Os 13 Porquês — Jay Asher

Os 13 Porquês é um livro que fala sobre Hannah Baker, uma adolescente vítima de bullying, em uma escola dos EUA, que se suicida, mas decide, antes disso, gravar em fitas cassete os treze motivos que a levaram a tomar esta decisão.

Primeiro romance de Jay Asher, escritor americano, que teve a idéia de escrevê-lo enquanto visitava um museu e escutava os comentários gravados sobre as obras em um áudio-guia, Os 13 Porquês — Thirteen Reasons Why — é um livro que hipnotiza e faz com que o leitor devore rapidamente as linhas para conhecer o desfecho.

Clay é um adolescente quieto que vive sua vida pacata, até confessar em uma festa para Hannah que sempre foi totalmente apaixonado por ela, ficam juntos por uma única noite — a noite anterior ao suicídio.

Um dia ao voltar da escola, Clay Jensen encontra na porta de casa um misterioso pacote com sete fitas cassete, nas quais estão gravados os 13 motivos pelos quais Hannah tinha se suicidado e estas fitas eram destinadas às 13 pessoas que ela considerava responsáveis por seu suicídio.

Clay era uma das pessoas nas fitas e havia uma regra: Depois de escutar as fitas, passe-as ao nome seguinte ao seu. Tomado por espanto, angústia e muito medo, Clay permanece escutando as gravações madrugada afora.

Anda pela cidade com seu Walkman ouvindo as fitas enquanto visita cada um dos locais que ela menciona na gravação na tentativa de entender seus motivos e o que ele descobre, muda sua vida para sempre…

… Não vou dizer qual fita tem a ver com sua participação na história.
Mas, não precisa ter medo.
Se você recebeu essa caixinha bonitinha, seu nome vai aparecer...Eu prometo
Afinal, uma garota morta não mentiria.
Espera aí! Isso está parecendo uma piada.
Por que uma garota morta não mentiria?
Resposta:
porque ela não pode mais falar!
Será que é um bilhete de suicídio às avessas?
Vai, pode rir.
Tudo bem. Eu achei engraçado
Antes de Hannah morrer, ela gravou este monte de fitas.
Mas por quê? As regras
são bem simples. São só duas.
Número um: você escuta. Numero dois: você repassa.
Espero que nenhuma delas seja fácil para você …


O autor usa a fórmula do suspense para levar o leitor a querer descobrir quais pessoas estão nas fitas e por quê e, principalmente, qual era a relação de Clay com Hannah. A fita dele, com certeza, é a mais esperada do livro todo.

A capa e a partes internas do livro tem tudo a ver com a história, desde a fita até o mapa que Hannah menciona nas gravações. Cada capítulo é um número. Fita 1: Lado A e assim por diante.

Hannah conta sua história, ao mesmo tempo em que é registrado os atos e pensamentos de Clay, frases intercaladas umas nas outras. Os símbolos de pause, play e stop nos dizem quando Clay apertou os respectivos botões e quando a narrativa é somente dele.

A história de Hannah vai lentamente se desenrolando e algumas coisas tornam-se difíceis de ler, principalmente, pelo leitor que vive ou já passou por situações parecidas com as que ela vivenciou e que a levaram a tomar sua decisão.

O leitor é de tal forma envolvido que sofre por Hannah e por seus motivos e também passa a calçar o sapato das outras 13 pessoas que ouviram a fita e a partir daí começaram a se sentir responsáveis pela morte de Hannah.

Há sempre uma lembrança de piadas de escola, brincadeiras estúpidas e quando é Hannah que fala sobre isso — e não Clay em pensamentos — a coisa acaba se tornando mais interessante, pois ela tem uma perspectiva de quem analisou tudo e já sabe que decisão tomar.

Possivelmente o leitor se perguntará durante a história onde está a família de Hannah, pois os pais de Hannah são notavelmente ausentes, mas ela camufla isso dizendo que eles estavam trabalhando o tempo todo, assim como há milhares de pais por este mundo afora na mesma situação.

Certamente, o leitor também se questionará o “porquê” de Hannah pensar que a morte resolveria seus problemas, quando a maioria dos adolescentes com ajuda conseguem sair dessa fase com vida?

A adolescência é um período complicado e os adolescentes não possuem a perspectiva que os adultos têm para lidar com certas questões e, por outro lado, as fraquezas nessa fase são inúmeras, levando-os a tentar métodos nada convencionais de fazer a dor parar.

O livro também mostra como as pessoas têm efeito na vida umas das outras. Você pode dizer algo totalmente aleatório para alguém, e esse alguém ver um significado nisso. Muitas vezes, apenas uma palavra amável, uma nota encorajadora, um ouvido atento podem fazer a diferença no dia de alguém, na vida de alguém, ou pode ignorá-la, como muitos fazem, e deixar que ela se afunde.

Isto não significa que somos responsáveis pelas ações — como suicídio— dos outros, mas temos a capacidade de colocar uma pessoa para cima ou derrubá-la num piscar de olhos.

O livro é um aviso que mostra como pequenas coisas podem formar uma teia gigante,ou, como Hannah dizia, uma bola de neve, que começa com algo sem muita importância e acaba ganhando velocidade.

O que começou a bola de neve de Hannah? Um boato que circulava pela escola e que lhe gerou insegurança, decepção, sofrimento e humilhação. Ou vítima de xingamentos, agressão física, emocional, perde a sua própria privacidade, sua felicidade, e a cada dia perde um pouco do que ela mais preza: seus amigos — os quais ela nunca verdadeiramente teve.

O final da história é um misto de alívio e tristeza, pois, afinal, Hannah não vai aparecer dizendo que tudo foi uma brincadeira e que ela não se matou.

O livro de Jay Asher aborda um tema muito polêmico nos Estados Unidos: O bullying e suas consequências que infelizmente continua crescendo e levando as vítimas ao suícidio por bullying.

Poder-se-ia dizer que Os Treze Porquês seria um bom livro para ser adotado nas escolas, pois possibilita discussões sobre temas como bullying, amizade e suicídio e, vale a pena citar que as situações descritas no livro e o comportamento do jovem foram baseadas em histórias de pessoas próximas e até do próprio autor e que poderiam acontecer a qualquer um.

Leia este livro — não importa sua idade — e se você tem um adolescente nas suas proximidades, presenteio-o com este livro!

Os 13 Porquês
Autor: Jay Asher
Editora: Ática
Preço: De R$ 29,68 até R$ 35,50
Livros Pra Ler e Reler

Tags: Treze, Porquês, Suicídio, Bullying, adolescente, Livro, Escola

O Homem que Calculava — Malba Tahan

O Homem que Calculava escrito pelo brasileiro Malba Tahan — heterônimo do professor Júlio César de Mello e Souza, carioca e engenheiro civil — narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir, personagem central de eventos que se desenrolaram na Bagdá do século XIII, cujas peripécias se tornaram lendárias e encantaram reis, poetas, xeques e sábios.

Sucesso de vendas no Brasil, foi publicado pela primeira vez em 1939 e reeditado várias vezes - já chegou a sua 75ª edição. Lido por várias gerações, o livro, foi também traduzido para o espanhol, o inglês, o italiano, o alemão, o francês e o catalão.

Sob a forma de romance o livro apresenta alguns problemas dentro da paisagem do mundo islâmico medieval, resolve e explica diversos problemas, quebra-cabeças e a história da matemática e, inclui, ainda, lendas e histórias pitorescas, como, por exemplo, a lenda da origem do jogo de xadrez e a história da filósofa e matemática Hipátia de Alexandria e, ao longo de sua obra, o autor, por ser um grande estudioso da cultura islã, faz sempre referências à essa cultura no livro, dando uma real impressão de que tudo ocorreu mesmo entre beduínos do deserto, xeques, vizires, magos, princesas e sultões.

O Homem que Calculava nasceu em uma pequena aldeia de Khói, na Pérsia, onde muito jovem, pastoreava um grande rebanho de ovelhas e ao recolhê-las ao abrigo, no final do dia, contava-as várias vezes com receio de ser castigado por negligência.

Aos poucos, foi desenvolvendo sua habilidade para contar, tanto que num relance calculava sem errar o rebanho inteiro e, assim, começou a exercitar contando pássaros, formigas, pequenos insetos, folhas de árvores, chegando à proeza de contar todas as abelhas de um enxame. Após trabalhar durante anos, usando seus dons matemáticos, como responsável pelas plantações e as vendas dos frutos, seu patrão lhe deu férias por quatro meses.

Beremiz decidiu partir para a cidade de Bagdá e a caminho, durante uma de suas paradas para exercitar seus cálculos, conhece Hank Tade-Maiá — narrador da história — um bagdali que voltava, em seu camelo, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens do Tigre.

Samir conta-lhe sua história e Hank impressionado com suas grandes habilidades matemáticas, convenceu-o de que esta habilidade poderia proporcionar, a qualquer pessoa, um meio seguro de ganhar riquezas invejáveis na capital ou mesmo Bagdá, e, assim, o jovem Beremiz Samir, decidiu acompanhar Hank até Bagdá e sem mais preâmbulos, acomodou-se como pode em cima do único camelo que possuiam rumo à gloriosa cidade e, a partir deste encontro casual, tornaram-se companheiros e amigos inseparáveis.

Durante a viagem pelo deserto Beremiz ia se exercitando contando pássaros, galhos e folhas das árvores e quando deparava com diferentes problemas ou conflitos matemáticos vivenciados pelos viajantes que cruzavam e que aparentemente sem solução, Beremiz, com sua grande capacidade de raciocínio lógico os resolve de forma simples e transparente, explicando aos seus observadores como chegou a tais conclusões, e, em algumas situações, recebe alguma recompensa, porém, em outras, se livra de situações complicadas e potencialmente perigosas.

Uma das histórias narradas no livro é A Aventura dos 35 camelos — hoje muito conhecida — no qual Beremiz consegue resolver o caso dos camelos que deveriam ser divididos entre três irmãos de acordo com a vontade do pai. O mais velho deveria receber a metade, o do meio uma terça parte e o mais novo ficaria com a nona parte.

Acrescentando um camelo — o camelo do amigo — aos 35 da herança, Beremiz consegue dividir os camelos entre os três irmãos de modo que o mais velho ficou com 18, o do meio ficou com 12 e o mais novo com 4 dando a soma da herança 34 camelos. Sobraram 2 camelos — o camelo do amigo e mais 1 que ele saiu lucrando pela resolução da questão.

Destacamos ainda um outro problema interessante, como O Caso dos 21 vasos que deveriam ser divididos entre três sócios:
Como pagamento de pequeno lote de carneiros, receberam em Bagdá, uma partida de vinho, muito fino, composta de 21 vasos iguais, sendo: 7 cheios; 7 meio-cheios e 7 vazios.

Eles queriam dividir os 21 vasos de modo que cada um deles recebesse o mesmo número de vasos e a mesma porção de vinho. Repartir os vasos era fácil, cada um dos sócios ficaria com sete vasos, a dificuldade estava em repartir o vinho sem abrir os vasos, conservando-os exatamente como estavam.

Beremiz indicou a solução que parecia bem simples :
→ Ao primeiro caberão 3 vasos cheios, 1 meio-cheio e 3 vazios;
→ Ao segundo sócio caberão: 2 vasos cheios, 3 meio-cheios e 2 vazios;
→ Ao terceiro sócio a cota será igual à do segundo, isto é 2 vasos cheios; 3 meio-cheios; 2 vazios.
Cada sócio então recebeu a mesma quantidade de vasos e a mesma porção de vinho.

Vale a pena ressaltar ainda O Problema dos Quatro que consiste em formar expressões aritméticas utilizando apenas quatro algarismos 4, equivalentes, cada um, aos números inteiros.

Segundo o autor, é possível formar todos os números inteiros entre 0 e 100, utilizando, além dos números, quaisquer sinais e operações matemáticas, sem envolver letras ou inventar funções apenas para resolver o problema. Entusiastas têm resolvido o problema para mesmo além dos 10.000 primeiros inteiros.

→ 44-44 = 0
→ 44/44 = 1
→ 4/4+4/4 = 2
→ 4x4=16+4=20/4=5
→ 44/4=11-4=7
→ 4+4+4=12-4=8
→ 4+4=8+4/4= 9
→ 44-4/4=10

Quer saber mais sobre a resolução deste problema e outros… não deixe para amanhã o que pode fazer hoje, portanto, mate sua curiosidade e comece a ler O Homem que Calculava, hoje!

Em Bagdá, Beremiz rapidamente tornou-se famoso e muito requisitado tanto por pessoas comuns quanto por nobres, despertou a simpatia de uns e a inveja de outros. Empregou-se como secretário do Grão-vizir Ibrahim Maluf, enquanto que Tade-Maiá assumiu como escriba deste mesmo ministro. Beremiz aceitou também a tarefa de ensinar matemática à filha do poeta Iezid, travando conhecimento com Telassim, sua futura esposa.

Califa ouvia falar de Beremiz e concedeu-lhe uma audiência na qual ficou encantado com a argúcia do calculista e, visando testar definitivamente a capacidade de Beremiz, prepara uma audiência onde o calculista seria argüido por sete sábios.

Tendo respondido brilhantemente todas as provas, Beremiz, como recompensa, pede em casamento a mão de Telassim, por quem havia se apaixonado e, o rei, após conferência com o xeique Iezid aceita que Beremiz se case com Telassim, desde que este resolva um problema criado por um dervixe — religioso mulçumano— do Cairo que consistia na seguinte questão:

O rei possuía cinco escravas, duas tinham os olhos negros e as três restantes tinham os olhos azuis. As duas escravas de olhos negros, quando interrogadas, diziam sempre a verdade, enquanto as de olhos azuis sempre mentiam.

Beremiz poderia interrogar três das escravas, que estariam com o rosto totalmente coberto, mas poderia fazer apenas uma única pergunta a cada uma delas, para então descobrir a cor dos olhos de cada escrava.

Samir usando de astúcia e lógica, pergunta à primeira escrava de que cor eram os olhos dela, mas esta responde em um dialeto desconhecido e Beremiz perde a resposta da primeira escrava.

Sem se abalar, o calculista seguiu para a segunda escrava e perguntou qual foi a resposta que a primeira escrava tinha proferido. A segunda escrava declara que resposta foi: Os meus olhos são azuis.

À terceira escrava o calculista pergunta qual era a cor dos olhos das duas primeiras. Ela responde que a primeira tinha olhos negros e a segunda tinha olhos azuis.

Assim o calculista descobriu a cor dos olhos das cinco escravas: a primeira tinha os olhos negros, a segunda tinha os olhos azuis, a terceira tinha os olhos negros e as duas últimas tinham os olhos azuis.

Como Beremiz chegou a esta conclusão?
Esta e outras respostas você encontrará em O Homem que Calculava que é um prato cheio para os aficcionados dos algarismos e jogos matemáticos que certamente se deleitarão, em cada capítulo, de como Bereniz Samir resolvia problemas aparentemente sem solução, utilizando apenas sua habilidade em trabalhar com os números com a facilidade de um ilusionista.

O Homem que Calculava carrega o leitor, não só pelos elementos criativos na trama, mas, principalmente, pela força, malabarismo mental e sabedoria do personagem Malba Tahan para encontrar soluções em situações cotidianas para diferentes pessoas: do mais simples mercador a reis, teólogo, cientista, historiador, poeta..., e, paralelamente, também dar informações sobre Geografia, História e cultura oriental, Filosofia, Arte, Língua Portuguesa e pensamentos de filósofos que são adicionados ao texto no sentido de conduzir o leitor à busca da sabedoria e a uma maior compreensão da própria vida.

O livro inclui diversos apêndices como glossário de árabe, frases de filósofos e cientistas elogiando a matemática, informações sobre calculistas famosos, um artigo sobre os árabes na matemática, a dedicatória que tem importante significado histórico e cultural e a resolução explicada de cada problema matemático. Todos os problemas encontrados, são de resolução não-mecânica, sem fórmulas, obrigando ao leitor a pensar sobre o problema para resolvê-lo.

Pode-se dizer que o uso da Matemática nos possibilita desenvolver e/ou adquirir o hábito de raciocinar e, uma vez aprendido, pode ser empregado na pesquisa da verdade e assim facilitar nosso dia-a-dia. Na verdade, a Matemática é imprescindível e está dentro e em volta de todos nós e em tudo o que acontece em nosso planeta.

Todos nós — consciente ou inconscientemente — aplicamos os princípios básicos da matemática em nossas vidas, seja na escola, no lar, no trabalho, nas pesquisas, no cultivo, na natureza, nas pequenas coisas de nosso dia desde um simples diálogo até defendendo uma tese e, caso você não se lembre, o número 1 foi um dos nossos primeiros contatos com a matemática, lembra!
— Quantos aninhos você tem? E você matematicamente respondia com orgulho — mostrando um dedinho — um!

Quer mais? Seus primeiros passos! Seu primeiro Não! Seu primeiro dentinho! Contar de 1 ao 10! Decorar sua primeira tabuada! Sua primeira declaraçao de amor! Seu primeiro beijo! Sua primeira equação! Seu primeiro pedido: Primeira estrela que vejo atende meu desejo ... enfim, teve um monte de primeiros, segundos, terceiros, vigésimos... que continuarão existindo e você os contará quantas vezes forem necessários, pois como dizia Beremiz Samir: Conto os versos de um poema, calculo a altura de uma estrela, avalio o número de franjas, meço a área de um país, ou a força de uma torrente ... enfim, a Matemática existe, por toda a parte, porém, é preciso olhos para vê-la, inteligência para compreendê-la e alma para admirá-la…

O homem que calculava é um livro recheado de informações, histórias e curiosidades sobre a matemática e vale a pena ser lido e relido por todos, sem exceção, sejam profissionais, comerciantes, estudantes, donas de casa, para quem trabalha em comércio, ou seja, para todos nós.

É uma história onde o fascínio dos números é desvendado e a tentativa do leitor de solucionar cada problema é inevitável, portanto imperdível para todos aqueles que buscam conhecer um pouco mais da história da matemática e querem enxergar as coisas de forma mais precisa e objetiva e, de quebra, entender um pouco mais dos hábitos e costumes dos árabes.


A Matemática apresenta invenções tão sutis que poderão servir não só para satisfazer os curiosos como, também para auxiliar as artes e poupar trabalho aos homens. — Descartes


Conheça um pouco mais sobre Malba Tahan

Malba Tahan é o pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza, carioca, professor, educador, pedagogo, engenheiro civil, escritor e conferencista brasileiro nascido em 1895, na cidade do Rio de Janeiro e que passou sua infância em Queluz, no interior de SP.

Exímio contador de histórias, aos 9 anos de idade, já editava uma revista, feita manualmente e distribuída entre os amigos e colegas de escola e, mais tarde, passou a vender redações para os alunos de um exigente professor de literatura.

Contra a vontade da família, que queria vê-lo envergando a farda militar, Júlio César se formou em Engenharia Civil— profissão que nunca chegou a exercer— e tornou-se professor de História, Geografia e Física antes de, finalmente, chegar à Matemática, matéria pela qual se apaixonou e que mudou radicalmente a sua vida.

A idéia de criar um pseudônimo nasceu quando o escritor tinha 23 anos e era colaborador de um jornal carioca onde entregou alguns de seus contos ao editor, porém, ao perceber que jamais os publicariam, retirou-os para depois reapresentá-los — assinados por Slade, um fictício escritor Americano — dizendo ao editor que tinha acabado de traduzi-los por que estavam fazendo sucesso em Nova York. No dia seguinte o primeiro conto foi publicado na primeira página e, posteriormente, os outros tiveram o mesmo destaque, e, assim, nascia Malba Tahan , um autor que, durante décadas, milhões de leitores julgavam ser árabe.

Publicou ao longo de sua vida cerca de 120 livros sobre Matemática Recreativa, Didática da Matemática, História da Matemática e Literatura infanto-juvenil, atingindo tiragem de mais de 2 milhões de exemplares.

Sua obra mais popular, O Homem que Calculava — 75 edições — foi premiada pela Academia Brasileira de Letras, em sua 25ª edição, em 1972. Sua importância na história da literatura e da educação brasileira é incontestável tendo sido lido, aclamado e reconhecido por gerações inteiras durante os últimos 70 anos. Em 1952, o presidente da República publicou um decreto oficial que permitiu ao cidadão Júlio César de Mello e Souza o uso legal do pseudônimo Malba Tahan.

Júlio César criou para esse personagem-pseudônimo — Malba Tahan — uma biografia fictícia, segundo a qual teria nascido em 1885 na aldeia de Muzalit, Península Arábica, perto da cidade de Meca, um dos lugares santos da religião muçulmana, o islamismo. Foi prefeito da cidade árabe de El-Medina, estudou no Cairo e em Constantinopla e, aos 27 anos, recebeu uma grande herança do pai, iniciando uma longa viagem pelo Japão, Rússia, Índia e teria morrido, em 1921, lutando pela libertação de uma tribo na Arábia Central.

Para sustentar a sua criação, estudou profundamente o Alcorão, a língua, os costumes e as tradições árabes, em especial a milenar tradição dos contadores de histórias, e se valia de gravuras, mapas e fotografias para localizar e descrever as suas ambientações e, o fez com tal perfeição que durante décadas jamais se suspeitou que as fantásticas histórias de Malba Tahan eram escritas por um humilde professor brasileiro que jamais colocara os pés num país árabe.

Como professor de matemática, Malba Tahan era um inconformado com os métodos de ensino da época, que considerava ultrapassados. Começou, então, a desenvolver as suas aulas através de jogos, desafios, brincadeiras e... histórias. Por isso, é considerado um precursor dos métodos de ensino lúdico-didáticos e da popularização da matemática.

Professor Emérito da Faculdade Nacional de Arquitetura, do Instituto de Educação do Distrito Federal, docente por concurso do Colégio D. Pedro II, catedrático na escola Nacional de Belas Artes e catedrático no Instituto de Educação do RJ — ex Escola Normal do RJ, Julio César de Mello e Souza morreu na cidade do Recife, aos 79 anos — 17/05/1974 — após uma conferência sobre a arte de contar histórias.


O Homem que Calculava
Autor: Malba Tahan
Editora: Record
Gênero: Romance
Assunto:Literatura Juvenil
Preço: De R$ 20,90 até R$ 34,90
Livros Pra Ler e Reler