O escritor Luis Fernando Verissimo, famoso por seus textos de humor e pelas sátiras de costumes que publica em jornais de grande circulação, em seu novo livro, Em Algum Lugar do Paraíso, reúne 41 crônicas — seu gênero literário por excelência— onde aborda de maneira simples, porém com uma dose de humor, situações inusitadas e questionamentos atemporais que permeiam a experiência humana.
Em Algum Lugar do Paraíso, algumas crônicas são inéditas em livro e outra parte dos textos foi escrito por Verissimo no jornal o Estado de São Paulo, nestes cinco anos que se passaram. Neste novo livro, Luis Fernando Verissimo, fala sobre a vida, a morte, o tempo, o amor, sempre com um ar nostálgico e repleto de reflexões acerca das escolhas feitas ao longo da existência.
Verissimo, nesta obra, repete a fórmula já consagrada em seus trabalhos: a de abordar situações cotidianas e o leitor irá se deparar com personagens que possuem as mesmas inquietações, tão comuns a todo ser humano — O Papai-Noel de Shopping, O Maître de um Restaurante Falido, O Aposentado, A Caçadora de Viúvos, Casais de Longa Data, Recém-Casados, Casais que se Separam e o Solteiro Sedutor.
A primeira crônica — que traz o mesmo título do livro — tem início com uma passagem engraçada e inspiradora reflexão protagonizada por um Adão sereno, vivendo no eterno paraíso, sem passado, nem futuro, sem datas e preocupações até que aparece Eva:
Em Algum Lugar do Paraíso, algumas crônicas são inéditas em livro e outra parte dos textos foi escrito por Verissimo no jornal o Estado de São Paulo, nestes cinco anos que se passaram. Neste novo livro, Luis Fernando Verissimo, fala sobre a vida, a morte, o tempo, o amor, sempre com um ar nostálgico e repleto de reflexões acerca das escolhas feitas ao longo da existência.
Verissimo, nesta obra, repete a fórmula já consagrada em seus trabalhos: a de abordar situações cotidianas e o leitor irá se deparar com personagens que possuem as mesmas inquietações, tão comuns a todo ser humano — O Papai-Noel de Shopping, O Maître de um Restaurante Falido, O Aposentado, A Caçadora de Viúvos, Casais de Longa Data, Recém-Casados, Casais que se Separam e o Solteiro Sedutor.
A primeira crônica — que traz o mesmo título do livro — tem início com uma passagem engraçada e inspiradora reflexão protagonizada por um Adão sereno, vivendo no eterno paraíso, sem passado, nem futuro, sem datas e preocupações até que aparece Eva:
[…] mas feliz era Adão, o primeiro homem. Não porque estava no jardim do Paraíso, com tudo em volta para saciar sua fome e sua sede, mas porque não sabia do tempo e da morte.
Vivia num eterno presente, num eterno domingo. O que vinha depois da passagem da sombra da noite não era o dia seguinte, era o mesmo dia, ou até o dia anterior, quem se importava? Adão, sozinho no Paraíso, era um homem feliz porque era um homem sem datas.
Mas quando Deus colocou Eva ao lado de Adão, a primeira coisa que ela perguntou, ainda úmida da criação, só para puxar assunto, foi: “Que dia é hoje?”, e ele sentiu que sua paz terminara.
Ele era um homem no tempo. Um homem com um ontem e um amanhã, e um futuro estendido à sua frente como um imenso pergaminho, esperando para ser preenchido. O tempo não foi a única novidade trazida por Eva ao jardim do Paraíso.
Foi ela que, dias depois, colheu o fruto proibido, que os tornou, de uma só mordida, sexuais e mortais. E foi depois de comer o fruto proibido, quando a Terra entrou na sombra da noite e os dois se deitaram lado a lado, que Adão sentiu seu membro, que ele pensara que fosse só para fazer xixi, se mexer. E avisou a Eva: — É melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce. […]
Vivia num eterno presente, num eterno domingo. O que vinha depois da passagem da sombra da noite não era o dia seguinte, era o mesmo dia, ou até o dia anterior, quem se importava? Adão, sozinho no Paraíso, era um homem feliz porque era um homem sem datas.
