O livro Lava Jato - O juiz Sergio Moro e
os bastidores da operação que abalou o Brasil do jornalista Vladimir
Netto tem o mérito de organizar e trazer à tona detalhes sobre o enredo do
maior esquema de corrupção já desvendado no país e seus principais personagens.
É, acima de tudo, um registro histórico preciso e detalhista que traz bastidores, ligações perigosas, diálogos e curiosidades da maior operação do país — a Lava
Jato.
Diante do desafio de narrar uma
história que ainda está em construção, o jornalista Vladimir Netto manteve
sempre um objetivo em mente: fazer um relato fiel dos bastidores da operação Lava
Jato — a operação que alterou a forma como a justiça brasileira
investiga atos ilícitos dos políticos e executivos.
A Lava Jato continua
revelando escândalos e, para o público que não conseguiu acompanhar todas as
etapas conduzidas pela força-tarefa da investigação, o livro do jornalista
Netto, produzido em 17 meses, traz a oportunidade de entender a gênese, os
bastidores e os principais personagens da maior ação de combate à corrupção já
realizada no país.
"Logo de cara já dava para ver que tinha uma história bacana ali. Mas o que me fez decidir escrever o livro foi o fato de que essa operação foi mais longe do que as outras. Ela foi mais bem-sucedida. Ela alcançou objetivos que outras operações não tinham alcançado", pontuou Netto.
Repórter do Jornal Nacional, da
rede Globo, Vladimir Netto acumulou cerca de 70 horas de entrevistas com
investigadores e protagonistas para, em linguagem ágil e direta, remontar
cronologicamente a extraordinária sequência de acontecimentos, entremeada de
lances de sorte, que construiu a Lava Jato.
O resultado é que a obra está nas listas das mais vendidas
de Não Ficção da Folha de São Paulo e da Veja, os direitos já foram comprados
pelo diretor José Padilha e o livro vai virar uma série da Netflix, com estreia
prevista para 2017.
Netto tem participado da
cobertura da operação Lava Jato, desde Brasília, onde atua como repórter da TV
Globo, o que possibilitou, em algumas oportunidades, estar presente na capital
paranaense, sede das investigações, onde conheceu e conversou com alguns dos
principais personagens da operação, tanto
investigados, quanto investigadores.
Vladimir Netto acompanhou as
investigações desde seu início, março de 2014, e, como num livro de suspense,
vai revelando, pouco a pouco, não só o que seria mais que mera informação, mas
mostrar também a alma de personagens, tanta vezes, donos de um cinismo
impensável.
“Comecei a trabalhar neste projeto no dia 1º de janeiro de 2015, depois
de voltar da cobertura de posse da presidente reeleita Dilma Roussef. Em casa à
noite, a primeira coisa que fiz foi ligar para algumas fontes. Sem elas, não
seria possível ter chegado até aqui. Expliquei que teriam que me contar tudo o
que acontecera dese o início da Operação Lava Jato, e também o que viesse pela
frente. As fontes generosamente aceitaram. E isso fez toda a diferença”, disse o jornalista.
Detalhes cruciais da Lava Jato,
muitas vezes preteridos na acelerada cobertura diária da operação, não passaram
despercebidos pelo jornalista. A investigação que partiu de um núcleo de
doleiros que atuava em um posto de gasolina da capital, por onde circulava
dinheiro vivo e assessores do Congresso Nacional, chegou ao coração da
República, em dois anos.
Neto detalha a rotina na cadeia, cuja austeridade é
capaz de soltar a língua dos presos mais resolutos, esmiúça as empreiteiras e
seus dirigentes, que se julgaram acima da lei, e amarra os fios que se soltaram
ao longo do caminho, permitindo uma compreensão global do caso, onde o leitor
vai descobrindo quem são os personagens chave
desse processo (doleiros, dirigentes da Petrobras, políticos e empreiteiros) e
como se articularam para desviar bilhões dos cofres da estatal.
O jornalista conversou
longamente com dois homens-chave do esquema, o doleiro Alberto Youssef,
principal operador do petrolão, e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
abastecimento da estatal — respectivamente o primeiro e o segundo na
longa fila de envolvidos que fizeram acordos de delação.
