Uma Professora Muito Maluquinha — Ziraldo

Uma Professora Muito Maluquinha, é mais uma das personagens "maluquinhas" de Ziraldo, que também assina o roteiro e conta os revolucionários métodos de ensino de uma jovem professora que estudou na cidade grande e, aos 18 anos, retorna à sua cidade natal para dar aulas na escola primária.

A história se desenrola nos anos 40, onde a proposta pedagógica da


protagonista está apoiada numa filosofia muito simples: através da leitura, seus alunos poderiam conhecer o mundo e aprender muito mais que com aulas monótonas e repetitivas.

É uma professora nada convencional para a época que usa recursos diferenciados para desenvolver em seus alunos a habilidade da leitura, ensinando-lhes muito mais do que os saberes científicos — os saberes da vida.

Escrito em 1995 e publicado pela Cia. Melhoramentos de são Paulo, no memo ano, é mais um dos grandes sucessos de Ziraldo que também foi traduzido para o espanhol e virou série de livros em quadrinhos.

O livro também se tornou um filme produzido para a televisão e exibido pela TVE Brasil em 1996, com com Letícia Dabatella no papel-título além de grandes nomes e, em 2009, o livro ganhou um novo filme que conta com Paola Oliveira no papel da professora Catarina. As filmagens foram feitas na cidade histórica de São João del-Rei, em 2009 e o lançamento foi em outubro de 2011.

A ideia de escrever o livro Uma Professora Muito Maluquinha surgiu quando professoras pediram para que Ziraldo — escritor, cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, caricaturista, cronista, desenhista e jornalista brasileiro — transformasse em livro suas ideias sobre a arte de ler e escrever e sobre as lembranças de uma professora que abriu seus olhos para o mundo.

Ziraldo busca aproximar sua obra a um conto de fadas, convidando o leitor a entrar no seu mundo imaginário, como no inicio da história — Era uma vez uma professora maluquinha — e no desenrolar do texto, ele vai alimentando esta fantasia e, para reforçar as virtudes da protagonista, utiliza o recurso das imagens que é explorado a cada página, misturando-se imagens e letras para que um complemente o outro.

A distribuição da escrita e das imagens apresenta a intencionalidade do autor, pois o texto localiza-se posicionado no rodapé ou na parte superior da página, enquanto as imagens estão no centro, dando a possibilidade de uma leitura mais emocionante com o olhar passando pela página, permitindo que o leitor leia e visualize as imagens, e assim tenha uma ideia mais real da história.

Todas as personagens do livro são ilustradas: o Padre Velho, o Padreco, os cinco narradores, os trinta e três alunos, enfim, a obra é toda ilustrada, desde as personagens até os locais da cidade.

Usando ilustrações de revistas como O Cruzeiro, quadrinhos como Reco-Reco, Bolão e Azeitona, cartazes e anúncios, Ziraldo faz também a crônica de uma época, vista pelos olhos das crianças.

A história se passa numa pequena cidade do interior, onde mora a professora Catarina de 18 anos e alguns habitantes, cada um com suas peculiaridades, como: as beatas solteironas (fofoqueiras), o padre velho, o padreco, o dono do cinema, o funcionário do Banco do Brasil, etc.

A obra apresenta uma história narrada por cinco personagens: Athos, Porthos, Aramis, Dartagnan e Ana Maria Barcellos Pereira, ex-alunos da Professora Maluquinha que narram os episódios e, é este “nós” presente no texto que aproxima o leitor do texto e o convida a fazer parte da narrativa. Ele se questiona: poderia esta professora ser/ter sido uma das muitas professoras que passaram na minha vida?

Criada por Tia Cida e sobrinha do Monsenhor Aristides, Cate cresceu junto com o afilhado do tio, Beto, que se tornou padre e volta à cidade depois de ter estudado fora. Padre Beto é quem supervisiona a escola e repreende a moça a cada queixa das outras professoras e conta tudo ao Monsehor que tem a maior paciência com as maluquices de sua protegida – A Professora Maluquinha.

Logo no primeiro dia, ao invés de fazer chamada, Cate — como era carinhosamente chamada — solicitou que os alunos escrevessem o nome um do outro e depois embaralhou os nomes de todos e pediu que eles arrumassem na ordem alfabética, assim ela conseguiu que eles descobrissem como colocar em ordem os nomes iguais.

A professora era apelidada de maluquinha por ser diferente das suas colegas de trabalho, pois ela brincava com os seus alunos, trabalhava com forca onde cada letra errada ela desenhava um pedacinho de forca ou do enforcado e, também, fazia atividades com jogo de rima, caça palavras em que ela colocava um monte de anúncios, cartazes ou capas de revista que ela mesma trazia de casa e escrevia uma palavra no quadro e então solicitava que os alunos a procurassem.

As aulas da Professora Maluquinha são uma aventura feliz, uma contínua brincadeira. A cada dia ela traz novas ideias e toda aula começa com uma frase diferente no quadro e um prêmio para quem a ler mais rápido.

Depois, Cate inventa a máquina de ler: uma bobina de papel de embrulho de loja com uma manivela. Ela gira o rolo e as crianças leem os versos que surgem. De outra vez, leva a turma para assistir ao filme Cleópatra no cinema. E assim seus alunos conhecem a História universal, decoram tabuada com música e leem cada vez mais depressa.

Ao mesmo tempo em que descobrem o prazer de aprender, os amigos da escola também têm as primeiras aulas sobre amor, amizade e liberdade e, é claro, a professorinha não conquista só os alunos: os rapazes mais bonitos da cidade caem de amores por ela. Mário, o professor de Geografia, o romântico Pedro Poeta, o boêmio Carlito e o galã Rodolfo Valentino se revezam nas tentativas de conquistar a moça.

