Os leitores das
obras de Ziraldo sabem que seu público-alvo é o infantil, com destaque para os
meninos, já que segundo o próprio autor ele entende mais sobre meninos do que
sobre meninas.
Mas, na verdade, suas obras atiçam o imaginário de gerações de crianças, tanto meninas quanto meninos, de todas as idades, que leem histórias do Menino Maluquinho, da turma do Pererê, do Jeremias, do Vito Grandam e de tantos outros personagens inventados pelo mineiro.
Mas, na verdade, suas obras atiçam o imaginário de gerações de crianças, tanto meninas quanto meninos, de todas as idades, que leem histórias do Menino Maluquinho, da turma do Pererê, do Jeremias, do Vito Grandam e de tantos outros personagens inventados pelo mineiro.
O fato é que a
ideia de escrever sobre meninas, não estava no roteiro, entretanto, num de seus
encontros com jovens leitores ao
comentar sobre seu livro “O Menino
da Lua”, foi questionado por uma garotinha sobre a ausência de uma menina
entre os amigos de Zélen, personagem principal da obra.
"Por que é que você não pôs meninas nos seus
planetas?". “Menino eu entendo pra burro, não
preciso fazer pesquisa. Sei como menino sente as coisas. Menina, sei lá...
Tenho de fazer pesquisa para saber qual é o sentimento delas”, tenta responder Ziraldo.
A pequena fã não se deu por satisfeita. “Você fez isso porque os seus meninos são dos planetas, mas as Meninas
são das estrelas”, argumentou ela. Assim, como forma de atender a leitora
maluquinha, Ziraldo escreveu Menina das Estrelas,
publicado primeiramente no ano de 2007.
A provocação motivou o autor a mergulhar no universo das meninas e, em
setembro de 2016, pela Editora Melhoramentos, Ziraldo lança seu novo livro Meninas,
onde o autor continua mantendo o cenário infantil, só que dessa vez o autor se
concentra em criar um livro onde possa explicar
“quem é a menina”, focando quatro anos da infância, ou, como diz,
"quatro verões", a fase dos sete aos onze anos. Antes dos sete, ela
ainda é criancinha. Depois dos onze, já é pré-adolescente. A fase de menina
mesmo só dura esse tempo e pode ser considerada como a fase mais fascinante.
“Ele é feito das fantasias do
sonho. É preciso olhar para o olhar da menina, que está sempre voltado para
inimagináveis rumos”, escreve no livro.
As ilustrações do livro Meninas
foram feitos por Ziraldo inspirados em Alice
no País das Maravilhas, mas foi Renato Luiz Campos, o Aroeira, amigo do
autor, que colocou as cores de forma
digitalizada.
“Ficou bonito assim, porque foi colorido pelo Aroeira, meu irmãozinho
mineiro e um gênio das cores”, explica.
Em Meninas, Ziraldo aborda a fase mágica da infância das garotas,
que vai dos 7 aos 11 anos. Narra o mundo da menina,
seus sonhos, medos, invenções, coragem, paixões, metamorfoses e sua jornada para
se tornar mulher.
De maneira
filosófica, ele se coloca na “altura” das crianças, ao se dirigir a elas para
falar daquele momento na vida das mulheres, que dura tão pouco, mas é para
sempre.
Para escrever e
ilustrar Meninas, Ziraldo começou a ler sobre Alice no País das Maravilhas, clássico de Lewis Carroll. A
influência fica bem evidente nas ilustrações e nas linhas do livro, em que
muitas meninas representam a própria Alice.
“Carroll explicou o que é o ser feminino, o que é a
entidade feminina. Então, se você entender Alice, você entende a mulher”, aposta.
Ziraldo pesquisou
edições diferentes de Alice no País das
Maravilhas de Lewis Carroll. Primeiro leu a versão original de Alice em
inglês, e as traduções para o francês, o italiano e o espanhol que são as
únicas línguas que consegue ler. Nas traduções notou algumas diferenças, mas
percebeu que o texto do Carroll é muito imaginativo e permite diferentes leituras.
O fato é que Ziraldo
considera o livro como um pequeno tratado sobre essa entidade chamada feminina,
sobre o que é ser feminino. A personagem de Alice é a própria feminilidade em
todas as reações, nas formas como reage aos estímulos.
Os sentimentos
da mulher e da menina estão entrelaçados, comenta ele. “As duas sentem igual, mas o corpo mudou, está cheio de vontade, volumes
e desejos fluidos que o outro corpo não tinha. A alma é a mesma. Com todas as
novidades que o tempo projeta em série no corpo feminino, ela continua a ser
dominada na condição que adquiriu quando foi menina”, analisa.
Em forma de poema, o livro
acompanha a transformação da menina em menina-moça. Como sempre, a obra
apresenta casamento perfeito entre texto e ilustrações. Nesse último quesito,
aliás, vale destacar uma surpresa: em um dos desenhos, a menina assume a
caricatura da atriz Tatá Werneck.
O lirismo observado
na passagem citada é mantido ao longo de toda a narrativa de Meninas, constituindo
um dos pontos altos de todo o livro. A história que Ziraldo nos conta, já de
início é esclarecedora ao afirmar que: “O
mundo é dos meninos. Mas não são eles que mandam no mundo”.
Pode-se dizer
que Ziraldo, Maurício de Sousa e Monteiro Lobato, podem ser considerados os
responsáveis por terem atiçado a imaginação não apenas dos pirralhos, mas
também da menina, da menina moça, do menino, dos jovens, dos adultos e, sem dúvida alguma,
também representou um papel importante nos primeiros contatos com a
literatura.
É notório que as histórias que Ziraldo nos conta,
como o faz em Meninas, nos acompanham enquanto
crianças e vão crescendo conosco e, mesmo chegando ao final, elas nunca
terminam, pois sempre há uma possibilidade de renascerem em outras obras.
De fato, entender o mundo da menina pode ser complicado e fica
mais difícil ainda quando ela se torna mulher. Nas palavras do próprio Ziraldo,
Meninas, é um ensaio sobre a condição feminina, cujo tema são todas as meninas,
meninas-moças e por fim, mulheres que crescem e se modificam externamente,
porém, sem perder a essência interior.
Ziraldo mostra que não está alheio
à ação de feministas de diferentes gerações. “As mulheres conseguiram conquistas incríveis. Se você luta em grupo e
se a sua causa é justa, você acaba vitorioso. Demora muito, mas agora as
mulheres do mundo não precisam se preocupar em querer assumir o poder, porque é
algo inexorável”, diz.
O autor é taxativo em dizer que os
“homens fracassaram redondamente” e a
única chance de o mundo dar certo é elas assumirem o comando. Bem... Meninas ou Meninos, ou Meninas e Meninos? Quem sabe, Ziraldo nos surpreenda com mais uma obra recheada de meninos e meninas lutando lado a lado por um mundo melhor. Por que não?
Livro: Meninas
Autor: Ziraldo
Editora:
Melhoramentos
Páginas: 48
Preço Médio: R$ 49,00
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