Em torno deles transcorrem os
relatos mais reveladores, onde fica evidente a insistência dos políticos em
pedir dinheiro a Youssef, mesmo quando ele estava hospitalizado, em repouso
absoluto após um infarto. "Ligavam e
falavam: poxa vida, tomara que se recupere. Mas então, tem aquele problema lá,
aquele dinheiro ...", contou um policial que ouviu as conversas
grampeadas.
O texto relata ainda que a
compra do carrão que o doleiro pagou para o diretor e que acabou por expor o
vínculo entre eles foi um ato de impulso. Segundo o próprio Costa, em maio de
2013, ele e Youssef estavam presos no trânsito em São Paulo, em frente a uma
concessionária. Ele apontou para um modelo de que gostava e comentou que
"um dia" compraria aquele veículo. "Um dia, não. Vamos comprar agora. Eu pago o carro e a gente desconta
daquele dinheiro lá", decidiu Youssef, num gesto não planejado que
encrencaria a dupla.
A partir das informações que
obteve, Netto calcula que, entre 2011 e março de 2014, Youssef movimentou 400
milhões de dólares em 3.500 operações no esquema do petrolão. Nem se
desconfiava disso quando ele foi preso, em 2014, prisão esta resultado de um
golpe de sorte, quando a polícia o procurava em São Paulo, ele estava em São
Luiz, no Maranhão, com o celular desligado para não ser localizado. Entretanto,
ao baixar a guarda à noite, para falar com a filha, foi apanhado.
Outra obra do acaso foi sua
identificação. A quadrilha só o chamava de "primo". Mas o delegado
Igor Romário de Paula, ex-controlador de voo no Paraná, ao ter contato com as
gravações reconheceu a voz do doleiro, a quem ouvia quando ele pilotava
aeronaves usadas em contrabando, trinta anos antes.
Sobre a vida dos personagens Pré Lava
Jato, o livro revela, entre outras coisas, que Youssef entrou para o
crime quando vendia salgadinhos no saguão do aeroporto de Londrina e se
aproximou dos contrabandistas que ali circulavam. Vale citar que o juiz Sergio
Moro, comandante da operação, foi professor de Rosângela, sua mulher, na faculdade de direito da cidade paranaense.
Um dos pontos altos da leitura
é a relação tensa entre Moro e Teori, relator dos casos da Lava Jato envolvendo
acusados com prerrogativa de função. O mesmo ministro que, agora, anula provas
colhidas pelo juiz de Curitiba (as gravações entre a presidente afastada Dilma
Rousseff e Lula no dia da posse do ex-presidente na Casa Civil) é o mesmo que
acolheu em 2014 o ousado pedido de esclarecimento do juiz de primeiro grau e
abriu caminho para a operação seguir.
Para traçar o perfil do juiz
Moro — fio condutor desta história — o
autor se debruça sobre seu trabalho: o vasto conhecimento técnico, as perguntas
meticulosas, as sentenças fundamentadas e a coragem de enfrentar a pressão de
advogados de renome.
Netto não elogia Sergio
Moro, simplesmente o descreve como um
líder seguro, mas tímido e constrangido com a notoriedade.
A história contada por Netto
tem como final o célebre diálogo entre Lula e Dilma Rousseff, em março deste
ano, que expôs as manobras para livrar o
ex-presidente da prisão. Cabe
acrescentar que, não será surpresa, se no final da operação Lava
Jato, o jornalista Vladimir
Netto apresente uma edição final com mais detalhes sobre os “poucos” absolvidos e os “muitos” condenados, mostrando
que está na ira, na força e na união do povo por um freio à corrupção e à
impunidade de políticos corruptos que assaltam os cofres públicos e ferem a
dignidade de uma nação.
Título: Lava Jato
Subtítulo: O Juiz Sergio
Moro e Os Bastidores da Operação Que Abalou o Brasil.
Autor: Vladimir Netto
Editora: Primeira Pessoa
Ano: 2016
Preço: De R$: 29,93 até
R$:39,90
Blog Livros pra Ler e Reler
Tags: