O
Diário de Anne Frank tornou-se um clássico
e um importante documento sobre as atrocidades e horrores
cometidos contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, além de
representar um testemunho indestrutível de uma
menina de 13 anos, que entre os seis
milhões de judeus — homens, mulheres e crianças — foram mortos pelos nazistas
durante o Holocausto.
Anne Frank, a jovem judia, vítima
do Holocausto, que morreu aos 16 anos
incompletos num campo de concentração, tornou-se mundialmente famosa com a publicação
póstuma de seu Diário, no qual registrou as experiências que viveu com sua
família em Frankfurt, em clima de total anti-semitismo, a fuga da Alemanha e a
vida no esconderijo em Amsterdam, onde se esconderam da perseguição aos judeus
dos Países Baixos. O conjunto de relatos, que recebeu o nome de O Diário
de Anne Frank, é considerado um dos livros mais importantes do século
XX.
Publicado pela primeira vez em
1947, O Diário de Anne Frank é conhecido em todo o mundo através do
teatro, adaptações para televisão e traduções, onde registra passagens de uma
vida insólita, problemas da transformação da menina em mulher, o despertar do
amor e a fé inabalável na religião e, principalmente, revela a nobreza fora do
comum de um espírito evoluído pelo sofrimento.
Annelies
Maria Frank, nasceu em 12 de junho de 1929, em Frankfurt am Main, na Alemanha , que, naquele momento, vivia
um período político democrático conhecido como República de Weimar. Anne Frank, como ficou conhecida, era a
segunda filha do casal Otto Frank e Edith Frank-Holländer. Margot Frank
era a sua irmã, três anos mais velha.
Os Frank eram uma família de
judeus liberais, que não seguiam todos os costumes e tradições do judaísmo e
viviam em uma comunidade de cidadãos de várias religiões. Edith Frank era a
mais devota da família, enquanto Otto Frank, oficial
condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial,
gostava de atividades acadêmicas e como tinha uma extensa biblioteca,
desde cedo, incentivou suas filhas a lerem.
Nos
primeiros cinco anos de vida Anne morou com seus pais, e sua irmã mais velha
Margot, em Frankfurt. Depois que os nazistas subiram ao poder, em 1933, Otto
Frank fugiu para Amsterdã, na Holanda, onde tinha alguns contatos
profissionais. O restante da família seguiu Otto, menos Anne que permaneceu por
um breve período com seus avôs na cidade de Aachen, juntando-se a seus pais em fevereiro de 1934.
Anne Frank viveu numa das mais
conturbadas épocas da história da Europa e do seu povo. Enquanto o mundo
ocidental era afetado pela depressão econômica causada pela queda da bolsa de
valores de Nova York, a Alemanha era assolada pela ascensão dos nazistas ao poder.
Em 1933 Hitler tornava-se
chanceler da Alemanha e, como líder do partido nazista, trazia a sede pelo
poder e o princípio da pureza ariana como dogma. O anti-semitismo nazista logo
se disseminou pela população germânica, iniciando-se a perseguição aos judeus
e, em abril de 1933, os nazistas incitaram os cidadãos a boicotarem os
estabelecimentos pertencentes aos judeus.
Diante da nova realidade social
e econômica alemã, Otto Frank decide, no verão daquele ano, ir para a Holanda.
Em fevereiro de 1934, muda-se para Amsterdam, levando a mulher, Edith Frank, as
duas filhas, Margot, de oito anos, e a pequena Anne, de quase cinco anos. Na
capital holandesa dirige a sua empresa, a Opeka.
Na Alemanha, o anti-semitismo
era cada vez mais evidenciado através de leis que limitavam a participação dos
judeus em cargos públicos e financeiros. Em 15 de novembro de 1935, foi
promulgada uma lei proibindo o casamento entre judeus e não judeus. Os judeus
foram apontados publicamente como inimigos do povo alemão — Era a concretização
da legislação racista de Nuremberg.
Em 1938, as crianças judias foram expulsas das
escolas, simultaneamente foi decretada a expropriação compulsória das lojas,
indústrias e estabelecimentos comerciais pertencentes aos israelitas. Na noite
de 9 para 10 de novembro daquele ano, movimentos anti-semitas atingiram toda a
Alemanha e a Áustria, com turbas destruindo símbolos judaicos, invadindo
sinagogas, casas comerciais e residências de judeus, saqueando e destruindo
tudo o que encontravam pela frente.
O movimento ficou conhecido como a “Noite dos Cristais Quebrados”,
ou simplesmente “Noite dos
Cristais”. Em 1 de janeiro de 1939, os judeus foram obrigados a
adicionar nos seus documentos o nome de Israel para os homens e Sarah para as
mulheres.
Em
maio de 1940, a Alemanha invadiu os Países Baixos e o governo de ocupação
começou a perseguir os judeus através da aplicação de leis restritivas e
discriminatórias, como o registro obrigatório e posterior segregação.
Em 1941, Otto Frank renuncia ao
cargo de diretor para evitar que suas empresas — Pectacon e Opekta — fosse
confiscadas pelo governo por serem empresas de propriedade judaica. Os negócios
continuaram, apesar desta pequena mudança, os quais permitiram a sobrevivência
de Otto Frank, que passou a ganhar uma renda mínima, mas suficiente para
sustentar sua família.
Na Holanda, Otto Frank e a
mulher sentiam-se seguros, pensando que estavam longe de todas as perseguições
nazistas, mas a tranquilidade seria breve, visto que o inimigo estava a poucos quilômetros
das fronteiras daquele país.
O Início do
Diário
A perseguição ao povo judeu da
Alemanha, fez com que milhares deles tentassem deixar o país, mas poucos
conseguiram, em parte pela recusa de outros países em recebê-los. Em 1 setembro
de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, deflagrando a Segunda Guerra Mundial. Poucos
meses depois, em 10 de maio de 1940, os exércitos alemães chegaram à Holanda e,
durante cinco dias, Rotterdam foi
severamente bombardeada. O exército holandês sucumbiu, e a Holanda passou a ser controlada pelos nazistas.
No seu 13º aniversário, em 12 de junho de 1942, Anne Frank ganhou de presente
de seu pai um livro, que muito embora fosse um livro para autógrafos, Anne usava-o como
diário. Ali, em formato de cartas, Anne registra não só seu cotidiano, suas
dúvidas e descobertas de adolescente, mas também sobre tudo o que acontecia durante o período nazista em
que Hitler comandou o holocausto contra os judeus. Iniciava-se assim, aquele que se tornaria um
dos maiores documentos da tragédia do holocausto durante o regime nazista.
Assim, no dia de seu
aniversário, Anne Frank começava de uma forma cúmplice, o seu diálogo com
Kitty, nome que dera ao diário: “Espero
poder confiar inteiramente em você, como jamais confiei em alguém até hoje, e
espero que você venha a ser um grande apoio e um grande conforto para mim.” —
12 de junho de 1942.
Inicia-se assim aquele
que se tornaria um dos maiores documentos da tragédia do holocausto durante o
regime nazista. “Até agora você tem sido
um grande apoio para mim, como também tem sido Kitty, para quem tenho escrito
com regularidade. Esse modo de manter um diário é bem melhor, e agora mal posso
esperar os momentos de escrever em você. Ah, estou tão feliz por ter você
comigo!” — Comentário acrescentado por Anne em 28 de setembro de 1942
O Anexo Secreto
Em 3 de julho de 1942, Anne
Frank recebeu normalmente os resultados dos exames escolares, sem suspeitar que
dois dias depois, sua vida mudaria completamente, quando seu pai, Otto Frank, e
mais de mil judeus de Amsterdam receberam uma carta de convocação para trabalho
forçado na Alemanha e, todos, sem exceção, deveriam se apresentar com as
respectivas cartas.
Nenhum convocado sabia ao certo
o que os nazistas tinham reservado para ele. A única certeza era a de que seria
submetido a trabalhos escravos em fábricas alemãs e de donos anti-semitas, com
destino final nos campos de concentração.
Assim, em 6 de julho, Anne e
sua família mudaram-se para o sótão de um prédio que ficava atrás do escritório
da família, ao qual Anne se referia em seu diário como o “Anexo Secreto”, onde permaneceriam por dois anos.
Posteriormente, em 13 de julho
de 1942, a família Van Pels juntou-se aos Frank no confinamento: Hermann,
Auguste e Peter de 16 anos de idade. E, em novembro, foi a vez de Fritz
Pfeffer, um dentista amigo da família, refugiar-se no Anexo Secreto.
Enquanto confinados no Anexo
Secreto, dependiam da ajuda dos quatro fiéis empregados de Otto: duas mulheres,
Miep Gies e Bep Voskuijl, e dois homens, Johannes Kleiman e Victor Kugler, que contrabandeavam
alimentos, doces, roupas, jornais e
outras necessidades urgentes, mesmo correndo sérios riscos pelo fato de esconderem
um judeu, quanto mais 2 famílias — Todos estavam cientes de que os cidadãos
não-judeus que ajudassem judeus a se esconderem corriam o risco de ser
executados imediatamente pelos nazistas, caso fossem descobertos.
“Como
refúgio, a casa de trás é ideal; ainda que seja úmida e está toda inclinada,
estou segura de que em toda Amsterdã, e talvez em toda Holanda, não há outro
refúgio tão confortável como o que temos instalado aqui.” — Anne Frank.
Durante o tempo em que ficou
escondida, Anne manteve seu diário no qual registrava o cotidiano
das pessoas ao seu redor e seus medos,
esperanças e experiências. Kitty e, logo depois, Peter eram seus únicos amigos
dentro do Anexo Secreto.
“A fim de destacar na minha imaginação a figura da
amiga por quem esperei tanto tempo, não vou anotar aqui uma série de fatos
banais, como faz a maioria. Quero que este diário seja minha amiga e vou chamar
esta amiga de Kitty. Mas se eu começasse a escrever a Kitty, assim sem mais nem
menos, ninguém entenderia nada. Por isso, mesmo contra minha vontade, vou
começar fazendo um breve resumo do que foi minha vida até agora.”
A Esperança dentro
do Confinamento
Diante da perseguição que
sofreram os judeus de Amsterdam, o Anexo Secreto ainda era um dos
melhores locais para se esconder,
mesmo que isolados do mundo exterior, e enfrentando a fome, o tédio, a
crueldade de viver em espaços reduzidos, e a sempre presente ameaça de
descoberta e de morte, viviam dia após dia da esperança de
que a guerra terminasse e o terror nazista fosse finalmente varrido da face do
planeta.
O tempo de clausura parecia uma
eternidade e Anne Frank passaria o seu tempo escrevendo em seu diário sobre o cotidiano dos fugitivos: coragem, dedicação e os esforços dos empregados para
elevar o moral dentro da casa durante os períodos mais perigosos.
É Kitty quem lhe percebe as
mudanças do seu corpo e da personalidade emotiva, transitando para a vida
adolescente. É ele quem lhe guarda os sentimentos, renova a esperança, alimenta
os sonhos de que um dia a guerra terminaria e ela poderia novamente voltar à
vida e voltar a ser gente como os outros e não apenas judia.
Sst... pai, quieto,
Otto, sst... Anda cá, já não podes deixar a água correr. Anda devagar!” Estes
foram os vários avisos para o pai na casa de banho. Às nove horas em ponto ele
tem de estar na sala. Nem uma gota de água pode correr, já não se pode ir à
casa de banho, não se pode andar, tudo quieto. — Anne Frank, 23 de agosto de
1943.
Assim, prisioneira do medo e
das circunstâncias em que vivia, revela em seu diário o despertar para os
primeiros sentimentos, e acaba por jogar em Peter Van Pels todas as suas expectativas
diante do sexo masculino. Por achar Peter desajeitado demais, inicialmente, Anne
não se interessou pelo tímido Peter, mas depois mudou de opinião e ambos
iniciaram um romance. Seu primeiro beijo foi com Peter, mas sua paixão por ele
começou a diminuir, após avaliar que seus
sentimentos por ele não eram genuínos, mas sim resultado do confinamento
compartilhado.
Anne escreve sobre as tensões
que se desenvolveram dentro do grupo forçado a viver no confinamento, bem como
sobre a perda da esperança de que seriam libertados. Anne, por sua vez, ao
invés de diminuir sua fé, continuou acreditando que veria a natureza, que teria
sua vida de volta, e que todos seriam salvos, e que em outubro voltaria para a
escola. Anne queria que o mundo a conhecesse — soubesse quem foi Anne Frank!
"Serei capaz
de escrever algo importante, serei uma jornalista ou escritora? Espero que sim,
oh, tenho muita esperança, pois escrever me permite registrar tudo, todos os
meus pensamentos, ideais e fantasias", escreveu Anne Frank em seu diário.
Depois de ouvir no rádio que
documentos importantes que transcrevessem a realidade da guerra — como um
diário — poderiam ser futuramente usados como documentos históricos, Anne Frank
começou a escrever como era a vida no Anexo e também reavaliou seu
relacionamento e as fortes diferenças de personalidades com os membros de sua
família.
Anne e Margot queriam voltar
para a escola assim que pudessem, mas enquanto isso continuaram estudando por
correspondência, principalmente Margot. Já Anne, na maior parte do tempo, passou
lendo, estudando e escrevendo, regularmente, em seu diário, que além de
fornecer uma narrativa dos acontecimentos da época, Anne também escreveu sobre
seus sentimentos, crenças e ambições, assuntos esses que ela não se sentia
segura para discutir com ninguém.
Ganhando confiança em sua
escrita somado ao próprio amadurecimento, Anne começou a escrever sobre
assuntos mais abstratos, tais como sua crença em Deus e como ela definia a
natureza humana.
“A
não ser que você escreva, não saberá como é maravilhoso; eu sempre reclamava de
não conseguir desenhar, mas agora me sinto felicíssima por saber escrever. E,
se não tiver talento para escrever livros ou artigos de jornal, sempre posso
escrever para mim mesma. Mas quero conseguir mais do que isso. (...) Quero ser
útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci.
Quero continuar vivendo depois da morte!”. —Anne Frank, 5 de abril de 1944.
Prisão e
Deportação para os Campos de Concentração
Animada pela perspectiva da
vitória dos aliados, Anne Frank decide transformar a sua experiência de guerra
em livro, e com a esperança de voltar
para a escola em outubro, começa a reescrever rapidamente o seu diário em
folhas soltas de papel até o dia 1 de agosto de 1944.
Em 4 de agosto de 1944, o Anexo Secreto foi invadido pela Polícia
de Segurança Alemã, a Gestapo, após
receber uma denúncia anônima que jamais foi identificada. Anne Frank, sua
família, além dos Van Pels e de Fritz Pfeffer foram levados para a sede
Gestapo, onde foram interrogados e detidos durante a noite.
Em 5 de agosto, foram
transferidos para a Huis Van Bewaring (Casa de Detenção), uma prisão
superlotada na Weteringschans. Em 8 de
agosto, foram transportados para Westerbork — aparentemente um campo de
trânsito, por onde já haviam passado mais de 100.000 judeus — pois eram
considerados criminosos, por terem sido presos em um esconderijo, tendo sido enviados
para o Quartel de Punição para trabalhos braçais.
Quanto aos empregados de Otto,
Victor Kugler e Johannes Kleiman foram presos e encarcerados no campo penal
para os inimigos do regime em Amersfoort. Kleiman foi libertado depois de sete
semanas, mas Kugler passou por vários campos de trabalho até que a guerra
chegasse ao fim.
Já Miep Gies e Bep Voskuijl
foram interrogadas e ameaçadas pela Polícia de Segurança, mas não foram
detidas. Ao voltarem para o anexo secreto encontraram os papéis de Anne
espalhados pelo chão e vários álbuns de fotografia de familiares, os quais
foram guardados para devolvê-los a Anne depois da guerra.
Em setembro de 1944, as
autoridades policiais deportaram a família, e todos os que com ela estavam no
esconderijo, em um trem de carga que ia de Westbrock para Auschwitz — um
conjunto de campos de concentração na Polônia ocupada pela Alemanha.
Na plataforma do trem, homens, mulheres
e crianças foram separados. Otto Frank também foi separado de sua família.
Edith Frank foi separada das filhas em outubro de 1944, permanecendo em
Auschwitz-Birkenau, onde morreria de inanição em 6 de janeiro de 1945.
Dos 1.019 passageiros, 549,
incluindo as crianças menores de quinze anos foram enviadas diretamente para a câmara de
gás. Anne foi poupada, apesar de ter 15 anos 3 meses antes, devido à
sua juventude e capacidade de serviço, mas no
final de outubro de 1944, Anne e sua irmã Margot foram transferidas para
o campo de concentração de Bergen-Belsen, próximo à cidade de Celle, no norte
da Alemanha, para trabalharem como escravas.
Hermann
Van Pels, algumas semanas após chegar a Auschwitz, foi selecionado para a câmara de gás, ali
morrendo. Fritz Pfeffer morreu no campo de concentração de Neuengamme, em
dezembro de 1944 e, no dia 16 de janeiro de 1945, os nazistas evacuaram
Auschwitz, Peter Van Pels foi
obrigado a seguir os prisioneiros naquela que ficou marcada como a “marcha da morte”, acabando por morrer
em 5 de maio, no campo de Mauthausen. Auguste Van Pels foi deportada para
Theresienstadt, na Tchecoslováquia, em abril de 1945, sendo desconhecido o
lugar onde morreu.
As mulheres que escapavam da morte
imediata, eram forçadas a ficar nuas para serem desinfectadas, tinham sua
cabeça raspada e ganhavam uma tatuagem no braço com um número de identificação,
entre as quais, encontravam-se Anne, sua irmã e Auguste Van Pels. Durante o dia
as mulheres eram usadas em trabalhos escravos e, à noite, eram amontoadas em
quartos superlotados.
Em pouco tempo a pele de Anne
ficou infectada pela sarna e acabou sendo transferida para uma enfermaria escura e infestada de
ratos e camundongos, junto com sua irmã. Em 28 de Outubro, junto com mais de 8.000
mulheres, Anne Frank, Margot Frank e Auguste Van Pels, foram para o acampamento
de Bergen-Belsen, que em março de 1945 foi atingido por uma epidemia de tifo e
matou cerca de 17.000 prisioneiros.
Anne
Frank morre duas semanas antes, em Bergen- Belsen, antes do
campo ser libertado por tropas britânicas, em 15 de abril de 1945. A irmã,
Margot Frank, tinha falecido, um dia
antes, também vítima do tifo e da
subnutrição.
Depois de libertarem
Bergen-Belsen, as forças britânicas queimaram o campo para impedir a propagação
da doença.
O Diário de
Anne Frank
"Quando
escrevo sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta... Ao escrever
sei esclarecer todos os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas
fantasias".— Anne Frank.
Otto Frank foi um dos
sobreviventes de Auschwitz quando o campo foi libertado pelos aliados, em 27 de
janeiro de 1945, portanto foi o único morador do anexo secreto a viver depois
do fim da guerra.
Em julho de 1945, depois da
Cruz Vermelha confirmar as mortes das irmãs Frank, Miep Gies deu a Otto Frank o
diário, junto com um maço de notas soltas que ela tinha guardado na esperança
de devolvê-los a Anne.
Em sua autobiografia, Otto
Frank descreveu o processo doloroso de ler o diário, pois reconhece os
acontecimentos descritos e alguns dos episódios mais divertidos lidos em voz
alta por sua filha, mas também viu pela primeira vez o lado mais privado de sua
filha e as seções do diário que ela não tinha discutido com ninguém, afirmando:
"Para mim foi uma revelação ... Eu
não tinha ideia da profundidade de seus pensamentos e sentimentos ... Ela tinha
guardado todos esses sentimentos para si mesma ".— Otto Frank
Há controvérsias quanto à forma
pela qual o diário chegou às mãos de Otto Frank. Para uns, ele mesmo teria
encontrado a relíquia, quando voltara ao seu escritório, em Amsterdam; outros
afirmam que Miep Gies e Bep Voskuijl, após a invasão da Gestapo ao anexo
secreto, encontraram o diário e papéis escritos, guardando-os para entregá-los
posteriormente. Entretanto, ao se certificarem da morte de Anne Frank, teriam devolvido
o diário e os escritos a Otto Frank.
Otto Heinrich Frank lutou pela
publicação do diário de Anne e o entregou à historiadora Annie
Romein-Verschoor, que tentou, sem sucesso, a sua publicação. Seu marido, o jornalista Jan
Romein, escreveu um texto intitulado “Kinderstem” (A voz de uma criança)
que foi publicado no jornal holandês Het Parool, em 3 de
abril de 1946. “Gaguejou na
criança uma voz, personifica toda a hediondez do fascismo, muito mais do que
todas as provas em Nuremberg juntas
".— escreveu Jan Romein. Seu artigo atraiu a atenção de editores e, em
1947, o diário foi publicado na Holanda, como “Het Achterhuis”; seguido por
uma segunda edição, em 1950.
Publicado pela primeira vez na
Alemanha e na França em 1950, e após ser rejeitado por várias editoras no Reino
Unido, foi publicado pela primeira vez em 1952. A primeira edição americana foi
publicada em 1952 sob o título de “Anne
Frank: O Diário de uma menina jovem”, e foi positivamente recebida. Foi bem
sucedida na França, Alemanha e Estados Unidos, mas no Reino Unido, não
conseguiu atrair público e em 1953 estava fora de catálogo.
Seu sucesso mais notável foi no
Japão, onde recebeu elogios da crítica e vendeu mais de 100.000 cópias em sua primeira edição. No Japão, Anne Frank
tornou-se rapidamente identificada como uma importante figura cultural que representou
a destruição da juventude durante a guerra.
Em 1986, a Holanda do Instituto
Estadual de Documentação de Guerra publicou a "Edição Crítica", do
diário, onde foi incluído comparações de todas as versões conhecidas, bem como a discussão sobre sua autenticação, além
de informações adicionais históricas relacionadas com a família e o próprio
diário.
Vale
dizer que, desde a publicação do livro, que se contesta a autenticidade de quem
o escreveu. Alguns defendem a tese de que um escritor fantasma teria feito o
livro, e que ele não passou de um grande engodo editorial, aprovado pelo pai de
Anne Frank, ou seja, um gerador de
renda, pelo qual Otto Frank teria enfrentado processos pelos direitos autorais,
até a sua morte, em 1980.
Miep Gies, tida como quem
guardou o diário, as folhas de papel e as anotações de Anne Frank, foi quem
mais defendeu a autenticidade do livro. Por mais de seis décadas, foi a
testemunha viva da tragédia dos moradores do anexo secreto. Morreu aos 100
anos, em 11 de janeiro de 2010.
Para combater as especulações,
o Instituto de Documentação de Guerra
ordenou que fosse feita uma minuciosa investigação, incluindo, inclusive,
a análise da caligrafia de Anne Frank, dos documentos e materiais usados, os
quais foram todos considerados autênticos.
O fato é que depois da Guerra, O
Diário de Anne Frank foi publicado em
diversos idiomas e, atualmente, está traduzido em 68 línguas. Ao longo dos anos
a popularidade do diário cresceu e, em muitas escolas, principalmente nos
Estados Unidos, foi incluído como parte do currículo de milhares de escolas de
ensino fundamental e médio, tornando-se um dos livros mais lidos em todo o
planeta. Os originais estão no Instituto Holandês para Documentação de Guerra.
O Fundo Anne Frank, na Suíça, é herdeiro dos direitos autorais.
Vale citar que o fato de ter
sido citado no romance A Culpa é das
Estrelas de John Green, chamou a atenção de milhões de pessoas pelo mundo
afora, introduzindo Anne Frank às novas gerações de leitores, trazendo O
Diário de Anne Frank ao topo da lista de livros mais vendidos.
“Realmente,
é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e
impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de
tudo ainda acredito nas pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não
posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados de confusão, miséria
e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente em uma selva. Sinto que
estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões
e, no entanto, se levanto os olhos aos céus, sei que tudo acabará bem, toda
essa crueldade desaparecerá, voltarão a paz e a traquilidade.” — Anne Frank, 15
de Julho de 1944.
“O que passou, já não
podemos mudar. A única coisa que podemos fazer é aprender com o passado e
compreender o que significa a discriminação e a perseguição de gente inocente.
A minha opinião é que todos temos a obrigação de combater os preconceitos”. — Otto
Frank, 1970.
O Diário de Anne Frank
Autor:Anne
Frank
Tradutor: Alves
Calado
Organizador: Otto
H. Frank
Coordenador/editor: Mirjam
Pressler
Idioma: Português
Editora: Record
Edição: 38
Ano: 2013
Preço: De
R$ 41,80 a R$ 45,00
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