo, como nas versões consagradas do conto e, mais uma vez, o narrador afirma que a menina conhece as antigas histórias em que o lobo aparece como sendo mau, insaciável, destruidor. Para afirmar isso, usa a palavra "enjoada", o qual subentende-se que a menina está saturada desse animal faminto que aparece em tantas histórias que ouviu ou leu e, como tal, despreza suas garras e presas às quais considera inofensivas e, portanto, a Chapeuzinho Amarelo, neste momento, revela uma nova imagem: corajosa, forte, dominadora e ousada.
A superação do medo é também percebida através da decomposição em sílabas da palavra "lobo" e da inversão destas sílabas e, o próprio lobo, através do grito e da repetição do seu nome “....lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo...” , na tentativa de recuperar sua imagem amedrontadora, colabora para sua transformação da palavra “lobo” em "bolo"!
Nesse momento “O LOBO” vira “um lobo”, ou melhor dizendo “um lobo bolo” todo decorado pela imaginação da Chapeuzinho, que podia degustá-lo, mas preferiu não comer aquele “bolo de lobo”, porque sempre preferiu o de chocolate...
Um outro fator interessante e importante na história é a transformação da figura do lobo através da própria palavra "LOBO", que, inicialmente, aparece em letras maiúsculas até quando a menina o confronta e, a partir do momento que ela perde o medo, a grafia passa a ser minúscula: "lobo", portanto, menos perigoso do que “LOBO”.
A partir desse momento, o autor não mais se refere à menina como Chapeuzinho Amarelo, uma vez que a palavra "Amarelo" significa o medo que ela sente do lobo e quando esse medo desaparece, ela escapa, com talento e coragem, da prisão nominal de Chapeuzinho Amarelo — Agora ela é a "Chapeuzinho" ou "a menina", que passa a ser simplesmente menina e, como tal, passa a se divertir com outras crianças e, aparece então, brincando de amarelinha com as bochechas vermelhas — sinal evidente de que o medo passou — já não é mais amarela — e na última página, o chapéu aparece como se fosse jogado para o ar...
A essa altura descobrimos uma menina que pela sua coragem, capacidade e sagacidade aprendeu como transformar o velho em novo, portanto, apta para fazer suas próprias escolhas. Utilizando-se de trocadilhos e deslocamentos, entre palavra-som-imagem, a menina, recria outros companheiros dos quais qualquer “menina” poderia ter medo: dragão, coruja, tubarão, bicho-papão e outros monstros e, ao mesmo tempo, apresenta “comportamentos” muitas vezes não esperados para meninas: como entrar no mato, trepar em árvores e roubar frutas..
Mesmo quando está sozinha,
Inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro
cada medo que ela tinha:
o raio virou orrái,
barata é tabará,
a bruxa virou xabru
e o diabo é bodiá.
Inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro
cada medo que ela tinha:
o raio virou orrái,
barata é tabará,
a bruxa virou xabru
e o diabo é bodiá.
O medo que fazia tremer Chapeuzinho Amarelo e a impedia de manifestar suas vontades e desejos de criança, desapareceram e, amadurecida, mostra possuir discernimento suficiente para ingressar no mundo dos adultos, portanto, responsável por seus próprios atos.
Pode-se dizer que a paródia de Chico Buarque — ao contrário do conto tradicional Chapeuzinho Vermelho,no qual o Lobo ocupa a posição de dominador com características de maldade e agressividade e a Chapeuzinho representa posição de dominada, com suas características de ingenuidade e impotência — descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos de fadas em sua própria realidade, porém, ao confrontar seus medos transforma-se numa menina forte e dominadora e, o Lobo, fraco e dominado.
Vale ressaltar que o jogo visual utilizado para ilustrar o medo da menina,neste livro, imediatamente, nos remete às brincadeiras em que as crianças produzem imagens a partir da sombra de suas mãos.
Chico Buarque aborda com mestria, a eficácia simbólica da poesia — a vitória sobre o medo, por meio do poder da palavra — na questão do desenvolvimento infantil, os percalços da criança para crescer, e sobretudo da questão primordial do enfrentamento do “medo” , não só do medo infantil, mas também, medo da criança que habita em cada um de nós e que muitas vezes nos impede de viver.
Mostra ainda que para a criança e também para alguns de nós, os grandinhos, a realidade é contraditória, ambígua, e que para viver precisamos aprender a viver de uma forma mais real possível e não numa realidade que muitas vezes é deformada por nós mesmos, nos privando de fazermos as coisas corriqueiras por medo ao desconhecido que pode nos trazer “alguns riscos inevitáveis”, porém, quando o enfrentamento se impõe, o objeto desse medo surge nas suas reais dimensões e o medo desaparece e, portanto, crescemos e aprendemos a viver.
Pode-se dizer que a paródia de Chico Buarque — ao contrário do conto tradicional Chapeuzinho Vermelho,no qual o Lobo ocupa a posição de dominador com características de maldade e agressividade e a Chapeuzinho representa posição de dominada, com suas características de ingenuidade e impotência — descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos de fadas em sua própria realidade, porém, ao confrontar seus medos transforma-se numa menina forte e dominadora e, o Lobo, fraco e dominado.
Vale ressaltar que o jogo visual utilizado para ilustrar o medo da menina,neste livro, imediatamente, nos remete às brincadeiras em que as crianças produzem imagens a partir da sombra de suas mãos.
Chico Buarque aborda com mestria, a eficácia simbólica da poesia — a vitória sobre o medo, por meio do poder da palavra — na questão do desenvolvimento infantil, os percalços da criança para crescer, e sobretudo da questão primordial do enfrentamento do “medo” , não só do medo infantil, mas também, medo da criança que habita em cada um de nós e que muitas vezes nos impede de viver.
Mostra ainda que para a criança e também para alguns de nós, os grandinhos, a realidade é contraditória, ambígua, e que para viver precisamos aprender a viver de uma forma mais real possível e não numa realidade que muitas vezes é deformada por nós mesmos, nos privando de fazermos as coisas corriqueiras por medo ao desconhecido que pode nos trazer “alguns riscos inevitáveis”, porém, quando o enfrentamento se impõe, o objeto desse medo surge nas suas reais dimensões e o medo desaparece e, portanto, crescemos e aprendemos a viver.
Era a Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada, nem descia.
Não estava resfriada, mas tossia.
Ouvia conto de fada, e estremecia.
Não brincava mais de nada, nem de amarelinha
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo.
Era a Chapeuzinho Amarelo…
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo.
Era a Chapeuzinho Amarelo…
E de todos os medos que tinha
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
Mesmo assim a Chapeuzinho
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO.
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO.
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
Finalizando…
Mas o engraçado é que
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Mas o engraçado é que
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
O lobo ficou chateado.
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando e a menininha saber
com quem não estava falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando e a menininha saber
com quem não estava falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Aí, Chapeuzinho encheu e disse:
"Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!"
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu de chocolate.
"Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!"
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu de chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.
Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,
Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,
com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.
Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:
O raio virou orrái;
barata é tabará; a bruxa virou xabru; e o diabo é bodiá.
FIM
Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo:
o Gãodra, a Jacoru,
o Barãotu, o Pão Bichôpa…
e todos os tronsmons).
o Gãodra, a Jacoru,
o Barãotu, o Pão Bichôpa…
e todos os tronsmons).
Chapeuzinho Amarelo
Autor: Chico Buarque de Holanda
Ilustrador: Ziraldo
Assunto: Infanto-Juvenil — Literatura Infantil
Editora: José Olympio
Preço: De R$ 10,90 até R$ 22,00
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