Mas quando Deus colocou Eva ao lado de Adão, a primeira coisa que ela perguntou, ainda úmida da criação, só para puxar assunto, foi: “Que dia é hoje?”, e ele sentiu que sua paz terminara.
Ele era um homem no tempo. Um homem com um ontem e um amanhã, e um futuro estendido à sua frente como um imenso pergaminho, esperando para ser preenchido. O tempo não foi a única novidade trazida por Eva ao jardim do Paraíso.
Foi ela que, dias depois, colheu o fruto proibido, que os tornou, de uma só mordida, sexuais e mortais. E foi depois de comer o fruto proibido, quando a Terra entrou na sombra da noite e os dois se deitaram lado a lado, que Adão sentiu seu membro, que ele pensara que fosse só para fazer xixi, se mexer. E avisou a Eva: — É melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce. […]
Em outra crônica, depara-se consigo mesmo, aprovado num concurso público em meio a tantos questionamentos possíveis: se não tivesse passado, se tivesse casado com a Doralice e assim por diante.
Outro texto importante é Microfone Escondido. Nele os personagens principais, o par Leonor e Ataíde, tem uma ideia bizarra, a de ocultar no elevador do edifício onde eles residem um mecanismo de escuta. Não queriam ouvir o que os vizinhos diziam, subindo ou descendo pelo elevador.
Os vizinhos não interessavam. Divertido mesmo seria ouvir o que os amigos do casal diziam, chegando ou saindo do apartamento.
Assim, inventam sempre um novo evento para trazer os convidados ao seu apartamento. Enquanto eles estão no interior do elevador, o microfone capta novas revelações, as quais criam ressentimentos e caos, sempre dosados pela forma única e precisa com a qual o autor estrutura suas histórias.
Em Pato Donald, Sérgio e Dulce, casados há 25 anos, reveem suas vidas quando o homem conta que, apesar de ter rido a vida inteira das piadas do personagem americano, admite que nunca entendeu patavinas do que ele falava.
A confissão ganha, então, ares de crise existencial. E, enquanto discutem, Dulce fica preocupada, porque o zíper do vestido que sempre lhe coube está difícil de fechar.
Em um dos textos mais inspirados da obra — Cafarnaum — Verissimo fala do encontro entre Guizael, dono de uma taberna, e um homem capaz de multiplicar peixes e pães, e transformar água em vinho.
Neste texto, em que o autor traduz com fidelidade o estilo bíblico, o protagonista se esforça para convencer o homem a fazer uma parceria financeira com ele.
Outro texto importante é Microfone Escondido. Nele os personagens principais, o par Leonor e Ataíde, tem uma ideia bizarra, a de ocultar no elevador do edifício onde eles residem um mecanismo de escuta. Não queriam ouvir o que os vizinhos diziam, subindo ou descendo pelo elevador.
Os vizinhos não interessavam. Divertido mesmo seria ouvir o que os amigos do casal diziam, chegando ou saindo do apartamento.
Assim, inventam sempre um novo evento para trazer os convidados ao seu apartamento. Enquanto eles estão no interior do elevador, o microfone capta novas revelações, as quais criam ressentimentos e caos, sempre dosados pela forma única e precisa com a qual o autor estrutura suas histórias.
Em Pato Donald, Sérgio e Dulce, casados há 25 anos, reveem suas vidas quando o homem conta que, apesar de ter rido a vida inteira das piadas do personagem americano, admite que nunca entendeu patavinas do que ele falava.
A confissão ganha, então, ares de crise existencial. E, enquanto discutem, Dulce fica preocupada, porque o zíper do vestido que sempre lhe coube está difícil de fechar.
Em um dos textos mais inspirados da obra — Cafarnaum — Verissimo fala do encontro entre Guizael, dono de uma taberna, e um homem capaz de multiplicar peixes e pães, e transformar água em vinho.
Neste texto, em que o autor traduz com fidelidade o estilo bíblico, o protagonista se esforça para convencer o homem a fazer uma parceria financeira com ele.
[…] E aconteceu que chegou a Cafarnaum a notícia de um homem que transformava água em vinho. O estranho homem estivera numa festa de casamento em Canaã, na província da Galiléia, e ao ser informado de que acabara o vinho, mandara encher seis talhas de pedra com água, e transformara a água em vinho. E a notícia se espalhara por toda a região, e chegara a Cafarnaum.
E aconteceu que um homem entrou na venda de Guizael, em Cafarnaum, e Guizael achou o homem estranho, e deduziu que aquele era o homem que transformara água em vinho, em Canaã. E Guizael piscou um olho para o homem estranho, e disse: podes transformar esta água no que quiseres, para acompanhar o jantar.
E o homem sorriu, e tocou a borda do copo com um dedo, e a água se transformou em vinho. E Guizael foi tomado de grande alegria, e disse: tens um grande poder. E o homem disse: ainda não viste nada, E tocou o pão com um dedo, e o pão se multiplicou, e o balcão da venda de Guizael se cobriu de pães. E o homem tocou o peixe, e os peixes também se multiplicaram. E assim aconteceu com os potes de coalhada. E Guizael exultou.
Guizael propôs um negócio ao homem estranho. Uma parceria na venda. Ele multiplicaria os potes de coalhada, e os pães, e os peixes, e transformaria a água em vinho, e Guizael economizaria na farinha dos pães e no leite da coalhada, e não dependeria mais dos seus fornecedores de peixes e de vinho. O homem só entraria com o seu dedo milagroso, e em troca teria direito a 20% do faturamento da venda.
O homem sorriu e disse que sua missão era outra. Que estava no mundo para multiplicar o número de crentes em Deus, e para transformar não água em vinho mas o coração e a mente das pessoas, e que o único lucro que buscava era a salvação da humanidade. Trinta por cento, disse Guizael. O homem sacudiu a cabeça. Não se interessava pela riqueza, sua glória não seria deste mundo.
Fifty-fifty, disse Guizael, ou o equivalente em aramaico. E vendo que o homem hesitava, prosseguiu: aquela sua missão não acabaria bem. Mudar o coração e a mente das pessoas, o que era aquilo? Ele acabaria preso como agitador, talvez até executado. E sua pregação seria em vão. Seu sacrifício não mudaria nada. Mas se ficasse em Cafarnaum e aceitasse a proposta de Guizael, o homem teria uma vida longa e feliz.
Cafarnaum não era o mundo, mas era um lugarzinho simpático, ótimo para se criar os filhos… e isso vai mudar a história da humanidade! […]
E aconteceu que um homem entrou na venda de Guizael, em Cafarnaum, e Guizael achou o homem estranho, e deduziu que aquele era o homem que transformara água em vinho, em Canaã. E Guizael piscou um olho para o homem estranho, e disse: podes transformar esta água no que quiseres, para acompanhar o jantar.
E o homem sorriu, e tocou a borda do copo com um dedo, e a água se transformou em vinho. E Guizael foi tomado de grande alegria, e disse: tens um grande poder. E o homem disse: ainda não viste nada, E tocou o pão com um dedo, e o pão se multiplicou, e o balcão da venda de Guizael se cobriu de pães. E o homem tocou o peixe, e os peixes também se multiplicaram. E assim aconteceu com os potes de coalhada. E Guizael exultou.
Guizael propôs um negócio ao homem estranho. Uma parceria na venda. Ele multiplicaria os potes de coalhada, e os pães, e os peixes, e transformaria a água em vinho, e Guizael economizaria na farinha dos pães e no leite da coalhada, e não dependeria mais dos seus fornecedores de peixes e de vinho. O homem só entraria com o seu dedo milagroso, e em troca teria direito a 20% do faturamento da venda.
O homem sorriu e disse que sua missão era outra. Que estava no mundo para multiplicar o número de crentes em Deus, e para transformar não água em vinho mas o coração e a mente das pessoas, e que o único lucro que buscava era a salvação da humanidade. Trinta por cento, disse Guizael. O homem sacudiu a cabeça. Não se interessava pela riqueza, sua glória não seria deste mundo.
Fifty-fifty, disse Guizael, ou o equivalente em aramaico. E vendo que o homem hesitava, prosseguiu: aquela sua missão não acabaria bem. Mudar o coração e a mente das pessoas, o que era aquilo? Ele acabaria preso como agitador, talvez até executado. E sua pregação seria em vão. Seu sacrifício não mudaria nada. Mas se ficasse em Cafarnaum e aceitasse a proposta de Guizael, o homem teria uma vida longa e feliz.
Cafarnaum não era o mundo, mas era um lugarzinho simpático, ótimo para se criar os filhos… e isso vai mudar a história da humanidade! […]
Outro exemplo interessante de narrativa é Versões. Neste texto, um homem entra em um bar e começa a imaginar o que teria sido de sua vida se ele tivesse feito um teste para jogar no Botafogo ou se tivesse, de fato, se tornado um jogador, ou mesmo se houvesse feito ou não aquele gol. De repente, surge, ao lado dele, uma versão de si mesmo que fez o tal teste. As perguntas se multiplicam e, consequentemente, mais versões dele aparecem.
Nessa crônica, Verissimo toca num de seus assuntos mais caros: o futebol. Torcedor do Internacional e da Seleção, ele se preocupa com a Copa de 2014 no Brasil. "Espero que as obras fiquem prontas a tempo." E fala que irá aos jogos. Até lá, terá 78 anos, Vale torcer para o pique se estenda também à escrita. Ou a literatura ficará órfã do depressivo mais bem-humorado de que se tem notícia.
O gaúcho Luis Fernando Verissimo — filho de Érico Verissimo, um dos maiores nomes da literatura nacional — é um escritor brasileiro mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros.
Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. É ainda músico, tendo tocado saxophone em alguns conjuntos.
Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos e um dos mais respeitados cronistas brasileiros, autor de best-sellers inesquecíveis, como Comédias da Vida Privada e Clube dos Anjos.
Em Algum Lugar do Paraíso, seu novo livro, é uma compilação de crônicas que tem como temática a vida, e principalmente a morte, colocadas de forma muito bem humorada e de um jeito que só Luis Fernando Verissimo sabe fazer — levar o personagem e, consequentemente, o leitor a refletir sobre as escolhas feitas ao longo da vida e os resultados delas, mas sem uma culpa ou estigma.
Em Algum Lugar do Paraíso
Author: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Categoria: Ficção
Preço: De R$ 29,50 até R$ 36.90
Livros Para Ler e RelerNessa crônica, Verissimo toca num de seus assuntos mais caros: o futebol. Torcedor do Internacional e da Seleção, ele se preocupa com a Copa de 2014 no Brasil. "Espero que as obras fiquem prontas a tempo." E fala que irá aos jogos. Até lá, terá 78 anos, Vale torcer para o pique se estenda também à escrita. Ou a literatura ficará órfã do depressivo mais bem-humorado de que se tem notícia.
O gaúcho Luis Fernando Verissimo — filho de Érico Verissimo, um dos maiores nomes da literatura nacional — é um escritor brasileiro mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros.
Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. É ainda músico, tendo tocado saxophone em alguns conjuntos.
Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos e um dos mais respeitados cronistas brasileiros, autor de best-sellers inesquecíveis, como Comédias da Vida Privada e Clube dos Anjos.
Em Algum Lugar do Paraíso, seu novo livro, é uma compilação de crônicas que tem como temática a vida, e principalmente a morte, colocadas de forma muito bem humorada e de um jeito que só Luis Fernando Verissimo sabe fazer — levar o personagem e, consequentemente, o leitor a refletir sobre as escolhas feitas ao longo da vida e os resultados delas, mas sem uma culpa ou estigma.
Em Algum Lugar do Paraíso
Author: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Categoria: Ficção
Preço: De R$ 29,50 até R$ 36.90
Tags:Luis, Fernando,Verissimo, Escritor,Ficção, Lugar, Paraíso,Tempo, Amor, Morte, Humor, Comédia, Vida, Privada.