Em Cidades de Papel, o autor
americano John Green, conta a história dos jovens Quentin Jacobsen e Margo Roth
Spiegelman, vizinhos desde os dois anos de idade, que se tornam amigos de
infância, mas com o tempo seus caminhos tomam rumos diferentes, assim, Quentin torna-se
um nerd que adora seus dias tediosos, sonha em formar-se, casar e constituir
uma família, enquanto, Margo, torna-se uma garota popular na escola,
independente, misteriosa e diferente das outras pessoas, pois acredita que a vida
é o momento.
Johnn Green, autor do sucesso A Culpa
é das Estrelas — atualmente o mais vendido no Brasil — divide seu novo livro, Cidades de Papel, em três partes. A primeira, intitulada Os Fios,
apresenta os personagens e retrata a noite de aventuras de Quentin, também
chamado de Q, e Margo. Na segunda, A Relva, desenrola a trama — Q e seus amigos investigam as pistas
que podem levar ao paradeiro de Margo. Por fim, a terceira parte, O Navio, dividida
em capítulos que narram cada hora de busca por Margo, até o final.
O livro começa contando um segredo
que Margo e Quentin, compartilhavam desde crianças, tinham encontrado
um corpo num parque onde sempre brincavam e andavam de bicicleta e, a curiosidade
de Margo, fez com que ela descobrisse quem era e o que ocasionou sua morte. A
história é narrada por Quentin que o faz de um ponto de vista adolescente e
muito divertido.
O fato é de que apesar de serem
vizinhos, colegas de escola e de se cruzarem todos os dias no colégio, Margo se
tornou uma desconhecida para Q, mas, isso não o impediu de se apaixonar pela garota, e a imagem que ele tem de
Margo é de uma deusa perfeita e adorável, porém,
o que ele não imaginava era que Margo estava
prestes a invadir e transformar sua pacata vida numa aventura inesquecível.
Margo descobriu que sua amiga Becca estava dormindo com seu namorado Jase e, assim, numa noite qualquer, Margo surge na janela de Quentin, e o convida a desfrutar uma noite de aventuras e vinganças. Essa jornada toma praticamente toda a primeira parte do livro que é bem divertida e dinâmica.
Margo descobriu que sua amiga Becca estava dormindo com seu namorado Jase e, assim, numa noite qualquer, Margo surge na janela de Quentin, e o convida a desfrutar uma noite de aventuras e vinganças. Essa jornada toma praticamente toda a primeira parte do livro que é bem divertida e dinâmica.
Ele pega o carro dos pais escondido e
passam a noite pregando peças em todos os que aprontaram com os dois. Quentin
fica surpreso com a forma com que Margo vê a vida — aproveite o momento — mas,
também, percebe que no fundo ela se mostra um pouco frustrada, sente-se presa
no meio em que vive, ao qual chama de Cidade de Papel, que, para ela, nada mais
é do que a falta de profundidade nas relações com os outros e consigo mesma.
Quentin que mantém uma paixão
platônica por Margo, após aquela noite
agitada, cheia de emoções e muitas risadas, acredita que sua relação com Margo,
pode mudar e, enfim, ele poderá declarar
seu amor, mas ao chegar à escola, descobre que Margo não apareceu, simplesmente
sumiu por completo, escafedeu-se!
O que move a leitura na segunda parte
do livro, é o mistério e a expectativa criada para descobrir o que houve após
aquela noite em que Quentin e Margo
passaram juntos — É a descoberta da
misteriosa Margo e, consequentemente, a desconstrução da imagem que Q. tinha
dela.
Margo é uma personagem egocêntrica,
que se coloca no centro do universo de seus amigos, pais e familiares. Apresenta
uma personalidade complexa, alguém que faz decisões muito diferentes da maioria
de nós, mas cujas decisões têm um tipo de consistência íntegra.
Margo funciona como um espelho para
os outros personagens do romance: O que eles veem quando olham para Margo acaba
por dizer muito mais sobre eles do que de Margo.
Outro ponto interessante é a amizade
entre Q e seus dois amigos Radar e Ben que estão sempre dispostos em ajudar um
ao outro — falar o que precisa ouvir e não o que gostaria — assim, com a ajuda de seus dois amigos e da melhor amiga de Margo, Lacey iniciam uma
busca pelos lugares mais remotos da Flórida para tentar desvendar esse mistério.
As pistas deixadas por Margo, inicialmente,
parecem desconexas e sem sentido, mas ao encontrarem em seu quarto um livro de
poemas de Walt Whitman, com algumas frases destacadas da Canção de Mim Mesmo
(Song of Myself), parecem dizer algo a Quentin, que esperançoso embarca em uma jornada repleta de descobertas
inimagináveis sobre ela e ele mesmo.
Quentin começa a perceber que nem
tudo o que parece ser, realmente é, pois à medida que se aproxima de Margo,
mais se distancia da imagem da garota que ele pensava conhecer e, o leitor toma consciência, de que Q na maior parte do romance sabe absolutamente
nada sobre a garota que ele diz que ama.
O fato é que mesmo não
participando ativamente em boa parte do livro, Margo, talvez seja a personagem mais
marcante do livro, por sua personalidade forte, que a faz estar presente em
cada página, seja através das lembranças
de Quentin ou de Ben e Radar, que acabam criando a sua “própria” Margo.
A forma como o autor vai apresentando
Margo ao leitor através da imagem que os personagens fazem dela, faz com que ,
aos poucos, o leitor entenda o conflito dessa garota, o quanto seus fios
estavam arrebentados, o quanto ela se sentia frágil — Como se fora feita de papel. Quão estranho era
para Margo conviver com a ideia de ser apenas percebida como uma garota popular,
de ser olhada da forma como os demais queriam que ela fosse e, não como
realmente ela era.
Cidades de Papel é uma história de
aventura, busca e de descobertas que conduz o leitor a se unir a Quentin e seus
amigos para seguir as pistas e descobrir o paradeiro de Margo, a razão pela
qual desapareceu e quem era a verdadeira Margo.
O desfecho da estória não é
previsível e faz com que, muitos de nós,
nos sintamos um pouco como Margo ou, quem sabe, um pouco Q, fazendo com que as palavras de
Cidades de Papel se misturem com a nossa realidade, tornando-nos, naquele
momento, parte da estória — pessoas de
papel, lendo um livro de papel.
O autor, neste romance, nos
conduz a questionamentos sobre nossas cordas,
nossas rachaduras, nossos erros e nossos pensamentos sobre tudo o que nos
cerca. O fato é de que ao avaliarmos aqueles que nos cercam, fazemos segundo nossa ótica pessoal e,
assim, nesse contexto, as pessoas com
quem convivemos não se consideram dessa maneira, elas, naturalmente, assim como
nós, veem-se como o centro da história.
Então, de qualquer maneira, a tarefa de compreender a realidade da
experiência de outras pessoas é extremamente difícil, porque você está preso a
você mesma e, nem sequer por um segundo, pode ser um deles, desse modo, as
pessoas nem sempre são o que pensamos ser.
Pode-se dizer que Quentin na ânsia de
compreender Margo, descobre mais de si mesmo do que dela e, ao embarcar na
direção de Margo, não a encontra, porque, em certo sentido, está buscando a
Margo idealizada e não a que realmente
existe.
Segundo o autor o problema principal
é que ninguém sabe o que é ser o outro. Quando
quebramos um braço, por exemplo, outras pessoas podem sentir-se muito tristes
por nós, e podem ser muito compreensivas e amigáveis, mas a única pessoa que experimenta
a dor e a inconveniência de seu braço quebrado é a própria pessoa.
Este é um problema real entre os
seres humanos, porque estamos sempre tentando
fazer com que as pessoas nos entendam e sempre falhamos, porque, na verdade, ninguém
pode entender o nosso braço quebrado, como nós mesmas.
[...] Mas as coisas vão acontecendo… as
pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as
entendemos… e nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E o navio começa
a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha, o final é
inevitável. Quando começa a chover dentro do Osprey, ele nunca vai voltar a ser
o que era. Mas ainda há um tempo entre o momento em que as rachaduras começam a
se abrir e o momento em que nós nos rompemos por completo. E é nesse intervalo
que conseguimos enxergar uns aos outros, porque vemos além de nós mesmos,
através de nossas rachaduras, e vemos dentro dos outros através das rachaduras
deles. Quando foi que nos olhamos cara a cara? Não até que você tivesse visto
através das minhas rachaduras, e eu, das suas.[...]
Cidades de Papel
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Ano:2013
Categoria: Literatura Estrangeira — Romance
Preço: A partir de R$ 19,90
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