A protagonista da obra incentiva seus alunos à leitura e, para despertar o prazer pela mesma, utiliza-se de vários métodos. Suas aulas mostram o domínio que possui do assunto tratado e das possibilidades dos alunos a realizarem. Como por exemplo nas aulas de História e Geografia procura contextualizar com a vida, assim fica mais fácil de aprender já que ninguém pode ir aos lugares dos seus sonhos sem saber onde eles ficam e a história que tem e, por outro lado, conteúdos desconectados da realidade do aluno e sem significados tornam-se desinteressantes e difíceis de assimilar.

A Professora Maluquinha não aplicava prova para os alunos, pois acreditava que todos tinham condições de passar de ano. Ela não fazia uma prova conteudista, avaliava continuamente, no dia a dia, tanto que ela incentivava seus alunos a lerem, utilizando vários métodos e no dia em que uma de sua alunas, a Ana Maria, diz: “Professora onde a gente pode ler mais sobre isso?” A Professora Maluquinha fica tão feliz e diz que isso era tudo que ela queria ouvir. Não foi através de provas, que ela conseguiu o progresso de seus alunos, mas sim acompanhando o processo de aprendizagem e por esse motivo o resultado foi tão satisfatório.

O tema analisado no livro “Uma professora muito maluquinha”, é muito complexo e leva a cada um, conforme sua formação e idealogia, a um parecer diferenciado. O tema da história é o universo de uma professora de alfabetização e de seus alunos, o que imediatamente nos remete à presença da criança como protagonista e, muito embora, a protagonista principal seja a professora, sãos seus alunos, portanto, as crianças, que escrevem sobre ela e as experiências que tiveram com ela: “Sua presença em nossa memória, ao longo das nossas vidas, ajudou-nos a construir nossa felicidade”, o que nos leva a dizer que a protagonista — A professor Maluquinha— , nesta história, atinge a perfeição tão almejada por muitos educadores :

→ Apresenta a aula adequada e a postura ideal de uma professora que consegue agradar e ensinar;

→ Tem a habilidade necessária para o ofício do professor: a arte de despertar o interesse e prender a atenção dos alunos, que com muita facilidade absorvem o conteúdo e adquirem o conhecimento;

→ Valoriza a individualidade e a potencialidade de cada um;

→ Propõe situações didáticas nas quais todos podem ser premiados por suas habilidades e competências, demonstrando assim que todos podem brilhar.

→ Tem um olhar mais profundo no processo ensino-aprendizagem ressaltando o incentivo á leitura e o bom relacionamento aluno-professor, que impulsiona a um desafio de comprometimento mútuo.

Em praticamente todo o livro, apresentam-se exemplos de atividades diferenciadas que a professora maluquinha dá para seus alunos, reforçando a sua criatividade e dinamismo e, principalmente, a idéia de que esta é a forma melhor e mais correta de ensinar.

É notório que Ziraldo, mesmo não sendo da área da educação, demonsta, nesta obra, conhecimento pedagógico, e fica explícito que ele vê o educador como um mediador do conhecimento, tanto que a professorinha é mediadora do conhecimento, pois embora não saiba de tudo, com suas aulas dinâmicas lança desafios e auxilia os alunos na busca dos resultados.

Percebe-se que por trás da história o autor aborda o tema do prazer e o incentivo à leitura. Na 4ª capa do livro (2ª edição, março de2010), Ziraldo afirma que estudar é muito importante, mas que já viveu o bastante para afirmar que ler é muito mais importante que estudar.

Ziraldo, nesta obra, chama a atenção para o comprometimento do educador em relação à metodologia e à postura com a realidade educacional, que poderá ser melhorada através de suas ações aliadas ao uso de sua criatividade e força de vontade, porém, o educador deve o tempo todo avaliar a sua própria prática pedagógica, porque muitas vezes, determinados procedimentos dão com uma turma e com outra não, portanto, eles devem ser aperfeiçoados ou até mesmo abolidos.

E se a escola de antigamente educava para a escola e, agora, a escola busca educar para a vida, pode-se dizer que avançamos, mas com alguns equívocos, já que a principal prioridade, que é ensinar a ler, a escrever e a contar, foi esquecida.

Assim, A Professora Muito Maluquinha, é “maluquinha” por que se contrapõe às normas de uma escola tradicional; por que ao mesmo tempo, é a professora e a amiga de seus alunos; por que suas atitudes não são autoritárias e trata seus alunos como pessoas capazes de discernir entre o certo e o errado e, por que de uma forma bastante visionária, demonstra como a escola do futuro deveria ser, o que nos leva a dizer que esta obra é uma crítica à escola convencional, autoritária e distante do aluno.

Entretanto, convém lembrar que essas “realizações” somente serão concretizadas se houver um compromisso do educador e aluno através da comunhão de idéias, do abandono do tradicionalismo e, principalmente, o desejo pelo novo.

“Falta ênfase no ensino básico. As crianças não aprendem a ler, não aprendem a fazer as quatro operações básicas. É preciso haver uma reforma curricular, voltar a dar ênfase nos fundamentos.” — Ziraldo, entrevista para Folha online.

Uma Professora Muito Maluquinha — Ziraldo
Autor: Ziraldo Alvez Pinto
Gênero: Infanto-Juvenil
Editora: Melhoramentos, 1995
Preço: De R$ 22,00 até R$ 35,00
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Tags:

Professora Maluquinha; Ziraldo; Prática Pedagógica; Leitura; Alunos; Escola; Convencional.



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